segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Lendo: Senhora (1875) - José de Alencar



Senhora, de Alencar, e livros de crítica literária.

Refeição Cultural

Literatura Brasileira - José de Alencar

Consumado o casamento entre Aurélia Camargo e Fernando Seixas, os convidados se retiram da cerimônia. A sós, os dois jovens se preparam para a noite de núpcias. Quando Aurélia tem a seus pés o esposo se declarando a ela, muda a expressão de felicidade e começa a dizer o que pensa a respeito de tudo aquilo.

"- Representamos uma comédia, na qual ambos desempenhamos o nosso papel com perícia consumada. Podemos ter esse orgulho, que os melhores atores não nos excederiam. Mas é tempo de pôr termo a esta cruel mistificação, com que nos estamos escarnecendo mutuamente, senhor. Entremos na realidade por mais triste que ela seja; e resigne-se cada um ao que é, eu, uma mulher traída; o senhor, um homem vendido."

E apesar do choque causado ao noivo, pela surpresa do enunciado, Aurélia segue:

"- Vendido, sim: não tem outro nome. Sou rica, muito rica; sou milionária; precisava de um marido, traste indispensável às mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei-o. Custou-me cem contos de réis, foi barato; não se vez valer. Eu daria o dobro, o triplo, toda a minha riqueza por esse momento."

Com essa cena, José de Alencar conclui a primeira parte do livro, intitulada "O Preço", e a personagem Aurélia manda o marido comprado sentar-se para ouvir o que ela tem a dizer a seguir, na parte dois do livro.

Nova leitura

Li esta obra de Alencar na adolescência, como parte das leituras obrigatórias do ensino fundamental e médio. Reli o romance faz duas décadas, por desejo de conhecer melhor este clássico da literatura brasileira. 

A curiosidade em ler novamente "Senhora" é por causa de obras e textos críticos que fazem referência a ela, como as obras de Roberto Schwarz - "Um mestre na periferia do capitalismo" e "Ao vencedor as batatas" - e de Antonio Candido - "Literatura e sociedade". 

Entretanto, a leitura é, sobretudo, porque um amigo me presenteou um livro que reúne ensaios e textos de crítica literária a respeito de grandes estudiosos da literatura brasileira, entre eles os dois que citei acima mais Francisco Alvim. 

Dentre os ensaios reunidos no livro "Candido, Schwarz & Alvim - A crítica literária dialética no Brasil" está o de meu amigo André Matias Nepomuceno - "Gênero e história: duas questões na leitura do romance Senhora, de José de Alencar". Quando li o texto, senti que teria melhor compreensão se me lembrasse do enredo do romance.

Enfim, aos poucos vou lendo mais este livro, entre os vários que leio ao mesmo tempo. Nosso cérebro só tem a ganhar quando é exigido para tarefas diversas, como leituras de coisas tão distintas quanto as que leio.

William
Um leitor

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