Domingo coronavírus, sol lá fora e apreensão cá dentro. |
Como pertencemos a grupos sociais, me preocupo também com os bancários e com os colegas aposentados e com a enorme incidência de cronicidades em suas condições de saúde
O mundo enfrenta uma pandemia de coronavírus, Covid-19, desde o início do ano. Após ser identificado na Ásia, inicialmente na China, e depois passar por outros países orientais, chegou à Europa, atravessou os oceanos e agora é a vez das Américas.
As consequências mais mortais ou menos mortais da pandemia têm sido relacionadas com a forma como cada governo lidou com ela, fazendo quarentenas menos ou mais restritivas, mitigação ou supressão de circulação, distanciamento social e isolamento de infectados, rapidez nas medidas, orientações adequadas, boa estrutura de atendimento à saúde ou não para as vítimas agravadas.
A recomendação para todos nós é de quarentena, não sair de casa. Se precisar sair, que seja para o estritamente necessário como comprar mantimentos, medicamentos ou algo de elementar para a sobrevivência e que se faça toda a higienização preventiva explicada pelo meios informativos.
Eu gostaria de ocupar o tempo da quarentena forçada pela pandemia para fazer uma das coisas que mais gosto na vida: ler e estudar. Mas eu não consigo! É da minha natureza pensar o homem, pensar a sociedade, pensar o mundo. Minha natureza é de um cidadão politizado e militante, e de envolvimento com as questões sociais.
É enorme a minha preocupação com os milhões de cidadãos que não têm como ficar em casa porque não têm casa, estão nas ruas; com os milhões de brasileiros que vivem nas favelas e periferias, sem a menor condição de "isolamento" num barraco onde moram cinco, dez, quinze pessoas, e desempregadas; preocupação com os milhões de pessoas que voltaram para a pobreza e extrema pobreza sem ajuda de programas sociais e sem emprego formal e direitos, por causa do golpe de Estado e dos celerados, corruptos e psicopatas que assumiram o país após o fim da democracia.
A pandemia já demonstrou por onde passou que uma das consequências que ela traz é o colapso dos sistemas de saúde e é por isso que as autoridades internacionais e os países que já estão lidando com a doença em seu avanço e pico orientam que as medidas de mitigação e se possível de contenção de circulação sejam feitas o quanto antes, para evitar o pico de pessoas contaminadas e com necessidade de atendimento com internação e respiração artificial. O sistema não dá conta da demanda de uma vez de casos muito acima da estrutura existente.
ME PREOCUPO TAMBÉM COM OS COLEGAS BANCÁRIOS, OS APOSENTADOS E OS DOENTES CRÔNICOS DA COMUNIDADE BB
Estou preocupado também com as pessoas da comunidade bancária à qual pertenço, à qual passei a minha vida laboral defendendo como dirigente sindical e como gestor de saúde em meu último mandato de representação, na Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil. Quem me conheceu durante minha atuação de dirigente, sabe do trabalho que fiz pelos bancários do BB e pela Cassi, seu modelo de saúde e os direitos em saúde dos associados.
Eu quase não dormi por 4 anos para conhecer o sistema, para defender os bancários, para desenvolver estudos que comprovassem a eficiência do modelo assistencial da autogestão Cassi, para viajar o país e apresentar a Caixa de Assistência, envolver os intervenientes do sistema, dar pertencimento aos associados, pedir parcerias em saúde com os órgãos regionais do Banco do Brasil e para fortalecer o sistema de participação e fiscalização dos participantes: os conselhos de usuários, os sindicatos e associações em todo o território nacional.
Depois que deixei o movimento sindical e a representação de classe, nesses quase dois anos, praticamente deixei de escrever sobre as questões relativas a essa dimensão social de nossa vida. Uma vez ou outra, o coração aperta, o cérebro não para de me cutucar e sou obrigado a sentar e escrever alguma coisa. Foi assim que opinei poucas vezes sobre os debates da Cassi após sair do movimento.
A pandemia que chegou ao Brasil tem feito com que eu não consiga fazer mais nada por ficar pensando naqueles que defendi e representei por tanto tempo na vida: os bancários em geral e os bancários da ativa e aposentados do Banco do Brasil. E aí não tem como não pensar na Cassi, no modelo assistencial de Estratégia Saúde da Família (ESF) e Atenção Primária em Saúde (APS), os programas de saúde que deixamos funcionando bem - apesar da falta de recursos e investimentos -, no quadro de funcionários da Cassi (um patrimônio nosso) e nos usuários do sistema, sobretudo nos milhares e milhares de participantes crônicos acompanhados pela ESF em todos os Estados e DF.
Eu sei que não deveria ficar horas e horas com a cabeça focada nessas questões da comunidade BB como fiquei por quase duas décadas de representação porque os associados têm seus representantes, mas é difícil não me preocupar. A gente acaba abrindo documentos e mais documentos, fontes e mais fontes de dados sobre a Cassi, seu sistema e os participantes. Porque eu conheci profundamente a autogestão. E me desespero ao ver de longe tudo que estão desfazendo em nossa Caixa de Assistência, a começar pela quebra da solidariedade, palavra que volta à agenda mundial por causa de uma pandemia que pode alterar os rumos da sociedade mundial hegemonizada pelo modelo econômico e político neoliberal de Estado mínimo e concentração de renda como nunca visto.
Finalizo esta reflexão dividindo com vocês minha preocupação após olhar e relembrar um pouco a grandeza dos números da Cassi em relação ao perfil de sua população idosa e crônica, parte dela já cuidada pelo modelo assistencial ESF/CliniCassi. O modelo e o perfil populacional evidenciam a importância dos programas de saúde para uma comunidade de brasileiros e brasileiras cujo número de pessoas com mais de 59 anos é de 174 mil assistidos e que em algumas bases da Cassi no país chegam a representar 46% dos participantes do Plano de Associados, e a grande maioria é de pessoas com doenças crônicas, ou seja, grupos de risco em relação à pandemia que chega ao Brasil.
De verdade, me preocupo com as mudanças que fizeram nos últimos dois anos no Programa de Assistência Farmacêutica (PAF) da Cassi, um programa que sempre foi essencial para o bom funcionamento do modelo assistencial da nossa autogestão. A título de exemplo, no início de 2018, tínhamos mais de 10 mil cadastrados em São Paulo, assistidos pelo programa e que recebiam os medicamentos em casa, e estamos falando de 645 municípios do Estado. A Cassi mudou o processo conforme matéria informativa em seu portal em 23/11/18 (ler reprodução abaixo) e hoje os participantes precisam sair e comprar os medicamentos. Será que esses participantes crônicos estarão medicados nos próximos meses de quarentena que o país vai enfrentar?
Como ex-gestor do modelo assistencial e associado, também vi com preocupação as mudanças ocorridas na Limaca (lista de materiais e medicamentos abonáveis pela Cassi). Aliás, através de uma das matérias que fala das mudanças (em 26/12/19), também soube que outras bases com milhares de participantes com doenças crônicas (MG, RJ e ES), bases com enormes quantidades de idosos, a Cassi mudou o modelo de acesso, não fornecendo mais os medicamentos por distribuidores logísticos e exigindo que as pessoas comprem por conta própria e peçam reembolso.
Espero que todos esses participantes estejam medicados. O nosso programa tinha como uma de suas premissas o fato de ser solidário no acesso ao medicamento, independente se o associado crônico estivesse nas grandes cidades, com mais acesso a redes de farmácias, ou em locais afastados dos grandes centros. A autogestão mantinha estáveis pessoas com doenças crônicas, evitando assim agravamentos e crises agudas, que exigem a busca de rede credenciada e internações hospitalares, infinitamente mais onerosas e com mais riscos para os assistidos.
Imaginem a dificuldade de acesso que teriam os participantes crônicos da Cassi em eventuais crises e agravamentos por não tomarem os medicamentos de uso contínuo em um sistema de saúde colapsado pela pandemia.
Bom domingo a todos e todas. E fiquem em casa, por favor!
William
Post Scriptum:
Imaginem vocês a dificuldade que um participante terá para conseguir encontrar medicamentos à base de cloroquina após o sujeito na Presidência do Brasil fazer um vídeo falando fake news a respeito desse medicamento sem nenhuma confirmação ainda sobre eventual eficácia dele no combate ao Covid-19?
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CASSI muda fornecimento de materiais e medicamentos do PAF em SP
Publicado em: 23/11/2018
Os participantes do estado de São Paulo atendidos pelo Programa de Assistência Farmacêutica (PAF) terão acesso ao benefício exclusivamente pela modalidade de reembolso. A medida é válida desde o dia 23 de novembro.
A compra de materiais e medicamentos autorizados pelo PAF deverá ser feita pelo próprio associado, no local de sua escolha, com posterior pedido de reembolso eletrônico. Os medicamentos e materiais serão reembolsados na forma autorizada pela CASSI.
A ferramenta de solicitação de reembolso já está disponível no site da Caixa de Assistência, na área logada (Serviços para você) do perfil Associados. O recurso possibilita que os pedidos sejam encaminhados pela internet, por meio da digitalização da documentação exigida. Para a Assistência Farmacêutica, é necessário:
• Envio de nota fiscal ou cupom fiscal* contendo: data de emissão; nome e CNPJ da entidade; discriminação e quantidade dos materiais e medicamentos adquiridos - miligramagem no caso de medicamentos -, valores unitários e totais.
O sistema exigirá que o participante digite o número de autorização fornecido pela Unidade.
Existem entregas de medicamentos em andamento com previsão de chegada às residências dos participantes até o dia 30/11/2018. Assim, a CASSI orienta verificar o estoque de medicamentos recebidos anteriormente e, nos casos possíveis, realizar a compra após esta data.
A distribuição dos medicamentos antineoplásicos (oncológicos) de uso oral domiciliar e de fornecimento obrigatório, em razão de normativo da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), não será alterada. Ou seja, tais medicamentos continuarão a serem entregues pela CASSI no local indicado pelo participante.
Em caso de dúvidas, contate a CASSI São Paulo ou a CliniCASSI mais próxima por meio do “Fale com a CASSI”, no site www.cassi.com.br, opção “Canais de Atendimento”.
Fonte: Cassi
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