Pessoas queridas e companheiras que contribuíram para a formação do cidadão bancário William. As soluções coletivas seguem sendo o caminho a trilhar. Foto: 02/6/14*. |
Refeição Cultural
"Pois leia os clássicos, amigo, porque tudo isto vai demorar e a vida continua. Nós fundamos o PT em 1980 e levamos quase 40 anos para preparar o país para um futuro melhor com justa distribuição das riquezas e vida digna para todos. Agora o desmonte está levando ao brutal retrocesso; não será em semanas ou meses que a população irá acordar desse delírio ultra direitista. Caberá às novas gerações a vanguarda da resistência e retomada do poder. Nós devemos contribuir, mas a maior resistência agora é nos mantermos vivos. E com alguma alegria. A arte, a literatura nos ajudarão. Beijos" (Deise Lessa, numa postagem-poesia em que falo sobre busca de sentidos e na não leitura de clássicos que gostaria de ler)
Ando pensando muito nessa mensagem carinhosa que recebi da amiga e companheira Deise Lessa, pessoa que considero muito e que me levou para o movimento sindical no final dos anos noventa e começo dos anos dois mil, quando nos conhecemos no trabalho de base que ela fazia como diretora do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região. Eu era um bancário do Banco do Brasil da agência Rua Clélia, na região da Lapa, tinha poucos anos de banco e o trabalho sindical da dirigente Deise foi decisivo para o futuro do trabalhador William.
Tem uma frase marcante em um dos livros mais fantásticos de Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, que diz o seguinte: "O menino é pai do homem". O defunto autor, em suas reminiscências pós-morte, relata aos leitores que o sujeito que foi em vida teve influência direta da criação e "educação" que recebeu no ambiente familiar. Enfim, da frase de Machado quero destacar a importância do exemplo e da prática das ações como referência para a formação de nossos semelhantes.
"O menino é pai do homem" - quando Deise Lessa me convidou para compor a chapa das eleições do Sindicato, para iniciar o processo complexo de escolhas para a montagem de uma chapa, a referência que eu tinha sobre o que significava o sindicalismo era muito influenciada pela prática da dirigente Deise, pois eu não era do movimento organizado. Eu tinha participado de movimentos estudantis e das lutas dos bancários quando fui trabalhador do Unibanco por dois anos, mas não era orgânico ao movimento.
"O menino é pai do homem" - quem visitava na minha região os locais de trabalho com frequência era ela; quem recebia minhas queixas, quem aturava minhas reclamações, quem ouvia minhas sugestões, quem fazia os debates frequentes comigo era ela. Quem me levava a pensar sobre as questões coletivas e me fazia sair do foco individualista e visão egoísta de mundo era a dirigente Deise. Isso não mudou quando fui eleito pelos bancários e passamos a atuar juntos na diretoria do Sindicato.
"O menino é pai do homem" - no convívio com os dirigentes sindicais eu me transformei completamente, virei um ser humano mais tolerante e mais humilde do que era antes, principalmente pelo convívio diário com os companheir@s do coletivo do Banco do Brasil no Sindicato, pois éramos poucos e as frentes de lutas eram muitas e sem unidade, disciplina e solidariedade não teríamos feito uma organização de base boa e com capacidade de luta, como acredito que fizemos. Conquistamos juntos coisas boas para os trabalhadores e para o país.
"O menino é pai do homem" - aprendi no dia a dia do coletivo de diretores do Banco do Brasil no Sindicato que era fundamental fazer trabalho de base, pois só assim seríamos referência dos trabalhadores, ouviríamos além das demandas, o que eles estavam discutindo, pensando e o que ouviam de nós do movimento. Estando sempre na base, era possível desfazer as ilações que faziam contra a representação dos trabalhadores. Hoje chamam isso de fake news.
"O menino é pai do homem" - certa vez, critiquei uma proposta da diretoria executiva do Sindicato em uma reunião do conjunto da direção. A Deise era da executiva e ao conversarmos ela me explicou a dificuldade que havia sido construir a proposta que foi para a reunião da direção. Ela me perguntou qual era a minha proposta, já que eu havia criticado a do coletivo que pensou uma proposta. Eu não tinha. A companheira me disse que quando criticasse uma proposta de alguém, era bom que o fizesse com argumentos e que tivesse contraproposta estudada e desenvolvida. Isso me fez passar a ser um estudioso das questões que deveria debater e defender como dirigente dos trabalhadores.
"O menino é pai do homem" - e assim, a partir do exemplo e da prática de bons companheiros e companheiras de lutas no movimento sindical, eu me formei politicamente e fui me esforçando para ser um representante da classe trabalhadora da melhor forma que pude, com dedicação e esforço, com o olhar nos princípios e nunca esquecendo quem eu era, o que eu representava e onde queria chegar junto com a categoria que representava. Nunca deixei de fazer base, isso carrego na minha história durante os 17 anos que estive em algum mandato, inclusive quando fui gestor da autogestão em saúde Cassi, pois dificilmente na história da entidade algum gestor fará o trabalho de base que fiz em 4 anos, com 170 agendas nas bases do país (ler aqui).
Caberá às novas gerações a vanguarda da resistência e retomada do poder
Entendo que essa reflexão da companheira Deise é verdadeira. As lutas que fizemos nas últimas décadas, os acertos e erros que cometemos na organização do movimento, as conquistas que vieram e que estão sob forte ameaça ou sendo retiradas nesse momento terrível podem servir de experiência para a reaglutinação da classe trabalhadora, principalmente dos setores mais organizados como é o movimento sindical bancário.
Quando penso no que posso contribuir com os trabalhadores da ativa e aposentados do Banco do Brasil e com o movimento sindical e suas entidades representativas, penso que podemos compartilhar o que aprendemos fazendo movimento de forma disciplinada, honesta, solidária e combativa, e sempre com referência na base social e nas boas práticas sindicais.
Nesta semana, terei a oportunidade de falar com meus pares da comunidade Banco do Brasil, tanto os colegas aposentados como o pessoal da ativa. Depois de tanto tempo falando aos colegas como dirigente, não é simples escolher a melhor forma de contribuir como alguém de fora dos espaços de decisão. É um aprendizado. O desejo é conclamar a unidade na luta, a superação de diferenças em favor das prioridades e dizer que acredito ser possível resistir e avançar.
É isso! Eu me fiz cidadão consciente a partir do convívio com o movimento sindical, com o movimento dos trabalhadores organizados. A construção de consciência política e engajamento nas causas coletivas se dá a partir da participação e a criação de pertencimento a alguma coisa é possível quando fazemos as pessoas verem o que elas são e o que pertence a elas através de lutas coletivas históricas como, por exemplo, nas lutas por direitos em saúde, previdência e direitos trabalhistas.
Quanto ao sábio conselho de Deise para eu ler os clássicos da literatura mundial que gostaria de ler, está difícil, porque teimo em por outras prioridades à frente. Paciência! Quem sabe daqui uns dias ou semanas eu consiga ter cabeça para leituras mais amenas.
William Mendes
* A foto foi tirada (postada, na verdade) pelo companheiro Carlos Eduardo, na posse do mandato eletivo na autogestão em saúde dos funcionários do Banco do Brasil (outras pessoas queridas estiveram presentes, mas não estão nesta foto). Em pé, a partir da esquerda: Rita Mota, Sandra Trajano, Eduardo Araújo, Jorlando Silva (em memória), Mirian Fochi, Plínio Pavão, Dirce Mendes (minha mãe), eu, Gercir Palmério (meu pai), Coelho, Deise Lessa, Luciana, Eduardo Marinho, Rodrigo Britto, Sérgio Braga, Rafael Matos. Agachados, a partir da esquerda: Miguel Pereira, Cláudio Gerstner, Carlos Eduardo (Cadu), Jacy Afonso, Serginho e Alessandro (Vovô).
Tem uma frase marcante em um dos livros mais fantásticos de Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, que diz o seguinte: "O menino é pai do homem". O defunto autor, em suas reminiscências pós-morte, relata aos leitores que o sujeito que foi em vida teve influência direta da criação e "educação" que recebeu no ambiente familiar. Enfim, da frase de Machado quero destacar a importância do exemplo e da prática das ações como referência para a formação de nossos semelhantes.
"O menino é pai do homem" - quando Deise Lessa me convidou para compor a chapa das eleições do Sindicato, para iniciar o processo complexo de escolhas para a montagem de uma chapa, a referência que eu tinha sobre o que significava o sindicalismo era muito influenciada pela prática da dirigente Deise, pois eu não era do movimento organizado. Eu tinha participado de movimentos estudantis e das lutas dos bancários quando fui trabalhador do Unibanco por dois anos, mas não era orgânico ao movimento.
"O menino é pai do homem" - quem visitava na minha região os locais de trabalho com frequência era ela; quem recebia minhas queixas, quem aturava minhas reclamações, quem ouvia minhas sugestões, quem fazia os debates frequentes comigo era ela. Quem me levava a pensar sobre as questões coletivas e me fazia sair do foco individualista e visão egoísta de mundo era a dirigente Deise. Isso não mudou quando fui eleito pelos bancários e passamos a atuar juntos na diretoria do Sindicato.
"O menino é pai do homem" - no convívio com os dirigentes sindicais eu me transformei completamente, virei um ser humano mais tolerante e mais humilde do que era antes, principalmente pelo convívio diário com os companheir@s do coletivo do Banco do Brasil no Sindicato, pois éramos poucos e as frentes de lutas eram muitas e sem unidade, disciplina e solidariedade não teríamos feito uma organização de base boa e com capacidade de luta, como acredito que fizemos. Conquistamos juntos coisas boas para os trabalhadores e para o país.
"O menino é pai do homem" - aprendi no dia a dia do coletivo de diretores do Banco do Brasil no Sindicato que era fundamental fazer trabalho de base, pois só assim seríamos referência dos trabalhadores, ouviríamos além das demandas, o que eles estavam discutindo, pensando e o que ouviam de nós do movimento. Estando sempre na base, era possível desfazer as ilações que faziam contra a representação dos trabalhadores. Hoje chamam isso de fake news.
"O menino é pai do homem" - certa vez, critiquei uma proposta da diretoria executiva do Sindicato em uma reunião do conjunto da direção. A Deise era da executiva e ao conversarmos ela me explicou a dificuldade que havia sido construir a proposta que foi para a reunião da direção. Ela me perguntou qual era a minha proposta, já que eu havia criticado a do coletivo que pensou uma proposta. Eu não tinha. A companheira me disse que quando criticasse uma proposta de alguém, era bom que o fizesse com argumentos e que tivesse contraproposta estudada e desenvolvida. Isso me fez passar a ser um estudioso das questões que deveria debater e defender como dirigente dos trabalhadores.
"O menino é pai do homem" - e assim, a partir do exemplo e da prática de bons companheiros e companheiras de lutas no movimento sindical, eu me formei politicamente e fui me esforçando para ser um representante da classe trabalhadora da melhor forma que pude, com dedicação e esforço, com o olhar nos princípios e nunca esquecendo quem eu era, o que eu representava e onde queria chegar junto com a categoria que representava. Nunca deixei de fazer base, isso carrego na minha história durante os 17 anos que estive em algum mandato, inclusive quando fui gestor da autogestão em saúde Cassi, pois dificilmente na história da entidade algum gestor fará o trabalho de base que fiz em 4 anos, com 170 agendas nas bases do país (ler aqui).
Caberá às novas gerações a vanguarda da resistência e retomada do poder
Entendo que essa reflexão da companheira Deise é verdadeira. As lutas que fizemos nas últimas décadas, os acertos e erros que cometemos na organização do movimento, as conquistas que vieram e que estão sob forte ameaça ou sendo retiradas nesse momento terrível podem servir de experiência para a reaglutinação da classe trabalhadora, principalmente dos setores mais organizados como é o movimento sindical bancário.
Quando penso no que posso contribuir com os trabalhadores da ativa e aposentados do Banco do Brasil e com o movimento sindical e suas entidades representativas, penso que podemos compartilhar o que aprendemos fazendo movimento de forma disciplinada, honesta, solidária e combativa, e sempre com referência na base social e nas boas práticas sindicais.
Nesta semana, terei a oportunidade de falar com meus pares da comunidade Banco do Brasil, tanto os colegas aposentados como o pessoal da ativa. Depois de tanto tempo falando aos colegas como dirigente, não é simples escolher a melhor forma de contribuir como alguém de fora dos espaços de decisão. É um aprendizado. O desejo é conclamar a unidade na luta, a superação de diferenças em favor das prioridades e dizer que acredito ser possível resistir e avançar.
É isso! Eu me fiz cidadão consciente a partir do convívio com o movimento sindical, com o movimento dos trabalhadores organizados. A construção de consciência política e engajamento nas causas coletivas se dá a partir da participação e a criação de pertencimento a alguma coisa é possível quando fazemos as pessoas verem o que elas são e o que pertence a elas através de lutas coletivas históricas como, por exemplo, nas lutas por direitos em saúde, previdência e direitos trabalhistas.
Quanto ao sábio conselho de Deise para eu ler os clássicos da literatura mundial que gostaria de ler, está difícil, porque teimo em por outras prioridades à frente. Paciência! Quem sabe daqui uns dias ou semanas eu consiga ter cabeça para leituras mais amenas.
William Mendes
* A foto foi tirada (postada, na verdade) pelo companheiro Carlos Eduardo, na posse do mandato eletivo na autogestão em saúde dos funcionários do Banco do Brasil (outras pessoas queridas estiveram presentes, mas não estão nesta foto). Em pé, a partir da esquerda: Rita Mota, Sandra Trajano, Eduardo Araújo, Jorlando Silva (em memória), Mirian Fochi, Plínio Pavão, Dirce Mendes (minha mãe), eu, Gercir Palmério (meu pai), Coelho, Deise Lessa, Luciana, Eduardo Marinho, Rodrigo Britto, Sérgio Braga, Rafael Matos. Agachados, a partir da esquerda: Miguel Pereira, Cláudio Gerstner, Carlos Eduardo (Cadu), Jacy Afonso, Serginho e Alessandro (Vovô).
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