quinta-feira, 11 de abril de 2024

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 11 de abril de 2024. Quinta-feira.


REFEIÇÕES CULTURAIS AMARGAS

Dias cansativos os últimos de meu cotidiano. E quando penso em me lamentar por qualquer coisa, evito, me lembrando no instante seguinte a uma eventual reclamação a outras pessoas, aos deuses e aos acasos, por ter a clareza de que sou uma pessoa de sorte.

E, consciente disso, tento calar minhas lamúrias. A amplíssima maioria das pessoas do mundo estão passando por dificuldades impeditivas de seguir vivendo e, sabedor de uma parte dos motivos desse "estado de mal-estar social", como disse o professor Belluzzo, devo moldar minhas atitudes para não piorar as coisas no mundo.

Claro, não devemos confundir reclamações sobre coisas nas quais estamos em condições melhores do que a maioria com críticas às coisas que tenhamos algum conhecimento de que poderiam estar de outro jeito por saber que elas estão de certa forma corrompidas pela prática dos humanos. Um intelectual não pode deixar de se posicionar sobre o que sabe, como nos ensina Edward Said, em Representações do intelectual (comentário aqui).

Por exemplo, desde que o Brasil foi governado pelos dois golpistas após 2016, Temer e Bolsonaro e seu grupo de homens brancos machos da casa-grande brasileira, as instituições do Estado nacional, as burocracias que regulam a vida em sociedade, tudo deixou de funcionar minimamente, como funcionavam antes do golpe. Isso desorganizou a vida em sociedade.

As pessoas estão por sua conta e risco nas coisas do cotidiano, como se em uma selva estivéssemos, como os demais bichos da fauna, e não como animais humanos que constituíram regras de sociabilidade - direitos e deveres - nos últimos milhares de anos. Impera a cultura do mais forte, mais poderoso, mais egoísta e canalha, mais privilegiado socialmente, e que se dane o restante, no caso brasileiro, a maioria do povo oriundo de uma ex-colônia escravagista violenta e terra de exploração de alguns de fora em prejuízo dos milhões de dentro.

A grande imprensa, a imprensa da casa-grande, os meios de comunicação todos concentrados em poucos coronéis, desde sempre, desde a Primeira República, instituída pelo primeiro golpe de Estado em 1889, essa imprensa na qual o saudoso Paulo Henrique Amorim chamava de PIG - Partido da Imprensa Golpista - é a mãe das mentiras (fake news), mãe da divulgação de ódio e medo que acanalhou parte do povo brasileiro. A imprensa comercial do país envenenou a linguagem e o comportamento do povo brasileiro, destruindo a política - a solução pacífica da controvérsia -, e depois de toda merda que fizeram tivemos os dois desgraçados Temer e Bolsonaro que destruíram as instituições da vida cotidiana do Brasil.

Nada funciona para os cidadãos comuns, as instituições públicas e privadas que deveriam resolver as questões de saúde, educação, segurança, transporte, moradia, cultura, serviços básicos de telefonia, água e esgoto, luz, todas as instituições funcionam à base da cultura do "foda-se o usuário" e as pessoas não têm a quem recorrer, porque o lugar de recorrência também funciona na mesma lógica do "foda-se o usuário". 

E o novo governo, que gosta de cuidar de gente, não consegue fazer o que gostaria porque as estruturas estão amarradas para exercerem a má burocracia - a de não deixar mudar nada - e assim, os caras que perderam no voto em 2022 vão aos poucos minando o governo de frente ampla por terem mais capacidade operativa de pós-verdade. E ainda temos um parlamento quase todo da casa-grande. Um governo democrático-popular sitiado por um Congresso corrupto, de extrema-direita, que mudou as regras do orçamento público e atua para retornar ao caos que dá lucro para meia dúzia de fdp da casa-grande. Difícil!

Como disse em outro texto, me parece que mesmo que Lula entregasse uma Suécia ao povo, as fontes de mídia somadas (PIG e big techs) farão as pessoas acharem que estão no Haiti. O mundo humano funciona hoje a partir das redes de informação e desinformação. 

DOMINA O MUNDO QUEM DEFINE A PAUTA E A AGENDA

Eu falo o que aprendi desde que fui secretário de imprensa dos bancários entre 2006-2009: o cotidiano é dominado por quem define a pauta e a agenda do que as pessoas vão falar, ouvir, ler, comentar. Se já era assim com o PIG, ficou pior com as big techs. Um bosta de um Elon Musk, um bosta, tira de pauta as apurações do crime contra a vereadora Marielle Franco e tira o foco sobre os golpistas do "8 de janeiro" e faz duzentos milhões de pessoas ficarem na pauta que ele definiu contra um juiz do STF e o governo Lula. Entendem o que estou dizendo?

Enfim, finalizo essas reflexões, refeições culturais amargas. Pelas minhas dificuldades recentes de cotidiano, não consegui sequer postar impressões sobre quatro livros lidos recentemente...

Meus dias estão meio foda.

Seguimos tentando melhorar como pessoa e não piorar o mundo.

William


2 comentários:

Anônimo disse...

Os meus também, meu amigo!

William Mendes disse...

Muita força e energia, minha amiga, e seguimos a cada amanhecer!

Abraços ao pessoal!

William