Refeição Cultural
Sem atitude e engajamento pessoal daquelas e daqueles que se importam com a vida, com o planeta Terra e com algo mais além de si mesmos, vamos perder a batalha que se trava neste momento na natureza
Os três filmes que comento abaixo são oportunidades para grandes reflexões de seus telespectadores. Eu demorei para escrever essa postagem por causa da dificuldade de colocar em poucas palavras algo pessoal que avalio valesse a pena comentar.
Dois dos filmes são apocalípticos, nos fazem ver e imaginar o fim do mundo, se não o fim do mundo como estamos acostumados no cotidiano, o fim de um mundo recheado de ilusões que nos cegam sobre a realidade caótica ao nosso redor e que ninguém para pra pensar.
O que faz uma pessoa poder andar pelas ruas, pelo mundo, entre estranhos, tendo uma certeza ou sensação de que está segura e nada vai acontecer a ela pelo simples fato de encontrar-se com um estranho?
Respondo: a sociabilidade humana, a solidariedade e o respeito ao outro como um ser que tem direitos humanos básicos como o direito à vida, assim como os familiares desse estranho e seus grupos de afinidade. E as leis e direitos nacionais e internacionais. Esse direito não é natural, não é da natureza, é uma criação e só se realizará e se manterá se for preservado por nós.
A fase atual do capitalismo com sua consequente produção de miséria para a quase totalidade da espécie humana está fazendo com que desapareça a conquista social construída coletivamente por milênios de podermos viver em meio a estranhos, com direitos humanos minimamente estabelecidos e pactuados por todos, direitos que nos dão uma espécie de sensação de não sermos ameaçados por n motivos só por estarmos em lugares estranhos e com pessoas que nunca vimos na vida.
As corporações capitalistas e os homens por trás delas são responsáveis por modificar a espécie humana em outra coisa, em outro tipo de animal, e isso está acontecendo de uma forma acelerada como nunca houve nesta curta passagem do homo sapiens pela Terra. Ao nos coisificarmos no capitalismo, ao sermos coisas com valores de uso e não uso - mercadorias -, nossas vidas passam a ter níveis de importância, umas valendo mais e muitas valendo nada, podendo ser eliminadas.
Os filmes comentados abaixo me fizeram pensar do passado familiar ao presente e futuro coletivo. Os filmes não tratam da temática "capitalismo", mas podem ser pensados como cenários possíveis por causa dessa forma de nos colocarmos no único lugar no universo onde há condições para abrigar a multiplicidade de vidas que há aqui na Terra. Lugar que está sendo destruído por nós a partir do modo capitalista de utilizar a natureza.
Gosto de filmes assim. Sigo refletindo. E me esforçando para tentar fazer mais pessoas refletirem sobre a atualidade e a tendência ruim para onde estamos indo. Faço isso atualmente através de meus textos.
Abraços,
William Mendes
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FILMES
A Estrada (2009) - Direção: John HillCoat. Baseado no livro homônimo de Cormac McCarthy. Com: Viggo Mortensen, Kodi-Smit-McPhee, Charlize Theron.
Sinopse: num mundo pós-apocalíptico, quando de uma hora para outra a natureza colapsou, pai e filho pequeno tentam sobreviver pela estrada com a esperança de alcançar o Sul dos Estados Unidos indo para o mar.
Comentário: é um dos filmes distópicos mais impactantes que já vi. Relutei em rever porque a estória é foda demais.
O que seria mais factível num mundo colapsado? Zumbis atacando pessoas ou pessoas sobreviventes atacando pessoas? Seria possível haver pessoas boas e solidárias ainda num cenário desses?
Eu não sou muito fã de filmes de zumbis porque achava a ideia muito irreal. Não acho mais! Não acho, pois agora imagino o sentido metafórico de zumbis... as redes sociais e a manipulação de pessoas pelos algoritmos é uma realidade que está aí. Sob certo ponto de vista, estou cheio de zumbis ao meu redor, e eles podem me atacar como nos filmes, é só acionarem o apito de cachorro para esses zumbis agirem... quem diria que esse dia distópico chegaria...
O filme A Estrada não é dessa espécie de cenário distópico como no filme Guerra Mundial Z (comentário aqui), o filme retrata outro tipo de cenário apocalíptico. A natureza no planeta Terra colapsou de uma hora para outra e as condições de vida no mundo se tornaram inviáveis. Plantas e animais morreram. O que seria dos seres que ainda vivem enquanto houver o que comer? Por algum tempo, os sobreviventes vão procurar comidas estocadas, enlatados. E depois? O filme nos coloca neste cenário. É pavoroso!
Eu me senti entrando num cenário parecido com o do filme quando li o livro-denúncia de Eliane Brum - Banzeiro òkòtó: uma viagem à Amazônia centro do mundo (comentário aqui). Também é desesperador o que a jornalista nos conta. A natureza está sendo destruída de forma acelerada... foda isso!
Amig@s, a natureza está morrendo assassinada por nós, a espécie humana. Enquanto escrevo esta frase me arrepio por clamor da consciência... Estamos causando uma extinção em massa, os mares e rios estão fervendo e não será possível a manutenção dos seres vivos nesses ambientes dessa forma. Estamos destruindo os biomas naturais que ainda existem por ganância, por falta de alternativa para a manutenção da vida de forma mais sustentável e ecológica. Devemos interromper o capitalismo se quisermos ter uma chance.
Afirmo: - Socialismo ou o fim da vida humana!
O que mais me apavorou no filme A Estrada é que estamos caminhando para aquele cenário e nós podemos fazer algo agora, já, e não percebo que vamos agir para interromper o fim. E o ser humano é de uma inteligência extraordinária, com capacidade para criar soluções para nos salvar... mas teríamos que querer isso e formar maiorias para mudarmos o presente e sonharmos com um futuro alternativo.
Faremos isso? Você, amig@ leitor(a), está ao menos se preocupando com isso? Sem o envolvimento e engajamento pessoal daquelas e daqueles que se importam, vamos perder essa batalha pela manutenção da vida na Terra.
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O Castelo de Vidro (2017) - Direção: Destin Daniel Creton. Com Brie Larson, Woody Harrelson, Naomi Watts e elenco.
Sinopse: filme baseado em fatos reais retrata a vida da família da jornalista Jeanette Walls, de pais libertários, a mãe pintora (Watts) e o pai (Harrelson) um faz tudo muito inteligente, e alcoólatra. As crianças tiveram que cuidar umas das outras ao longo da infância e adolescência.
Comentário: um filme que faz o espectador pensar na vida. A história da família Walls provavelmente toca cada pessoa em alguma reminiscência que ela tenha da família e do passado. Durante o filme, pensei no meu tio que acabou perdendo a vida para o alcoolismo, um cara muito inteligente, gente boa pra caramba, e que acompanhei o processo de sua derrota para o álcool, até a própria família não aguentar mais. A habilidade de fazer coisas diversas do pai de Jeanette me lembrou meu próprio pai, inventor de chuveiro de água quente com canos de PVC aquecidos pelo sol e tudo quanto é coisa inventada em casa. Me lembrou um pouco a infância porque me recordei de primos e primas sozinhos se virando desde pequenos. Como disse, a história da família Walls deve tocar em cada espectador de forma pessoal, pois muitos de nós temos histórias de família com aquelas situações que vimos ali. Gostei do filme! Gostei do desfecho da história.
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Apocalipse Now (1979) - Direção: Francis Ford Coppola. Baseado no livro de Joseph Conrad "Heart of Darkness". Roteiro de John Milius e Coppola. Com: Marlon Brando, Martin Sheen, Robert Duvall, Laurence Fishburne, Dennis Hopper, Harrison Ford e elenco.
Sinopse: filme retrata a Guerra no Vietnã. O Capitão Benjamin Willard (Sheen) das operações especiais dos EUA recebe a missão de encontrar e exterminar o Coronel Walter E. Kurtz (Brando) porque o governo norte-americano entende que Kurtz se tornou um renegado e enlouqueceu tendo um exército próprio que o trata como um semideus. Ele se encontra nas florestas do Camboja e Willard deve seguir até lá pelos rios com uma pequena embarcação e tripulação restrita.
Comentário: revi Apocalipse Now dias atrás e o filme é espetacular! A ideia da loucura é a chave para entender a questão das guerras do passado e do presente. Mas não só a ideia da loucura, mas a da razão também. Por trás de uma guerra há método, há cálculo, há homens com desejos de poder e vaidade sem preocupação alguma com qualquer pessoa, comunidade e com a natureza. A guerra é uma ação humana, demasiadamente humana!
Como são marcantes as cenas mais icônicas de Apocalipse Now!
- A chegada dos helicópteros norte-americanos com alto-falantes tocando "Cavalgada das Walquírias", de Richard Wagner, ao vilarejo vietnamita e em seguida o bombardeio arrasando mulheres, idosos e crianças... tudo isso para liberar a praia para uns fdp surfarem...
- O jovem negro dançando "(I Can't Get No) Satistaction", dos Rolling Stones, no pequeno barco subindo o rio rumo ao Camboja, em busca do Coronel Kurtz... depois o que os jovens norte-americanos fazem com pescadores vietnamitas no rio...
- Os momentos embalados pela trilha sonora "The End" do The Doors... (Puta merda! Demais).
- O silêncio e o suspense na mata ao se procurar mangas e ao invés de um soldado vietnamita dar de cara com um tigre...
ELES, SEMPRE ELES - Fiquei pensando nas razões da guerra no Vietnã e na loucura daquela guerra, do genocídio daquele povo, Napalm... Evidente que as imagens se multiplicam na mente e nos trazem os Estados Unidos da América como o causador de todas as guerras da modernidade, todas as tragédias humanitárias dos últimos dois séculos, eles, sempre eles, aqueles que se definiram como os donos do mundo... massacre dos palestinos com anuência deles, Ucrânia e Otan procurando a 3ª guerra em solo europeu com eles por trás, a miséria material da ilha cubana pelo bloqueio imposto por eles, as guerras de destruição em massa no Iraque, Líbia, Afeganistão etc para assentar uma empresa de petróleo em benefício da Roma atual... Que merda tudo isso! O golpe no Brasil por causa do Pré-Sal, hoje entregue a eles... Até quando? Quando essa Roma cairá definitivamente? Sei que vão cair atirando, mas uma hora esse império decadente vai acabar. Nada é para sempre!
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A postagem anterior desta série sobre filmes pode ser lida aqui.
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