terça-feira, 17 de março de 2020

170320 - Diário e reflexões



"Uma imagem gelada", desenho de meu filho aos 10 anos de idade.
Que as crianças tenham oportunidades para iluminarem as
cabeças dos adultos desse momento difícil da história.

Ao descer pelo elevador, encontro o vizinho simpático que tem uma filhinha linda e uma esposa de aparência enérgica. As impressões são leituras de encontros esporádicos de elevador e hall do condomínio e também da troca de pequenos diálogos entre as duas famílias, a nossa e a deles. Sabemos que ele é mais uma vítima do desemprego que assola o país, e por vermos que vão aos cultos com regularidade, pode ser que pertençam a alguma linha de evangélicos. Nos parecem pessoas simples e muito boas.

No curto espaço de tempo da descida do elevador, ele comenta comigo a nova rotina causada pela pandemia mundial do coronavírus. Estava levando a menina para ficar com a avó, já que a partir desta semana não haveria mais necessidade de ir para a escola e as aulas estarão suspensas a partir da próxima semana por prazo indeterminado.

Ao sairmos do elevador, inocentemente ele me diz que era preciso que alguém desse um jeito de cobrar dos chineses por toda essa crise causada pela pandemia do coronavírus. Após a surpresa usual que adquirimos por ouvir absurdos nos novos tempos olavistas de pandemia de ignorância e terraplanismo, pensei se dizia algo ou só fazia cara de poste.

Eu já prometi a mim mesmo que não iria me desgastar com discussões inúteis com essa nova geração de seres humanos, nascidos das manipulações e exposições a mentiras contadas mil vezes, como aquelas organizadas pela mídia empresarial (Partido da Imprensa Golpista - PIG), por alguns tipos de igrejas-empresas como essas pentecostais ou neopentecostais e pela direita política.

Como tenho um certo carinho por essa família, e não quero iniciar discussões políticas com ela, toda vez que escuto um comentário do vizinho que é uma evidente reprodução desses discursos cujas fontes são as fake news, os "pastores" ou o PIG, discursos muitas vezes distantes da realidade factual, fico calado, dou aquele sorrisinho educado e fica por isso mesmo. Que fiquemos só na previsão do tempo, time de futebol e só.

Hoje não aguentei e acabei falando algo rapidamente, já me despedindo, sobre a afirmação dele a respeito dos chineses ("malditos"?) que supostamente causaram esse furdunço todo no mundo. Disse a ele que talvez os chineses não fossem os vilões dessa desordem mundial toda. Talvez fossem outros os motivos. E perguntei se ele já ouviu falar em guerras biológicas e coisas do tipo (suposições por suposições, fico com a minha, talkey?).

Depois dei um aceno de mão à distância - coronavírus - e cada um seguiu seu rumo... Eu saí pela rua falando sozinho e em voz alta como se fosse um desses loucos mansos... talvez sejamos todos loucos e só mesmo Simão Bacamarte fosse são neste mundo real e ficcional (hoje é tudo a mesma coisa).

William

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