Refeição Cultural
Osasco, 20 de abril de 2024. Sábado.
O MUNDO TÁ FODA!
Ao acordar, passei a primeira hora deitado, lendo um pouco de notícias. Fiquei pensando nos acontecimentos de meu cotidiano recente, e naturalmente pensei sobre a política e sobre o nosso país. Mesmo fora do movimento sindical, sou um ser político, não estou alheio aos acontecimentos.
As perspectivas do amanhã, no meu caso particular e no caso de nosso país, são complexas. Digo "complexas" para não dizer que são "ruins". Os otimistas diriam que são "desafiadoras". As maneiras como se dizem as coisas têm objetivos e efeitos específicos nas técnicas de comunicação. No fundo, no fundo, tá foda!
Meus conhecimentos adquiridos durante a jornada da existência me impõem atitudes e comportamentos que não podem ser deixados de lado simplesmente por um desejo imediato de ligar o botão do foda-se. Conheço muita coisa da vida política. Só deixarei de ver o mundo como vejo com uma eventual doença degenerativa do cérebro ou com minha morte.
Enquanto pensava nas coisas recentes, ainda deitado, pensei que tem tanta coisa rolando no meu mundinho e no mundão lá fora, que quase tive vontade de listar coisinhas e coisonas para visualizar melhor as coisas e organizar as ideias.
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LEITURAS
Neste ano, não estou conseguindo escrever sobre minhas leituras. Ruim isso! Quando escrevo aqui no blog sobre um livro ou algo que li, organizo as reflexões advindas com a leitura e acabo memorizando melhor o que a leitura me trouxe de ideias novas. Postando o texto, atinjo meu desejo de compartilhar de forma gratuita cultura e conhecimento humano.
Minha atenção está ruim do ponto de vista dos estudos. Tem muitos fatores externos e psicológicos que estão me impedindo de concentrar-me nos momentos de leitura e estudos. E quando leio, não finalizo o processo de aprendizagem fazendo o texto de comentário e fixação de informações.
Quero terminar algumas leituras iniciadas e escrever algo sobre elas. Li recentemente a tragédia "Ricardo III" de Shakespeare e assim como as duas comédias do autor que li faz poucos meses, acho que a leitura foi sofrível, não li como gostaria. O ideal é sentar-me e ler as três obras de novo. De forma rápida.
As leituras dos livros de Paulo Freire foram melhores, mas não consegui terminar meu texto sobre "Pedagogia da Autonomia". Faltou foco.
Quero terminar o livro do colega aposentado do BB, Onça. Li uma parte dele quando viajei uns dias com a esposa, mas não consegui retomá-lo e finalizar a leitura. É um livro de entretenimento, leve.
Estou lendo uns livros mais complexos e não consegui dar sequência. Um sobre a China, um sobre Marx e um sobre saúde suplementar. As leituras são muito interessantes, não tive dificuldades. É que a cabeça tá com a atenção dividida mesmo.
Após a segunda viagem a Cuba, com a feira do livro de Havana como motivo principal dessa experiência no país socialista, me encantei com Frei Betto, e dos contatos com autores brasileiros que lá estiveram, estou lendo o novo livro da querida Conceição Evaristo e preciso terminar o livrão sobre a biografia do dominicano. Li um livro dele sobre o marxismo e não escrevi a respeito da leitura.
E, lógico, após essas atividades culturais inacabadas, preciso pegar com vigor a leitura de "Os miseráveis", que peguei para ler no semestre passado e parei de novo. Não posso fazer isso. Tenho que ir até o fim do clássico.
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ENVELHECIMENTO DA GENTE
Essa temática é pessoal e coletiva. É a natureza em plena ação. Tudo muda o tempo todo.
Na família serão tempos de lidar com as mortes das pessoas queridas. Isso acontece de forma mais frequente à medida que vamos envelhecendo e durando mais tempo na Terra.
Como sou uma pessoa de sorte, tive a felicidade de ter meus pais e familiares nucleares presentes até hoje. A boa sorte de tê-los por mais tempo me faz saber que ainda vou ter que lidar com as perdas de pessoas queridas, ou elas terão que lidar com a minha desaparição, ninguém sabe o amanhã. A morte é a certeza que o animal humano já sabe e que os outros animais não, podem até pressentir na hora, mas por instinto. Por isso inventamos a ideia de viver depois de morrer...
O mundo humano que coisificou as pessoas como meras mercadorias e transformou as relações humanas em relações utilitárias, relações que só duram enquanto são úteis de alguma forma para as pessoas (físicas e jurídicas) fez com que a maioria das relações seja de pouca duração e de fácil rompimento. Uma divergência casual de opinião pode encerrar uma relação de toda uma vida. E com isso vamos nos tornando seres solitários, sozinhos mesmo quando acompanhados.
Quando penso em envelhecimento, adoecimento em suas diversas formas, quando penso em necessidade de acolhimento que as pessoas sentirão cada dia mais, e provavelmente estarão por sua conta e risco, penso no conhecimento que adquiri ao ser gestor de uma autogestão em saúde diferente da lógica do mercado da doença (indústria da "saúde").
Fico pensando se deveria esquecer o que sei sobre a Cassi ou se deveria escrever com frequência e regularidade tudo que conheci dessa Caixa de Assistência. À época, criei um público leitor que se interessou pelo que escrevia. De certa forma, fiz um papel importante ao dizer aos participantes da Cassi o que o próprio site da autogestão nunca dizia.
Ao refletir sobre a conversa com o médico que atendeu meu pai nesses dias, sobre possíveis doenças que ele tenha, fiquei pensando sobre a questão da sarcopenia que ele vem enfrentando recentemente. Eu conheço sobre o tema desde que estudei Educação Física e sei que também já iniciei meu processo natural de perda de massa e tônus muscular. Sendo consciente sobre o tema, deveria estar mais dedicado a frear seus efeitos e a gente acaba sendo relapso com a própria saúde. Somos animais racionais contraditórios...
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QUEM DEFINE A ARMA DE UM COMBATE É O INIMIGO
Por fim, fecho essas reflexões pensando num acontecimento que me angustia: a ascensão do fascismo e da extrema-direita sem uma capacidade de reação à altura do campo democrático e da esquerda.
De meu mundinho atual, de alguém que já fez parte do mundão da política, sinto uma certa angústia ao ver o nosso lado da classe tão perdido em relação aos objetivos, estratégias e táticas para disputar a hegemonia de nossas ideias na sociedade humana.
Francamente, o mundo e o ser humano mudaram ou foram mudados drasticamente nas duas últimas décadas. Percebem a rapidez da coisa? Duas décadas. Período do boom das tecnologias da informação, internet e redes sociais. Na sociedade humana deste momento histórico, não há mais espaço para conciliar e frear processos com diálogo. Não há diálogo com nazifascistas, trumpistas e bolsonaristas fanáticos. Não há diálogo com armas despejando morte sob nossos corpos.
Esse conceito do subtítulo, sobre quem define a arma do combate ser o inimigo, tirei do ensinamento do grande líder sul-africano Nelson Mandela. Numa derrota fragorosa de seu povo, ele entendeu que não adiantava usar as tradicionais armas pacifistas de combate ao regime do apartheid porque o inimigo estava matando seu povo e não se sensibilizava com nada pacífico.
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É O OPRESSOR QUE DEFINE A NATUREZA DA LUTA"A lição que aprendi com a campanha (contra a remoção do povo negro de Sophiatown em 1955) foi que no final nós não tínhamos alternativa alguma senão resistência armada e violenta. Repetidamente, havíamos utilizado todas as armas de não violência em nosso arsenal - discursos, delegações, ameaças, marchas, greves, ficar em casa, prisões voluntárias - tudo em vão, pois tudo o que fazíamos era respondido com mão de ferro. Um guerreiro pela liberdade aprende da maneira mais difícil que é o opressor quem define a natureza da luta, e ao oprimido frequentemente não se deixa recurso algum senão utilizar métodos que espelham aqueles do opressor. Em certo momento, só é possível lutar contra o fogo usando fogo" (pág. 206. Longa Caminhada até a Liberdade, Nelson Mandela)
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Vejam o momento atual na Palestina! Observem o que os sionistas decidiram fazer para desocupar as terras da Faixa de Gaza. Metem bombas, eliminam população civil - mulheres, crianças, idosos -, quem está lá, e dane-se o que o mundo pensa.
Adiantaria ao povo árabe-palestino fazer greves, manifestações pacíficas etc etc? Óbvio que não!
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QUEM DEFINE A PAUTA DEFINE A AGENDA... E OS TEMPOS SÃO DE AUTORITARISMO E VIOLÊNCIA DA EXTREMA-DIREITA, FINANCIADA PELO CAPITAL
O 1% dos homens poderosos do mundo decidiu eliminar quem se oponha ao seu poder. Danem-se países, comunidades, biomas, o planeta Terra. Os tempos são de merda! Tempos de violência!
Os caras não ligam mais para nós, o povo. Nem para sermos explorados como mão de obra barata. Nunca ligaram, mas antes havia certo pudor, certo disfarce do pessoal que comia com talheres de prata... os tempos são outros.
Alguns pensadores já falam que o 1% quer eliminar mais da metade dos humanos, pois estaríamos incomodando e já não precisam mais de nossa mão de obra fabril. As máquinas dão conta da produção.
Aí eu pergunto: vamos dialogar com os fascistas? Vamos conciliar com os extremistas de direita que têm carta branca e financiamento do 1% para barbarizar conosco?
Os tempos são outros. Nossos corpinhos humanos serão triturados pelas máquinas de extermínio dos donos do poder.
Se a esquerda ou o segmento que um dia se disse de esquerda não acordar e mudar a postura e mudar as estratégias para enfrentar esses bárbaros fascistas com as mesmas armas que eles nos humilham, nos machucam e nos eliminam não sobraremos nem para contar a história dos povos derrotados. Até porque hoje tudo é "nuvem", nem manuscrito antigo com nossa versão vai sobrar para contar que um dia nós da esquerda existimos... Nossas memórias em "nuvens" serão desfeitas com uma brisa!
Encerro por hoje. Minha solidariedade ao deputado Glauber Braga (Psol-RJ), que reagiu de forma leve à violência do fascista do MBL que o ameaça faz tempo. Na minha opinião, não dá para contemporizar com a violência dos fascistas. Não se dá flores a quem quer nos eliminar.
William Mendes
Post Scriptum: soube do falecimento precoce de um querido militante do Banco do Brasil, o companheiro Sérgio Villaça. Meus sentimentos à família, aos amig@s e à companheira Tina Villaça.
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