quinta-feira, 9 de julho de 2009

Representações do intelectual - Edward W. Said, 1994



Livros e autores como Edward Said e Alfredo Bosi
nos colocam a pensar.

Li este livro em 2008 e relendo trechos dele novamente para aprofundar o conhecimento, vejo o quanto as ideias de Said são sensatas, verdadeiras e pouco ouvidas e seguidas na contemporaneidade mundial.


INTELECTUAL

Seu papel público deve ser o de um outsider, um "amador" e um perturbador do status quo.


O PREÇO A PAGAR

"Mas não há como evitar a realidade inescapável de que tais representações por intelectuais não vão trazer-lhes amigos em altos cargos nem lhes conceder honras oficiais. É uma condição solitária, sim, mas é sempre melhor do que uma tolerância gregária para com o estado das coisas"


PAPÉIS DO INTELECTUAL

Uma das tarefas do intelectual reside no esforço em derrubar os estereótipos e as categorias redutoras que tanto limitam o pensamento humano e a comunicação.


NEM ESQUERDA, NEM DIREITA

"Aquelas figuras cujo desempenho público não pode ser previsto nem forçado a enquadrar-se num slogan, numa linha partidária ortodoxa ou num dogma rígido"


PADRÕES DE VERDADE

"O que tentei sugerir é que os padrões de verdade sobre a miséria humana e a opressão deveriam ser mantidos, apesar da filiação partidária do intelectual enquanto indivíduo, das origens e de lealdades ancestrais. Nada distorce mais o desempenho público do intelectual do que os floreios retóricos, o silêncio cauteloso, a jactância patriótica e a apostasia retrospectiva e autodramática"


AUTONOMIA x INTERESSES PARTICULARES

"Pessoas bem relacionadas promovem interesses particulares, mas são os intelectuais que deveriam questionar o nacionalismo patriótico, o pensamento corporativo e um sentido de privilégio de classe, raça ou sexo"


INTELECTUAIS MODERNOS = IDEÓLOGOS

"O mundo está mais abarrotado do que nunca de profissionais, especialistas, consultores; numa palavra, povoado de intelectuais cujo papel principal é conferir autoridade com seu trabalho enquanto recebem grandes lucros"


FALAR AO PODER COM INDEPENDÊNCIA

Como os intelectuais têm nacionalidade, língua, tradição, crença e normalmente patrão, Said nos diz:

"Por isso, a meu ver, o principal dever do intelectual é a busca de uma relativa independência em face de tais pressões. Daí minhas caracterizações do intelectual como um exilado e marginal, como amador e autor de uma linguagem que tenta falar a verdade ao poder"


IMPOTÊNCIA PARA MUDAR REALIDADES

"Ao sublinhar o papel do intelectual como um outsider, tenho tido em mente o quão impotentes nos sentimos tantas vezes diante de uma rede esmagadoramente poderosa de autoridades sociais - os meios de comunicação, os governos, as corporações etc - que afastam as possibilidades de realizar qualquer mudança"


(COMENTÁRIO: Lembro-me da crise política brasileira em 2005 - o tal mensalão nunca comprovado - e a tentativa de golpe contra o governo do presidente Lula da Silva, golpe organizado pela elite de direita e os seus veículos midiáticos. Eles massacraram os intelectuais vinculados ao Partido dos Trabalhadores ou simpatizantes como a filósofa Marilena Chauí, o professor Antonio Candido, a economista Maria da Conceição Tavares, o sociólogo Emir Sader dentre outros)


Edward Said cita James Baldwin e Malcolm X como figuras que melhor o definem e inspiram: "definem o tipo de trabalho que mais influenciou minhas representações da consciência do intelectual".


Achei o livro fantástico e ainda o releio para apreender os sentidos e refletir bastante sobre o papel que tenho que representar todos os dias. Sei que não sou intelectual, mas estudo diariamente para tentar ser menos ignorante e para contribuir com o movimento social do qual participo.



Bibliografia:

SAID, Edward W. Representações do intelectual - As Conferências Reith de 1993. Tradução de Milton Hatoum. Editora Companhia das Letras, 2005.

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