quarta-feira, 29 de julho de 2009

Formação Econômica do Brasil, by Celso Furtado





Começo esta postagem com o poema de Camões. Os Lusíadas enaltece os feitos portugueses, mas desde aquela época, os povos originários de África, Ásia e Américas, que sofreriam as invasões e seriam colonizados, já tinham leitura clara do que significava esses povos europeus que cortavam mares nunca dantes navegados em busca de novos horizontes comerciais. Nestes versos, os mouros já alertavam sobre isso e tentavam enfrentar os invasores.

No capítulo, Celso Furtado segue contando a saga das ocupações por espanhóis, portugueses, ingleses, franceses e holandeses nas terras de América.


CANTO PRIMEIRO

78

E, entrando assi a falar-lhe, a tempo e horas
A sua falsidade acomodadas,
Lhe diz como eram gentes roubadoras
Estas que ora de novo são chegadas;
Que nas nações na costa moradoras,
Correndo a fama veio, que roubadas
Foram por estes homens que passavam,
Que com pactos de paz sempre ancoravam.

79

- "E sabe mais (lhe diz) como entendido
Tenho destes cristãos sanguinolentos,
Que quase todo o mar têm destruído
Com roubos, com incêndios violentos;
E trazem já de longe engano urdido
Contra nós; e que todos seus intentos
São para nos matarem e roubarem,
E mulheres e filhos cativarem.

80

"E também sei que têm determinado
De vir por água a terra muito cedo,
O Capitão, dos seus acompanhado,
Que da tenção danada nasce o medo,
Tu deves de ir também co'os teus armado
Esperá-lo em cilada, oculto e quedo,
Porque, saindo a gente descuidada,
Cairão facilmente na cilada.

81

"E se inda não ficarem deste jeito
Destruídos ou mortos totalmente,
Eu tenho imaginada no conceito
Outra manha e ardil que te contente:
Manda-lhe dar piloto, que de jeito
Seja astuto no engano, e tão prudente,
Que os leve aonde sejam destruídos,
Desbaratados, mortos ou perdidos."

(Os Lusíadas, Luís de Camões)


PRIMEIRA PARTE

Fundamentos econômicos da ocupação territorial

VI. Consequências da penetração do açúcar nas Antilhas

CUSTOS CONCORRENTES: MÃO DE OBRA ESCRAVA X PEQUENA PROPRIEDADE

"Surge assim uma situação completamente nova no mercado dos produtos tropicais: uma intensa concorrência entre regiões que exploram mão de obra escrava em grandes unidades produtivas, e regiões de pequena propriedade e população europeia".

De forma sucinta, o "curta metragem" é o seguinte:

Ingleses e franceses iniciam colônias de povoamento nas Antilhas e parte da América do Norte. A ideia inicial era produzir produtos não concorrentes com o açúcar brasileiro.

Com a expulsão dos holandeses do Brasil, estes levam as técnicas, escravos africanos e o dinheiro para financiar e implantar o açúcar nas Antilhas. Resultado: dançaram as pequenas propriedades locais.
Resta aos ingleses e franceses irem para a América do Norte tentar a fixação das colônias de povoamento.

Celso Furtado diz: "Tudo inutilmente. A valorização das terras provocada pela introdução do açúcar agiu inexoravelmente, destruindo em pouco tempo esse prematuro ensaio de colonização de povoamento das regiões tropicais da América".

Pouco depois, tornaram-se viáveis as colônias do norte ao exportarem gêneros alimentícios para as áreas de produção açucareira.

Outra coisa: "Casks and barrels too were needed in which to pack the sugar. These were provided from the adundant forests of Massachusetts and Connecticut". (dá-lhe acabar com as florestas norte-americanas para servir ao transporte do açúcar e demais mantimentos)

O que mais nasceu no comércio local? A indústria derivada da cana: bebidas alcoólicas.


DIFERENÇA BÁSICA ENTRE COLÔNIAS DO NORTE E DEMAIS: VALOR AGREGADO

"As colônias do norte dos EUA se desenvolveram, assim, na segunda metade do século XVII e primeira do século XVIII, como parte integrante de um sistema maior dentro do qual o elemento dinâmico são as regiões antilhanas produtoras de artigos tropicais (...) Essa separação, ao tornar possível o desenvolvimento de uma economia agrícola não-especializada na exportação de produtos tropicais, marca o início de uma nova etapa na ocupação econômica das terras americanas".

Esse avanço comercial dos colonos norte-americanos só foi possível devido à guerra civil por que passava a Inglaterra. E depois pela guerra entre ingleses e franceses. Os norte-americanos começaram a "nadar de braçadas" no comércio atlântico.

Já no século XVIII foi difícil para a Inglaterra reverter esse quadro. Se por um lado a produção em escala com mão de obra escrava era mais rentável, a de pequenas propriedades agregava mais valores distributivos e fixadores nas terras do norte.

COMENTÁRIO: 

OU SEJA, HAVIA FLUXO DE RENDA MONETÁRIA - CAPITAL INVESTIDO EM FATORES DE PRODUÇÃO QUE POR SUA VEZ RETORNAM COMO RENDA LOCAL.



MAIOR PRODUÇÃO PER CAPITA NO NORTE

"Essas colônias de pequenos proprietários, em grande parte auto-suficientes, constituem comunidades com características totalmente distintas das que predominavam nas prósperas colônias de exportação. Nelas era muito menor a concentração da renda, e as mesmas estavam muito menos sujeitas a bruscas contrações econômicas"

Observe este fato e comento em seguida: "nas colônias do norte dos EUA os gastos de consumo se distribuíam pelo conjunto da população, sendo relativamente grande o mercado dos objetos de uso comum"

COMENTÁRIO (2009): 

O que o Brasil está vivendo com o Governo de Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores é isso. O nosso país implantou uma política de crescimento interno sólida, com mais distribuição de renda, o que tem permitido que enfrentemos a crise mundial atual. Se seguirmos nessa linha de crescimento interno, onde há uma massa de 100 milhões de brasileiros ainda por acessar "o mercado de objetos de uso comum" com distribuição de renda mais equânime e com exportação desconcentrada, diversificada e de bens de valor agregado, poderemos crescer ainda umas duas décadas.

É isso!


Bibliografia:

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. In: Grandes Nomes do Pensamento Brasileiro. Publifolha 2000.

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