sábado, 12 de novembro de 2022

Leitura: Macacos - Clayton Nascimento



Refeição Cultural

Osasco, 12 de novembro de 2022. Sábado.


No refúgio de meu canto no mundo, minha casa, li o livro Macacos - Monólogo em 9 episódios e 1 ato, de Clayton Nascimento. O livro nos apresenta a peça que ele desenvolveu e ainda desenvolve desde 2015: é um texto vivo. 

Seu texto ensina, educa, nos chama a atenção para a realidade ao nosso redor. Clayton aponta conceitos importantes como, por exemplo, dar o nome às coisas como elas são: "escravizados" é o termo a ser dito sobre pessoas que foram capturadas e viveram na condição terrível da escravidão. "Escravos" não explica que todos nascem livres. Na peça, Clayton nos pede que prometamos dizer "escravizados" e não "escravos"...

Além da leitura da dramaturgia-denúncia escrita por Clayton, tive a oportunidade de ver a apresentação da peça-monólogo por ele no auditório Paulo Freire, do Instituto Conhecimento Liberta (ICL) na última quinta-feira 10. A gravação da peça será disponibilizada pelo ICL no Dia da Consciência Negra, 20 de novembro. Assistam! A potência da apresentação de Macacos por Clayton Nascimento me impacta fortemente até hoje, dois dias depois de vê-lo em cena! Demais!



Provavelmente estou no conforto de minha casa (tenho um canto no mundo) e tenho uma remuneração certa todos os meses e não passo dificuldades de alimentação e aquisição das coisas mais básicas da cidadania neste país de 215 milhões de pessoas com mais da metade na incerteza diária do viver porque minha pele é branca. Aprendi sobre esse fato nas últimas décadas nas quais me politizei e compreendi um pouquinho sobre o que é o Brasil e o que somos há 522 anos. 

O racismo estrutural me favoreceu ao longo de minhas cinco décadas de existência por diversas vezes desde a mais tenra idade. Não tenho dúvidas sobre isso. Mesmo nos trabalhos braçais, levei vantagem sobre algum irmão preto nos caminhos percorridos, vantagem por ser branco. 

As mesmas cinco décadas de existência de minha irmã negra Telma tiveram um roteiro completamente diferente do meu. Éramos dois pobres num mundo racista, mas eu era branco e ela negra. Queiramos ou não esse fato da cor de nossas peles fez diferença nos cotidianos de nossas vidas porque aqui é o Brasil. Aqui é um dos lugares mais racistas do mundo! E de gente mais racista do mundo!

E o percurso da vida de minha irmã é a realidade do viver da maioria do povo brasileiro, preto, pardo, mestiço, um povo nascido de mulheres pretas, indígenas, mestiças, mães do povo brasileiro a partir de colonizadores brancos, depois mães de descendentes de colonizadores brancos. 

Um mundo violento contra as mulheres desde sua origem, esse é o Brasil, é o nosso país. Como diz Saramago no Ensaio sobre a cegueira, essa coisa é o que somos! O risco de morte, risco por qualquer tipo de morte severina, matada ou morrida, sempre foi maior para minha irmã, seus filhos, e o povo preto dessa terra do que para mim de pele branca. Sempre!

Enfim, paro a refeição cultural por aqui. Tenhamos claro o racismo dessa terra na qual vivemos. Racismo é uma merda! Nunca esqueci uma das lições que aprendi no movimento sindical com a companheira Deise Recoaro, uma branca como eu, que explicava nos cursos de formação que fizemos juntos: 

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Racismo gera preconceito, preconceito gera desigualdade de oportunidades, desigualdade de oportunidades gera desigualdade social... e cá estamos em 2022 num dos lugares com maior desigualdade social do planeta Terra. 

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Temos que lutar contra o racismo e mudar essa realidade. Peças teatrais dramáticas como a de Clayton Nascimento, um sobrevivente desse mundo racista, são fundamentais, são necessárias a tod@s nós, povo brasileiro!

William Mendes


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