quinta-feira, 4 de julho de 2019

'Revolução Laura' deve ser lido todo mês!




Refeição Cultural

"E essa dor é tão grande que não tem nome. Quando morre marido a gente fica viúva, quando morre mãe e pai a gente fica órfã. Quando morre filho não tem nome. Porque não devia existir." (Reflexão de Manuela quando encontrou a mãe de Marielle Franco, após o enterro dela)


Adquirimos o livro de Manuela D'Ávila dias atrás. Em tese, minha companheira iria lê-lo primeiro. Que nada! Assim que chegou o livro, já o abri e comecei a folheá-lo. E fui indo na leitura. Peguei um voo e fui lendo. Enfim, devorei o livro rapidamente. Manuela nos relata o dia a dia dela e de Laura na campanha eleitoral brasileira entre os anos de 2017, como pré-candidata a presidência da república, e 2018, como candidata a vice-presidenta na chapa com Fernando Haddad.

Pensei muito a respeito de tudo que Manuela nos confidencia. Que mundo duro! Quanto caminho pela frente para se mudar a realidade das mulheres, das mulheres pobres, das mulheres negras! Quanto caminho pela frente para se mudar a mentalidade dos homens! E por incrível que pareça, Manuela nos transmite perseverança, nos oferece luta e não pusilanimidade. Fazer o que tem que ser feito! Chama a atenção ela nos dizer que é uma privilegiada, mesmo sofrendo tudo que sofreu e sofre. Leiam o livro e entendam o porquê.

Olhando para trás, acho que a maior e melhor mudança pessoal que pude experimentar ao ter a oportunidade de conviver com o movimento social organizado, sobretudo o movimento sindical, após os vinte e poucos anos de idade, foi me tornar menos ignorante nas temáticas tão sérias das lutas pela igualdade de gênero, raça, orientação sexual, e outras lutas de grupos sociais marginalizados.

A leitura do relato de Manuela D'Ávila sobre as experiências vividas por ela e sua filha Laura e por sua família ao tomar decisões firmes e fora do quadrado do mundo machista em que estamos nos faz refletir muito. Muito mesmo!

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Preconceito gera discriminação;
Discriminação gera falta de oportunidade;
Falta de oportunidade gera desigualdade social.
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Eu me lembrei das andanças que tive por anos com a companheira de lutas sindicais Deise Recoaro, uma mulher branca como Manuela, que abraça as causas de negros e negras, das temáticas LGBTI+, e vi o quanto nós homens somos ignorantes e privilegiados pelo sistema de exploração social. Nos debates, Deise sempre nos dizia que mesmo quando tentávamos nos imaginar na condição do outro, isso não alivia a nossa condição de privilégio por ser branco, por ser homem, por ser hetero etc. É a pura verdade!

Durante os cursos de formação política e sindical, durante os seminários e palestras do movimento dos trabalhadores, pude ir percebendo o quanto a condição de homem branco nos facilita os caminhos a percorrer na existência. Mesmo que sejamos pobres, pobres brancos entre os pobres negros pelos subempregos que vivemos. Mesmo sendo todos miseráveis, na hora da escolha para a vaga no subemprego, tem prioridade homem e não mulher, branco e não negro ou mestiço e assim por diante.

A partir do livro com os relatos de Manuela, muito focado nas coisas que deveriam ser comuns no dia a dia de uma mãe trabalhadora e filha pequena, pude exercitar a humildade. Achei que já era sabedor dos conceitos e concepções que envolvem a árdua luta das mulheres pelo direito a ocupar todos os espaços sociais e pelo direito ao tratamento igual entre as pessoas. Ledo engano! Se achamos comum ou não percebemos o que se fazem com as mulheres, com as mulheres mães, então temos nossa culpa nisso.

Percebi que ainda somos machistas, sexistas, somos preconceituosos até o osso. Tod@s nós, homens e mulheres, sim, mulheres inclusive, somos fisgados como peixes pelas ideias do preconceito e da discriminação contra o outro, a outra. Ainda mais num momento em que a onda é a pregação da morte a alteridade!

Terei, talvez teremos tod@s nós, que abrir o livro de Laura e Manuela a cada mês do ano para lembrarmos das coisas esquecidas em nossos comportamentos machistas e acertarmos a rota do caminho que caminhamos, que é lutar por um mundo mais justo, igualitário, livre, mais tolerante, baseado no amor e não no ódio, na solidariedade e não no cada um por si (e todos que se lasquem no fim).

Amig@s, leiamos a 'Revolução Laura', e com essa atitude, além de percebermos onde está o machismo e o sexismo de cada um de nós, ainda ajudamos a fundação "E se fosse você" um espaço para se pensar e combater a tragédia dos nossos tempos, as fake news, a destruição do ser humano e da sociabilidade através das mentiras como formas de manipulação do comportamento das pessoas.

Abraços, William

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