Refeição Cultural
Estamos no mês de abril de 2024. Noite de sábado para domingo. Estou em Uberlândia.
Um silêncio entristecedor predomina na casa de meus pais. Digo isso sendo uma pessoa que gosta de silêncio. São os sinais que entristecem a gente. Os acontecimentos apontam para onde as coisas caminham.
Como imaginei no último Natal, as relações entre as pessoas estão cindidas, esgarçadas, estão se diluindo. Os laços que ligaram grupos de humanos por milênios, que criaram aquilo que Benedict Arderson chama de "Comunidades Imaginadas", estão se desfazendo. As relações humanas estão cada dia mais utilitárias, só permanecem enquanto há alguma utilidade naquilo.
Tenho avaliado o comportamento humano nos últimos anos. Entendo que os seres humanos estão inseridos numa espécie de experiência a partir das big techs e suas técnicas de manipulação de massas (corporações globais que dominam os meios de comunicação), manipulação que já era tentada pelos grandes veículos de informação, mas que ganhou uma dimensão extraordinária com os algoritmos das redes sociais.
Estamos nos tornando seres antissociais, impacientes e sem vontade de lidar com qualquer pessoa que pense diferente ou emita uma palavra que a outra pessoa não goste. Relações familiares, de amor, amizade, se desfazem como se desfazem as relações virtuais, com um clique/cancelamento.
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E as guerras? Quem vai pará-las?
Os contextos são diferentes dos contextos anteriores nos quais a espécie humana conseguiu evitar o lançamento de diversas bombas atômicas ao mesmo tempo, convencendo lideranças de grandes comunidades humanas que aquelas ações exterminariam a própria espécie. Estou falando de poucas décadas atrás. Anos de Guerra Fria.
Neste momento, com esses humanos ao nosso redor, com essas redes sociais que manipulam dezenas e centenas de milhões de humanos, com esses sociopatas por trás de corporações globais que cagam para os países e as pessoas, nós não temos perspectivas muito boas para evitar que as guerras que estão pipocando por aí avancem até o "The End", guerras em geral provocadas diretamente ou por procuração pela potência nuclear e império decadente Estados Unidos, que deixa claro que vai cair atirando contra as novas potências que estão surgindo, como a China, por exemplo.
Olhando desde abril lá para dezembro de 2024, é bem difícil saber se só a minha família terá dificuldades para se reunir no Natal ou milhões e milhões de famílias terão dificuldades diversas de reunião para confraternização...
Tempos sombrios, tempos desafiadores.
(e pensar que a educação poderia mudar tudo isso, seria só educar as pessoas para um outro mundo possível. No entanto, sob o capitalismo e sob a governança de sociopatas, a salvação do mundo e da humanidade está cada dia mais distante)
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NATAL DE 1973
Naquele ano, vivi com a família o meu quinto Natal.
Nasci no Brasil, um dos países mais católicos do mundo à época. Fui batizado e recebi as bençãos divinas.
Não me lembro das comemorações da data natalina, mas sei que com uns quatro anos de idade, eu já estava sendo aculturado como uma pessoa que vivia no ambiente das crenças religiosas do país, um misticismo resultante de todo o sincretismo religioso originário da mistura do catolicismo dos invasores europeus, com as visões de mundo dos povos indígenas e as religiões de matriz africana, vindas com os povos sequestrados e escravizados nesta terra, colônia de exploração.
Ainda recebemos no último século e meio, povos vindos da Ásia e Oriente e suas crenças se somaram às que já existiam aqui.
CONTEXTO NO MUNDO
Naquele ano, o World Trade Center foi inaugurado na cidade de Nova York, em 4 de abril. As torres gêmeas viraram o símbolo do poderio capitalista dos EUA.
Dois 11/9 a registrar:
11/9/73: no Chile, um golpe de Estado depõe Salvador Allende, que morre no Palácio La Moneda. Pinochet começa a ditadura sanguinária.
11/9/01: muitos anos depois, a data é marcada no mundo pela queda das torres gêmeas inauguradas em 1973. Aviões se chocam contra elas, em Nova York, e o mundo seria diferente depois disso.
EM NOME DE DEUS
Tudo que aconteceu foi em nome de Deus: nosso Natal, a invasão do Brasil no passado e a ditadura daquele momento, a vinda dos escravizados africanos, o capitalismo americano e a ditadura de Pinochet.
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2 comentários:
Tempos sombrios, e muito confusos. Há que se ter coragem para tudo isso. Abraços saudosos na galera daí.
Amiga Marili, uma coisa a vida nos dá de bom, as oportunidades pelo simples fato de estarmos vivos. Conhecer novos amigos como conhecemos vocês numa certa vereda dos caminhos demonstram a assertiva das oportunidades...
Abração pra tod@s!
Wiliam
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