sábado, 25 de julho de 2009

Formação Econômica do Brasil, Celso Furtado



Releituras em 2015...

Para ilustrar essa história das colonizações nas Américas, que tem origem nas navegações portuguesas e nas expansões comerciais globalizantes dos países europeus, nada como citar estrofes de Os Lusíadas, de Luís de Camões.


CANTO PRIMEIRO

43

Tão brandamente os ventos os levavam
Como quem o Céu tinha por amigo;
Sereno o ar e os tempos se mostravam,
Sem nuvens, sem receio de perigo.
O promontório Prasso já passavam,
Na costa de Etiópia, nome antigo,
Quando o mar descobrindo lhe mostrava
Novas ilhas que em torno cerca e lava.

44

Vasco da Gama, o forte Capitão,
Que a tamanhas empresas se oferece,
De soberbo e de altivo coração,
A quem Fortuna sempre favorece,
Para se aqui deter não vê razão,
Que inabitada a terra lhe parece;
Por diante passar determinava,
Mas não lhe sucedeu como cuidava.

45

Eis aparecem logo em companhia
Uns pequenos batéis, que vêm daquela
Que mais chegada à terra parecia,
Cortando o longo mar com larga vela.
A gente se alvoroça, e de alegria,
Não sabe mais que olhar a causa dela.
- "Que gente será esta?" (em si diziam)
"Que costumes, que leis, que rei teriam?"


PRIMEIRA PARTE

Fundamentos econômicos da ocupação territorial

V. As colônias de povoamento do hemisfério norte

O século XVII é marcado pela debilidade da potência militar espanhola. A coisa só não foi pior para os espanhóis pela rivalidade crescente entre França e Inglaterra (duas das três potências que se destacavam na época, junto com a Holanda).

Ingleses e franceses se empenharam em criar núcleos de população europeia nas Antilhas.

"Em razão de seus objetivos políticos essa colonização deveria basear-se no sistema da pequena propriedade. Os colonos eram atraídos com propaganda e engodos, ou eram recrutados entre criminosos ou mesmo sequestrados."

Os ingleses tiveram mais sucesso nessa colonização. O século XVII foi de muita intolerância religiosa e política nas ilhas britânicas, o que provocou grandes deslocamentos de população dentro das ilhas e para o exterior.

"The English settlements developed in the course of the seventeenth century owe (dever, relacionar a) their existence mainly to the immigration of refugees from religious or political intolerance who left Britain before the Toleration Act of 1689. Puritans founded the first successful settlement in New England in 1620. English Dissenters established settlements in Massachusetts..." J. Isaac, op. cit., p.16.


COLONIZAÇÕES DISTINTAS NAS AMÉRICAS

"Ao contrário do que ocorrera com a Espanha e Portugal, que se haviam visto afligidos por uma permanente escassez de mão de obra quando iniciaram a ocupação da América, a Inglaterra do século XVII apresentava um considerável excedente da população, graças às profundas modificações de sua agricultura iniciadas no século anterior."

(Mas, há uma nota, baseada em Irme Ferencz que diz "A ideia de que a Espanha foi empobrecida pela emigração em massa para a América carece de fundamento, pois o tipo de colônia que os espanhóis criaram nas terras americanas não exigiu grandes traslados da população europeia. Na verdade, estima-se que entre 1509 e 1790, emigraram da Espanha para a América cerca de 150.000 pessoas. Somente no século XVII das ilhas britânicas saíram cerca de 500.000)

Celso Furtado afirma sobre esses milhares de ex-agricultores britânicos: "Tudo indica que essa gente recebia um tratamento igual ou pior ao dado aos escravos africanos".

"No êxito da colonização agrícola portuguesa tivera como base a produção de um artigo cujo mercado se expandia extraordinariamente. A busca de artigos capazes de criar mercados em expansão constitui a preocupação dos novos núcleos coloniais".

O que se podia produzir na América do Norte (Nova Inglaterra) era o mesmo que se produzia na Europa a um custo muito menor.

Porém, alguns produtos se mostraram viáveis: "As condições climáticas das Antilhas permitiam a produção de um certo número de artigos - como o algodão, o anil, o café e principalmente o fumo - com promissoras perspectivas nos mercados da Europa".

O recrutamento de mão de obra, principalmente por parte da Inglaterra, seguiu a lógica da servidão temporária. Apesar disso, o recrutamento de criminosos e o rapto de adultos e crianças se transformou em calamidade pública.


COMENTÁRIO: na leitura deste capítulo em 2008, fiz a seguinte observação: "com diversas nuanças, o certo é que tanto na América do Sul e Central como na América do Norte houve chegada de escória - criminosos e vagabundos - da Europa (além, é lógico, de ex-agricultores e raptados). A diferença é que uns falavam português e espanhol, outros o inglês e o francês".


Bibliografia:

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. In: Grandes Nomes do Pensamento Brasileiro. Publifolha 2000.

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