terça-feira, 14 de julho de 2009

Leitura: Formação Econômica do Brasil, de Celso Furtado



Celso Furtado. Foto: internet.

Comecemos com um pouco de Camões e Os Lusíadas:

CANTO PRIMEIRO

3
Cessem do sábio grego e do troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandre e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram,
Que eu canto o peito ilustre lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram;
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.


PRIMEIRA PARTE

Fundamentos econômicos da ocupação territorial

II. Fatores do êxito da empresa agrícola

Portugal contou com um conjunto de fatores favoráveis ao empreendimento da empresa agrícola na América.

Ele já tinha décadas de experiência em produção de açúcar nas ilhas do Atlântico. Antes de desenvolver a técnica de refino de açúcar, somente os venezianos conheciam o segredo.

As crises de superprodução não são coisas somente do capitalismo moderno. Já em 1496 houve uma crise de superprodução de açúcar.

Celso Furtado, no entanto, nos diz sobre a importância para a Europa da entrada dos portugueses no mercado açucareiro:

"Uma das consequências principais da entrada da produção portuguesa no mercado fora a ruptura do monopólio, que mantinham os venezianos, do acesso às fontes de produção."

Parceria de portugueses e flamengos:

"A contribuição dos flamengos - particularmente dos holandeses - para a grande expansão do mercado do açúcar, na segunda metade do século XVI, constitui um fator fundamental do êxito da colonização do Brasil (...) eram nessa época o único povo que dispunha de suficiente organização comercial para criar um mercado de grandes dimensões para um produto praticamente novo, como era o açúcar."

Furtado nos fala da eficiência dos holandeses em "marketing" para colocar o produto açúcar no mercado: "torna-se evidente a importância da etapa comercial para o êxito de toda a empresa açucareira".

Coube aos capitalistas holandeses não só o financiamento da refinação e comercialização do açúcar, como eles também "participaram no financiamento das instalações produtivas no Brasil bem como no da importação da mão de obra escrava". Noel Deer (The History of Sugar) diz que o negócio era mais dos holandeses que dos portugueses.

Resolvidos os problemas de técnica de produção, criação de mercado e financiamento, restou o problema da mão de obra: escravos africanos.

Na Europa de então, a mão de obra era um fator de produção caro devido ao aquecido mercado com as índias orientais. Além disso, as condições de trabalho na colônia exigiriam maior atrativo financeiro para que alguém topasse vir para cá.


O FOCO ECONÔMICO ERA O OURO!

"O que importa ter em conta é que houve um conjunto de circunstâncias favoráveis sem o qual a empresa não teria conhecido o enorme êxito que alcançou. Não há dúvida que por trás de tudo estavam o desejo e o empenho do governo português de conservar a parte que lhe cabia das terras da América, das quais sempre se esperava que um dia sairia o ouro em grande escala."

Celso Furtado conclui: "O êxito da grande empresa agrícola do século XVI - única na época - constituiu, portanto, a razão de ser da continuidade da presença dos portugueses em uma grande extensão das terras americanas."


COMENTÁRIO DO BLOG (1): 

A empresa agrícola era para manter a possessão da América em custos razoáveis. O foco econômico sempre foi o extrativismo do ouro.

COMENTÁRIO DO BLOG (2): 

A questão execrável da escravidão, utilizada durante a expansão comercial europeia, sempre existiu. Nesse período, foram vítimas os africanos. Em outros tempos, sempre foram vítimas os povos derrotados.


Bibliografia:

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. In: Grandes Nomes do Pensamento Brasileiro. Publifolha 2000.

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