segunda-feira, 23 de março de 2020

230320 - Diário e reflexões




Apelos

O Brasil não acordou ainda para o que pode ser o cotidiano daqui a duas semanas. O ser humano do século 21 experimenta as coisas mais impensáveis e distópicas que os melhores autores ficcionais pensaram em obras de arte literária e visual ao longo dos últimos séculos. 

Boa parte do conhecimento humano foi catalogado, disponibilizado na rede mundial - a internet - e ao mesmo tempo parte dos seres humanos regrediu intelectualmente ao período mental talvez dos hominídeos de dezenas de milhares de anos atrás. Qualquer embusteiro engana milhões de seres humanos nas coisas mais comezinhas.

É nesse cenário que o Brasil e os demais países do mundo lidarão daqui adiante com a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), que desde janeiro se espalha pelo mundo, ampliando o cenário já trágico da economia global, que vivia uma enorme crise do modo de produção capitalista e das doutrinas neoliberais de Estado mínimo e de permitir que alguns indivíduos (o 1%) acumulem "livremente" toda a riqueza humana enquanto os 99% vagam miseravelmente pelos esgotos do mundo.

Especialistas das áreas de ciências biológicas e médicas alertam que daqui a duas ou três semanas o Brasil passará a viver as consequências da expansão exponencial do Covid-19 e seus agravamentos com necessidade de internação e respiração artificial e o sistema de saúde público e privado vai colapsar e as pessoas começarão a morrer sem atendimento para todos. Isso não é ficção, é o quadro dos países que já chegaram nessa fase que se aproxima no Brasil. 

ATENÇÃO: não morrerão só as vítimas do Covid-19 (alguns insensíveis dizem que é doença que só mata "velhos" - absurdo ouvir isso!), morrerão eu e vocês se tivermos infarto, AVC, apendicite, acidente de trânsito, se tivermos infecção, se cairmos em casa e quebrarmos o fêmur, tiro ou facada etc. Não importa o dinheiro e o plano de saúde porque não haverá vagas nos hospitais.

E nós não temos governo. O povo brasileiro está largado à própria sorte, o que já era bem complicado com o caos gerado pela destruição econômica e social já em andamento por causa do golpe de Estado, Temer e a demência coletiva bolsonarista. Mas os efeitos da pandemia daqui a alguns dias pode trazer uma convulsão social por fome, medo, raiva, pela falta de um Estado que dê apoio e esperança a milhões de pessoas.

Apelo às direções dos bancos

Todos nós que atuamos no segmento bancário ao longo de nossas vidas, trabalhadores da ativa e aposentados e seus respectivos representantes, fazemos um apelo para que as direções dos bancos dispensem os bancários imediatamente. O risco que eles estão sofrendo e toda a população por causa disso é incalculável pela capacidade de transmissão sem sintomas do vírus Covid-19.

Eu lidei por 4 anos com as estruturas de poder do maior banco público do país, viajei o Brasil de ponta a ponta em 165 agendas de gestão como diretor de saúde da autogestão Cassi. Conheci a capacidade de envolvimento dos administradores do BB quando o assunto é saúde. Tem muita gente boa nas posições de decisão do banco e este é o momento capital de cada gestor fazer o apelo pra cima, para seu superior e orientar que as pessoas sejam dispensadas nas redes às quais eles fazem a gestão.

Dispensem as pessoas, mantendo somente o necessário como os sindicatos estão pleiteando. Cada gestor que fizer isso estará salvando vidas, vidas e mais vidas. Por favor, dispensem os trabalhadores!

Apelo para que promovam o impedimento dos psicopatas do governo*

Esse apelo não sou eu, um simples cidadão, que está fazendo. Diversas autoridades intelectuais e lideranças das mais diversas linhas de pensamento político do país estão conscientes que cada dia a mais de governo Bolsonaro pode equivaler a milhares de mortos num dos momentos mais dramáticos do Brasil e do mundo após as guerras mundiais, Crash de 1929 e pandemias que devastaram o mundo como a de Gripe Espanhola de 1918.

É necessário que uma comissão da sociedade civil assuma o poder neste cenário e que tenhamos uma parceria nacional entre Governo Federal e Estados para enfrentar o próximo período da pandemia que pode durar meses e anos. 

Assim como outros países com governos sérios no mundo, é necessário proteger a vida das pessoas, dar recursos do Estado para que fiquem em casa e assistência básica para os milhões de cidadãos que não têm casa neste momento de pico da pandemia e recessão econômica que será uma das consequências dela.

Apelo aos governantes que apoiem o povo com recursos, com renda básica imediatamente

São Paulo não chegou ainda ao momento de descalabro social e colapso que ocorrerá daqui a duas ou três semanas e a quarentena estadual passará a vigorar a partir desta terça 24, ficando abertos somente os estabelecimentos de necessidades básicas à vida das pessoas. A população deve ficar em casa nas próximas semanas (aqueles que têm um teto para viver). Antes do colapso, já vemos diferenças nas ruas.

Aqui em casa, eu sou a pessoa definida para sair e providenciar as coisas necessárias para a quarentena. Ao ir ao mercado a pé hoje pela manhã, já percebi muitas mudanças nas ruas quase desertas. Sabemos que muita gente está em situação de rua, pedindo ajuda às pessoas para viver. Um senhor me pediu ajuda dizendo que não comia desde ontem, e ao ajudá-lo ele começou a chorar... na volta uma senhora de uns 70 anos me pediu algo para comer, e após ela receber o alimento, ficou olhando a esmo. Amigos, que será dessas pessoas daqui alguns dias? E dos desempregados? E daqueles que vendem coisas para voltar com algum recurso para casa?

As pessoas precisam de dinheiro e é o Estado que deve fornecer para todos, como Suplicy defende há décadas (renda básica da cidadania). Milhões de seres humanos sem dinheiro algum, nem chance de consegui-lo para sobreviver, farão qualquer coisa que a natureza roendo o estômago lhes impulsionar a fazer. Podemos viver uma convulsão social.

Apelo à direção da Cassi

Faço um apelo à direção da Cassi que suspenda o processo eleitoral em andamento desde o dia 16 da semana passada. Não é possível manter essa falta de sensibilidade, essa visão burocrática das coisas, e achar que nada está acontecendo no Brasil e no mundo. 

Os índices de participação estão baixos obviamente porque a coisa que menos importa para os bancários apavorados sendo obrigados a irem aos locais de trabalho com risco de contraírem o vírus é votar no processo eleitoral da Cassi. Dessa forma, o resultado não será um resultado representativo e justo, mesmo que digam que é "legal" ou coisa do tipo.

Interrompam essa eleição porque isso não é o mais importante para o momento que atravessamos! A direção da Cassi poderia envidar todos os esforços para dar os argumentos técnicos necessários às direções regionais e geral do Banco do Brasil do quanto é melhor os trabalhadores tomarem todos os cuidados que as autoridades sanitárias estão recomendando como, por exemplo, ficarem em casa.

Apelo para que as pessoas contatem umas às outras para acolher pessoas isoladas e dar conforto a elas

Por fim e não menos importante. 

Façamos uma corrente de solidariedade e acolhimento durante esse período de quarentena que temos que fazer para salvar vidas e evitar ou amenizar as consequências da pandemia na vida de cada brasileiro e brasileira.

Os 4 anos de aprendizado que experimentei ao ser gestor da nossa Caixa de Assistência, e atuar na área da saúde especificamente, me deram a oportunidade de compreender o conceito de acolhimento com que a Cassi trabalha.

Nós temos aproximadamente 174 mil pessoas dos planos de saúde da Cassi com mais de 59 anos. É um número muito grande de pessoas que podem estar isoladas, sozinhas em casa, por serem a população com maior risco em relação ao Covid-19. 

Além dessas pessoas mais idosas, a população de trabalhadores e aposentados e pensionistas do BB e da Cassi também tem uma legião de pessoas com uma, duas ou mais comorbidades e são pessoas crônicas que precisam de atenção, medicação de uso contínuo e outros cuidados como, por exemplo, atenção e apoio psicológico.

Contatem essas pessoas, pergunte como elas estão, conversem com elas, dividam angústias mas também falem de amenidades, lembranças. Enfim, acolham essas pessoas. Cada pessoa é única e o isolamento sem poder fazer a rotina que anima cada uma delas diariamente pode ser algo difícil e podemos contribuir para amenizar o desconforto dessa quarentena.

É isso! Vamos superar esse momento e vamos sair melhores dele.

William

*Post Scriptum:

Após ouvir um debate entre o jornalista Luis Nassif, a psicanalista Ana Laura Prates e a procuradora regional da república Eugênia Augusta Gonzaga, fiquei convencido de que agi por impulso ao reivindicar como muita gente a "interdição" do cidadão na presidência. Ele deve ser impedido e não "interditado". Interdição de pessoas nem existe mais na legislação brasileira desde 2015, segundo as informações no debate que vi. Peço que os interessados vejam a discussão em vídeo, é muito esclarecedora: aqui

Em linhas gerais, não seria nem estratégico nem correto tratar o caso Bolsonaro com uma lógica de patologização de seus atos como se ele fosse louco porque há uma luta histórica na questão manicomial. Os crimes desse cidadão estão previstos nas leis e normas, basta que se apliquem as leis para impedi-lo. Se o sujeito fosse considerado inimputável, ele não seria responsabilidade pela quantidade de crimes e quebras de decoro que pratica diuturnamente. Além de ser uma forma bastante despolitizada de tratar o caso Bolsonaro e seu clã na política.

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