sábado, 31 de maio de 2025

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 31 de maio de 2025. Sábado.


O MUNDO E A VIDA PODEM SER MELHORES

E mais um mês do ano vai terminando. O tempo segue avançando nos relógios do mundo humano. Marcação de tempo é uma invenção do animal homo sapiens. O restante dos elementos da natureza só estão por aí, estão, são, se transformam ou são transformados em outros elementos. No fundo, nós humanos também só estamos, somos, estamos por aí, por aqui.

Faleceram neste mês alguns seres humanos que eu os tinha como pessoas que contribuíram positivamente para a comunidade humana; morreram, não estão mais entre nós. 

Pepe Mujica estará por muito tempo nos corações das pessoas progressistas; esperemos que suas palavras e seu exemplo inspirem as pessoas que caminham pela Terra. Marcos Martins, nosso companheiro de Osasco, me inspirou a ser um bom sindicalista; ele fez o bem para muita gente em nossa cidade e Estado. O professor Evanildo Bechara foi um progressista no trato da Língua Portuguesa na questão da inclusão dos diversos falares de nosso povo. Sempre teve o meu respeito. Uma referência também. Sebastião Salgado foi e será por muito tempo um ser humano que inspira e exemplifica o quanto podemos ser melhores para o mundo.

O tempo segue na nossa vida de animais humanos que marcam o tempo... tic tac tic tac.

O mundo poderia e pode ser muito melhor para o conjunto da população e para a biodiversidade da Terra. Nós temos uma capacidade inacreditável de criar soluções para as coisas, os homo sapiens são seres vivos de grandes possibilidades. A questão que acompanha a nossa caminhada pelo planeta é por que o mal está sempre prevalecendo na sociedade humana se somos seres dotados de inteligência? Como mudar isso?

Educar massivamente a população com princípios éticos e solidários é uma forma de melhorar a sociedade humana. Educação, cultura, ciência com ética, conhecimento voltado ao bem coletivo... elementos característicos das possibilidades da natureza do animal humano. Podemos mudar o mundo verdadeiramente se reunirmos as condições adequadas para tal mudança. Uma coisa é fato: nossa espécie desenvolveu tecnologia para fazer a vida no planeta Terra ser melhor para nós e para a biodiversidade. Desenvolvemos, sim.

Com atitude e estratégia adequadas, nós as pessoas de boa vontade pelo bem comum, podemos mudar a tendência atual do fim das condições de vida na Terra.

Eu sei que neste momento, neste exato momento, fim do dia 31 do mês de maio do ano de 2025 no Brasil e no mundo, as coisas estão ruins para o bem da humanidade e da biodiversidade. Eu sei. Genocídio do povo palestino e aumento dos miseráveis e gente sem-chão - expulsos pelos poderosos -, extrema-direita avançando, o capitalismo acelerando o lucro fácil e encurtando o amanhã de todos, as pessoas de boa vontade dispersas em pequenas bolhas e desunidas. Eu sei.

Eu não acreditei ser possível mudar o mundo e as pessoas até bem perto dos trinta anos de existência pela Terra. Nem viver eu queria, mesmo tendo importância para as pessoas de nosso meio social. Ao sobreviver às primeiras décadas, o caminhar encontrou veredas que me mudaram como pessoa, e nessas veredas acessei tudo aquilo que muda pessoas e o mundo: educação, cultura, ciência com ética, grupos éticos e solidários. Mudei porque os humanos podem mudar. Somos seres inteligentes.

Enfim, aos 56 anos de idade, estando ainda por aqui, sabendo que passaram pela Terra pessoas como Machado de Assis lá no passado da escravidão no Brasil, vendo tanta gente boa nos locais mais simplórios do mundo, na região mesmo onde vivo, não tenho o direito de achar que o mundo não tem mais jeito, mesmo estando num cenário muito adverso para o bem comum. Meu percurso pela Terra exige de mim acreditar na vida e na inteligência humana.

Vem aí o mês de junho no meu mundo e no mundo todo. Vamos nos esforçar por viver decentemente, sem fazer mal a ninguém, e fazendo ações que possam de alguma forma melhorar a vida humana. Compartilhar pensamentos como esse é minha singela forma de defender que acreditemos que é possível fazer o mundo melhor. 

Não represento ninguém, já representei e tentei representar decentemente. Mas, no fundo, sou um exemplo de uma pessoa que foi modificada pelas oportunidades da educação, da cultura, da ciência, do acolhimento e da solidariedade das pessoas.

William


 
Com Pirulla, em 19/9/22.

Post Scriptum: estou na torcida pela recuperação do Pirulla, figura do bem, dessas que citei acima, que sofreu um AVC nessa semana. O pessoal mais próximo a ele pede apoio, pois ele cuida de seus pais idosos e não há previsão sobre sua condição de voltar ao trabalho de divulgação científica. 

PS 2: Torço pelas pessoas que conheço que estão na luta por suas condições de saúde e vida. São pessoas boas e que sempre praticaram o bem comum.


Vendo filmes (XXIX)



Refeição Cultural

Os robôs e nós (ou as máquinas, ou ainda a IA e nós)


"Durante décadas tive receio em relação à Inteligência Artificial. Era uma das pessoas que temia que as máquinas adquiririam vida própria e colocariam sob ameaça as outras espécies animais, sobretudo a humana. Nicolelis me explicou a falácia da 'Inteligência Artificial', algo impossível de se realizar. 

A inteligência é animal, uma máquina não pode ser inteligente no sentido da criação humana. Só nós somos inteligentes, por enquanto (pode ser que fiquemos limitados como as máquinas se não mudarmos o rumo das coisas)." (William Mendes, Blog Refeitório Cultural, 01/07/21 - ler aqui)


Antes da leitura do livro O verdadeiro criador de tudo (2020), do neurocientista Miguel Nicolelis, eu via e compreendia o mundo humano de uma forma e depois da leitura passei a ver e compreender a humanidade e suas criações no planeta Terra de outra forma, bem mais consciente agora.

Até 2021, eu realmente achava ser possível a realização da ideia central de boa parte da ficção científica e das literaturas ficcionais da possibilidade de máquinas se tornarem inteligentes ao ponto de se rebelarem contra a espécie que a criou - os humanos - e tomarem o mundo para si nos eliminando ou nos fazendo de escravos à sua disposição. 

Eu achava possível isso porque não tinha a compreensão de que só seres vivos podem ser inteligentes, já que a inteligência é analógica e não digital. Só organismos vivos podem desenvolver inteligência e criatividade. Máquinas, não.

A ficção a respeito das máquinas é bem antiga. Em relação a filmes já no século XX, o clássico de Stanley Kubrick virou a referência para tudo que veio depois de 1968. O filme WALL-E, por exemplo, é um diálogo com 2001 e seu computador central HAL 9000.

Dos filmes de robôs e IA, a série que mais me deixou pensativo por muito tempo foi a do Exterminador do Futuro e o domínio da Terra pelos robôs da Skynet. 

Só o professor Nicolelis conseguiu me convencer de que isso jamais acontecerá, pois as máquinas não são inteligentes e não têm vida própria. Tem sempre um animal humano por trás delas, pode ser um lunático fdp, mas estamos lidando com programação.

O assunto é complexo e não se esgota num comentário sobre filmes de ficção científica, é claro!

No entanto, fica registrado que esses filmes que revi e comento abaixo são filmes que avalio serem muito visionários e que ainda valem pelo que representam. 

As pessoas com cara na tela, que vimos no WALL-E quase duas décadas atrás, foi uma cena premonitória demais! Hoje as pessoas morrem atropeladas ao atravessar a rua porque não olham para a frente.

A questão da imposição do novo por parte das corporações capitalistas e a transformação de sucata e obsolescência de tudo que vemos no filme Robôs é mais atual que nunca!

E sobre IA e corporações e o risco de dominação dos seres humanos por parte das máquinas, que já está acontecendo, o filme Eu, robô nos traz reflexões pertinentes. Não porque uma IA vai se rebelar contra nós, como a Viki, ou a IA do 2001 ou do WALL-E, mas porque tem uns fdp por trás delas levando ao limite o capitalismo exploratório e predatório em benefício de alguns e prejuízo de bilhões de seres humanos e espécies de vidas.

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FILMES


WALL-E (2008) - Direção: Andrew Stanton.

SINOPSE (DVD):

O aclamado diretor de Procurando Nemo e os criadores de Carros e Ratatouille transportam você para uma galáxia não muito distante dessa aventura interplanetária sobre um robô muito determinado chamado WALL-E. Depois de milhares de solitários anos fazendo o que ele foi construído para fazer, o curioso e adorável WALL-E encontra uma nova razão para viver quando conhece uma robô de busca de alto design chamada EVA. Junte-se ao casal e ao divertido elenco de personagens nessa fantástica viagem pelo Universo.

COMENTÁRIO:

Durante anos, tive no filme WALL-E a referência de acerto visionário a respeito do futuro da humanidade, um filme que apontou para onde estávamos caminhando. As redes sociais e os aparelhos celulares que viriam a capturar os seres humanos estavam em seu começo e o enredo apontava para o que viria a ser a geração cara na tela.

A destruição do planeta Terra pela poluição do consumo capitalista e as pessoas que não olhavam mais para a frente e só viam o mundo através da tela em sua cara foram as cenas do filme que nunca mais me esqueci. E aqui estamos nós, dezessete anos depois, nessas condições de destruição do planeta e robotização e desumanização dos humanos por essas máquinas e seus algoritmos.

Ao rever o filme, pude captar muito mais coisas! Que obra extraordinária!

Além do diálogo com o antológico filme de Stanley Kubrick, "2001 - Uma odisseia no espaço" (1968), o filme provoca reflexões sobre amor, amizade, diversidade, o sentido da vida, as consequências da voracidade do capitalismo, e a questão da sustentabilidade. 

O filme é tão incrível que já aponta duas décadas atrás o que os bons neurocientistas como Miguel Nicolelis alertam a respeito da IA, que não é nem inteligente nem artificial.

Se o filme de Kubrick acende o farol vermelho ao apontar que máquina é máquina, que máquina não é inteligente, ela só é programada por mentes humanas, e que o perigo está justamente no fato de não ser possível esperar uma decisão de abortar uma missão porque máquina é máquina, é burra, e nem se os humanos decidirem algo contra o programa, a máquina vai obedecer, WALL-E mostra outra vertente dessas máquinas programadas por nós mesmos.

Por trás da destruição do planeta Terra por falência das condições de abrigo à vida, já que os humanos transformaram nosso mundo num amontoado de lixo proveniente das futilidades do mercado consumidor capitalista, continua na nave Axiom o predomínio do mesmo modus operandi que causou o abandono do planeta: compre, compre, consuma, consuma...

Em 1968, a era do boom espacial, a máquina HAL 9000 decide eliminar a tripulação porque não aceita comandos que abortem a missão a Júpiter. Quarenta anos depois, a IA da nave Axiom desacata o capitão ao se negar a voltar à Terra após os sinais de condições de vida terem sido detectados pelo robô EVA (Examinadora de Vegetação Alienígena). Por trás da IA sempre há um programador, um comando... vimos isso em WALL-E.

Entra década, sai década capitalista, o que está em jogo não é a importância da vida e suas possibilidades infinitas, o que está em jogo é não mudar o rumo das coisas, é deixar tudo como está, já que o mundo e tudo nele contido deve ser apenas um espaço de exploração para os poucos donos dos meios, os capitalistas. Dane-se o planeta, os bilhões de humanos e a infinidade de vida dos ambientes terrestres!

Lógico, o filme tem toda a maravilha dos contos ficcionais, está contratado com os espectadores todas as possibilidades de amor, amizade, humor, drama, tensão e os demais temperos da sétima arte.

Olha, vejo esse filme mil vezes!

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ROBÔS (2005) - Direção: Chris Wedge. Roteiro: William Joyce.

SINOPSE (DVD):

Dos criadores de A Era do GeloRobôs é uma nova aventura que irá maravilhar a todos com sua animação computadorizada de última geração. Robôs conta a história de Rodney Lataria, um aspirante a inventor, que viaja para Robópolis para conhecer seu ídolo, o Grande Soldador. Pelo caminho, ele faz muitos amigos e juntos acabam encontrando o malvado Dom Aço. Sob a orientação de sua mãe, Don Aço tomou a empresa do Grande Soldador e decidiu negar acesso aos outros robôs a peças necessárias para sua manutenção. Será que Rodney é feito daquilo que se faz necessário para salvar a todos?

COMENTÁRIO:

O começo da história já é espetacular! Numa comunidade de robôs bem classe trabalhadora, um robô adulto sai gritando pelas ruas que vai ser pai, numa alegria contagiante. Ao voltar para casa, sua companheira diz que ele chegou tarde... já entregaram a encomenda... mas tranquilizou o marido em seguida, lembrando-lhe que o melhor é fazer o bebê juntos! Os dois começam então a montar as peças vindas na caixa e depois de um tempo temos a linda criança robô, batizada pelos pais como Rodney.

O garoto vai crescendo e tomando consciência de seu lugar e de sua família naquela sociedade. Eles são pobres, só usam coisas de segunda mão e seu pai é sempre humilhado pelo patrão em seu emprego de lavador de pratos. O pequeno Rodney é criativo e quer ser inventor. Criou até um robozinho para ajudar seu pai no trabalho. Com o tempo, o jovem se despede da família para ir tentar realizar seu sonho de ser um inventor e poder ajudar as pessoas e a comunidade.

Como anunciado na sinopse, na cidade grande Rodney compreende melhor o mecanismo do sistema capitalista, a criação de necessidades por parte dos capitalistas e o quanto o povão é descartável para os donos do poder.

O filme tem muitas camadas, é muito bem-feito. Tem aventura e graça ao mergulharmos numa cidade com mecanismos incríveis conectados de forma a tudo funcionar perfeitamente como, por exemplo, no transporte público. Tem o aspecto lúdico da luta de classes e dos interesses antagônicos entre os que mandam nos meios de produção e os que dependem dos bens e direitos para sobreviverem.

Olha, amig@s, o filme poderia estrear hoje nos cinemas que seria atualíssimo para pensarmos o mundo e a vida. Incrível um roteiro que tenha envelhecido tão bem quanto esse do filme Robôs.

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EU, ROBÔ (2004) - Direção: Alex Proyas. Inspirado em contos de Isaac Asimov. Com Will Smith, Brigdet Moynahan, Bruce Greenwood, Chi McBride, James Cromwell.

SINOPSE (DVD):

O superastro Will Smith declara guerra às máquinas neste inesquecível suspense de ficção científica que se desenrola em meio à ação alucinante! Quando um importante cientista é encontrado morto, o detetive Del Spooner (Smith), que odeia robôs, desconfia que um avançado modelo de robô é o culpado pelo assassinato. No entanto, de acordo com as Três Leis da Robótica, um robô é incapaz de machucar um humano... mas algumas regras foram feitas para serem quebradas! Brigdet Moynahan co-estreia esta história futurística de suspense que nos leva a questionar se a tecnologia levará o ser humano à salvação... ou à extinção.

COMENTÁRIO:

Duas cenas no filme são bem interessantes para reflexão:

Numa delas, o protagonista - detetive Del Spooner - relembra um episódio doloroso do passado no qual ele ordenou a um robô que salvasse uma garota em um acidente no qual ele também estava envolvido. O robô seguiu a "lógica" e salvou a pessoa que tinha 45% de chances de sobreviver, enquanto a outra tinha 11%. A "lógica" prevalece porque a máquina não pensa, não tem sentimentos, não tem coração. Ela é só um programa.

Na outra cena, o detetive Spooner faz uma pergunta ao robô que se autodenominou Sonny em um interrogatório se ele seria capaz de criar uma música clássica ou de fazer um desenho criado por si, na tentativa de humilhar ou reduzir Sonny à sua condição de máquina e Sonny simplesmente devolve a pergunta a Spooner deixando ele desconcertado: - você é capaz de fazer uma música clássica ou um desenho?

Daí vemos a importância de se saber fazer as perguntas certas para as mais diversas situações. Pergunta e resposta certa é um dos enigmas que o holograma do Dr. Alfred Lanning, cientista morto, deixa ao seu amigo Spooner.

Sobre perguntas e respostas, nunca me esqueci da lição do professor de química Glicério, quando eu tinha uns doze ou treze anos, na qual ele dizia que os alunos deveriam ler as perguntas com atenção, mais de uma vez, porque muitas vezes a resposta já está indicada na pergunta. Se a pergunta diz qual, quem, o que, como, quando, onde etc, o aluno não vai escolher uma alternativa que não tenha relação com esse pronome interrogativo. Tem uma lógica nisso.

Voltando ao filme, o enredo é uma boa oportunidade ainda hoje, duas décadas depois, para refletirmos sobre a questão da Inteligência Artificial (IA), que evoluiu drasticamente no preenchimento do cotidiano do mundo em 2025. E até um filme como esse é capaz de apontar aquilo que os neurocientistas sérios nos alertam: que IA não é nem inteligente, nem artificial, são programas baseados em dados e velocidade de processamento.

Foi bom rever o filme. Ele tem umas pegadas (sacadas) bem legais!

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COMENTÁRIO FINAL

Esses filmes são bons demais para seres revistos e abrir reflexões sobre o passado, o presente e o futuro da espécie humana e do planeta Terra. Valem a pena!

Para ler outras postagens sobre filmes, é só clicar aqui e ver a anterior desta série.

William


quarta-feira, 28 de maio de 2025

Livro: Coração de vidro - José Mauro de Vasconcelos



Refeição Cultural

A edição que li do livro de José Mauro de Vasconcelos é uma edição bem antiga, provavelmente de 1970 (não tem a data). O autor publicou a obra em 1964. Acho que tinha lido suas estórias quando era criança ou adolescente. Peguei o livro na casa de meus pais.

As histórias das personagens são bem tristes. Sempre tento imaginar a recepção da obra em sua época de lançamento. Estávamos sob ditadura nos anos sessenta e setenta e boa parte da elite era mancomunada com os milicos e tirava proveito da violência contra o povo e a classe trabalhadora. Os leitores devem ter se sensibilizado com as personagens.

O livro retrata a história do pássaro Azulão (A Missa do Sol), do peixinho Clóvis (O Aquário), do cavalo Saturno (O Cavalo de Ouro) e da mangueira Candoca (A Árvore), todos personagens oriundos da mesma fazenda, uma propriedade secular da época da escravidão brasileira, que vigorou até o século XIX.

Ler os microcontos de José Mauro de Vasconcelos neste momento brasileiro não deixa de ser interessante. Nossa história é triste como a história de Candoca, Clóvis, Saturno e Azulão. O povo brasileiro é nada para os herdeiros das capitanias hereditárias como nada é a fauna e a flora deste belo país.

Passado mais de meio século da enunciação das histórias daquelas personagens numa antiga fazenda de exploração de monocultura de commodities tocada por herdeiros dos escravocratas, estamos hoje na mesma, na mesmíssima condição político-econômico-social. O agro dos coronéis ruralistas ainda manda no Brasil. 

Esses sujeitos e seus herdeiros estão nos parlamentos, estão em milhares de prefeituras de antigas fazendas chamadas de cidades. Estão na máquina estatal, dominam o orçamento público e secreto. Mandam nas decisões do judiciário e nos capitães do mato das forças de repressão estatais. Mandam nas casas que manipulam a fé do povo.

No fundo, no fundo, somos quase como as personagens da fazenda do livro Coração de Vidro

William


Bibliografia:

VASCONCELOS, José Mauro de. Coração de Vidro. Desenhos em preto do autor. Ilustrações em cores de Gioconda Uliana Campos. 6ª edição. Edições Melhoramentos.


Instantes (15h44)


Era uma palmeira linda...

Refeição Cultural 

Foi só o vento aumentar um pouco por causa da frente fria e ficamos sem energia elétrica no condomínio. Mais uma vez, uma folha de palmeira caiu sobre os fios e o transformador explodiu. Os homens, irados, deram o troco na natureza e arrancaram todas as folhas da palmeira. É mais fácil eliminar a árvore que fazer manutenção. 

Enquanto estamos sem luz elétrica, e a vida conectada parada por algumas horas, vejo a dificuldade que as pessoas têm de manter a calma e o controle básico psicológico para lidar com mudanças na rotina de suas vidas digitais. 

O humano, principalmente o urbano, não tem estrutura psicológica para suportar uma interrupção de serviços públicos essenciais (privatizados em benefício do lucro de alguns) como energia, água, internet, transporte etc.

Neste momento desconectado e sem energia elétrica, estou pensando em nossas irmãs e irmãos da Faixa de Gaza, Palestina, sem água, comida, Internet, energia, casa, hospitais... e sob ataques assassinos para roubarem sua terra, seu chão. 

William

Poema 30: Oração como utopia


ORAÇÃO COMO UTOPIA


Enquanto me banhava

meus pensamentos oravam

pedindo ajuda e proteção:

aos palestinos violentados,

aos viciados em drogas, 

aos imigrantes sem chão, 

às mulheres sem liberdade, 

às vítimas da depressão, 

aos odiados e perseguidos,

a quem falta o pão. 


Ateu não fala com deuses,

mas a razão consciente

sabe ser possível a mudança 

pela inteligência humana. 


Falemos de mudança!

Sejamos sonhadores!

Esperancemos!

Utopia, já!

Amém!


William 

28/05/25


segunda-feira, 26 de maio de 2025

Instantes (23h10)


Com Marcos Martins em 29/03/25.

Refeição Cultural

Um dia triste. Estive no velório do querido companheiro Marcos Martins, liderança histórica de Osasco e do Partido dos Trabalhadores. Fui prestar minha homenagem ao político que foi inspiração e referência para mim desde que o conheci no final dos anos oitenta, época na qual ele organizava os bancários como funcionário do nosso Sindicato. Eu trabalhava no Centro Administrativo do Unibanco (CAU) na Rodovia Raposo Tavares e por influência do Marcão e sua equipe me envolvi com o Sindicato.

Um dia triste pela partida de um líder popular que inspirou e agregou pessoas para as causas de nossa gente, um povo explorado e sofrido, povo de um país desigual, com uma elite má, perversa e canalha. Marcos Martins era um político diferente da maioria que conhecemos por aí. Era um cara simples, solidário, preocupado com o próximo. Transmitia uma humildade e uma firmeza de propósito que encantava a gente. Eu sempre vi o Marcão como via minha tia Alice, minha mãe e as pessoas simples que conheço. 

Até a forma simples de se vestir no dia a dia nas bases sociais que representava foi uma referência para mim quando fui sindicalista. Não é a roupa que define as pessoas e sim suas ações, pensamentos e práticas.

Companheiro Marcos Martins, presente! Obrigado por tudo!

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Mais um dia de mortes de crianças, mulheres, de um povo sendo trucidado pelo exército assassino de Israel. O que fazer para parar o genocídio do povo palestino? Só nesta semana os sionistas massacraram mais de setecentas pessoas na Faixa de Gaza! O mundo humano do século XXI assiste sem tomar uma atitude que faça parar o morticínio dos irmãos e irmãs tão humanos como qualquer um de nós.

É insuportável passar o dia sabendo que estão matando um povo e não podermos fazer nada!

Essa miséria toda da humanidade só faz aumentar meu sentimento de privilégio por estar em um teto, com comida disponível, num lugar sem a guerra acontecendo. E olha que a extrema-direita quer fazer a guerra chegar até onde estou. Mas ainda estamos aqui!

Sinto vergonha como ser humano. Mas sinto que como ser humano podemos mudar o mundo. Só nós podemos fazer isso! 

Gostaria que a gente da minha classe parasse de defender o capitalismo e se propor a administrar a manutenção do regime de destruição do mundo, regime dos capitalistas. 

A única chance para o mundo é lutar pelo fim do capitalismo e dos capitalistas! Olho ao meu redor e sinto uma solidão profunda! Não vejo as pessoas de meu meio querendo mudar o mundo.

Parem de matar o povo palestino!

William

26/05/25

domingo, 25 de maio de 2025

Instantes (15h46)



Refeitório Cultural

Quando fui comer um pão de queijo que trouxe da padaria para o café, fiz uma prece ao Deus dos palestinos para que ele interceda por seu povo que está morrendo de fome neste momento na Faixa de Gaza sendo ocupada pelo exército de Israel, que mata crianças, mulheres, idosos e civis diariamente e o mundo não faz nada para interromper esse genocídio. Mais cedo, ao tomar um copo de iogurte e comer uma banana, também me senti mal ao pensar na fome dos palestinos em Gaza. Que mundo é esse? O que posso fazer para mudar essa realidade? Estou com vergonha da minha espécie animal.

Ao caminhar no Parque Continental, uma região ainda arborizada da cidade e do Estado governados por dois humanos que representam a morte e a destruição da natureza em benefício de seus parças capitalistas, minha mente esperançava utopias contrariando minha razão que me deixa com cara de cu para a existência humana. Na caminhada com dores no quadril esperançava que ainda posso melhorar minha condição física, quase acreditando em milagres. Ao redor a natureza: que insiste em viver, mesmo sob ataque feroz dos humanos, que insistem em matar a vida de tudo. Até borboletas e flores multicores enfeitaram meu caminho.

Os filhotes da fauna e os brotos da flora são sempre a esperança da vida. Sempre. Sementes da esperança os filhotes, as crianças e as plantas. Até o quentinho do sol insiste em fazer a gente acreditar no amanhã.

Que o Deus dos palestinos e os deuses de todos os povos (os que pregam o amor e não o ódio) prevaleçam e a gente possa ter um amanhã.

William

25/05/25

sábado, 24 de maio de 2025

Instantes (14h45)



Refeição Cultural

Acabei de voltar de uma manifestação em defesa da natureza, denunciando o corte de mais de 6 mil árvores da área do Instituto Butantan, dentro da cidade universitária da USP. Dói muito saber que aquela pequena floresta por onde caminhei tantos anos vai ser assassinada pelos capitalistas. Quanta fauna e flora destruída em nome do capital e em benefício de alguns fdp! Sempre isso!

Enquanto perdemos a batalha pela vida, enquanto os poucos donos do capital vencem e destroem tudo, vamos perdendo seres humanos que ainda sensibilizavam de alguma forma as pessoas, numa luta inglória contra a normalização da morte do mundo (a Terra) e da sociedade (coisificação do ser humano) em benefício de alguns. Ontem faleceu o fotógrafo Sebastião Salgado. Dias atrás faleceram Pepe Mujica e o Papa Francisco. São insubstituíveis pelo que fizeram e pelo que significaram para a ideia de um mundo alternativo ao capitalismo.

Neste momento, o maior partido de esquerda do Brasil está em movimentação intensa para definir seu processo eleitoral. Apesar de algumas candidaturas alternativas à corrente hegemônica, a tendência é a manutenção do status quo partidário. Já ouvi da boca de candidatos que serão vitoriosos que a luta pelo socialismo acabou, que agora é aceitar o capitalismo mesmo... e enquanto o maior partido de esquerda do país deixou de lutar contra o capitalismo, a gente fica igual idiota lutando contra a privatização da água, da energia, dos parques, lutando para defender árvores atrapalhando o lucro.

Tá foda! Se o meu lado é a favor do capitalismo e das consequências dessa desgraça, o que posso fazer? Que solidão! Não pertenço a isso que meu lado da classe está defendendo.

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Parem de matar o povo palestino! Parem de matar o povo palestino! Parem de consumir qualquer mercadoria produzida pelos assassinos do povo palestino!

William

24/05/25

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Instantes (11h09)



Refeição Cultural

Uma pessoa de esquerda, costuma-se dizer em nossos espaços de lutas, não pode deixar de acreditar na mudança e não pode perder a esperança de um amanhã melhor. Tendo a concordar com isso, pois muito da ação humana é atitude. Enquanto representei milhares de pessoas fui atento a isso e chacoalhava a desesperança no chuveiro de casa, antes de sair para as lutas.

Estando nos aposentos de casa, aposentado da representação, tenho mais dificuldade de chacoalhar a desesperança ao ver as notícias seja de onde elas vierem, são só notícias que pioram a condição humana em geral e as chances do planeta Terra de sobreviver à espécie animal que somos.

Idiotização humana acelerada... devastação da natureza e esgotamento dos biomas sem freio... acumulação de tudo na mão de poucos humanos fdp e miséria generalizada... genocídio do povo palestino ao vivo e à cores: vermelho e cinza, de sangue e fogo... a autocensura se estabelecendo pela fragilidade real para qualquer pessoa que questione essa merda toda ou pelo risco do cancelamento (uma morte em vida num mundo onde só se existe se houver reconhecimento dos outros)... 

Solidão... não sinto pertencimento a quase nada. Me agarro à minha racionalidade, enquanto a tenho.

William

22/5/25

domingo, 18 de maio de 2025

O Hamas conta seu lado da história (3)

 

Refeição Cultural 

Osasco, 18 de maio de 2025. Domingo.


"(...) Hoje é a Palestina, e amanhã será algum outro país ou países, pois o plano sionista não tem limites, e depois da Palestina pretenderão se expandir do Nilo até o Eufrates, e quando terminarem de devorar uma área, estarão famintos por novas expansões, e assim por diante, indefinidamente. O plano deles está exposto nos Protocolos dos Sábios de Sião, e o comportamento deles, no presente, é a melhor prova daquilo que lá está dito." (A Constituição do Hamas, de 1988, um documento histórico, e que foi atualizado em 2017, hoje menos rígido em algumas questões políticas. p. 131)


O exército sionista do Estado de Israel segue com o assassino e expulsão dos árabes palestinos de suas terras na Palestina. 

É insuportável para qualquer pessoa decente e com princípios éticos aceitar o massacre de um povo com o intuito de roubar suas terras.

O que posso fazer a respeito estando do outro lado do mundo? 

Protestar, denunciar e me indignar a respeito desse crime bárbaro de lesa-humanidade. Não devemos pactuar com aquilo que fazem aos outros que não gostaríamos que fizessem a nós. 

O que os imperialistas dos Estados Unidos apoiadores do regime sionista de Netanyahu estão fazendo pode acontecer a qualquer um de nós. A QUALQUER UM DE NÓS!

Se decidirem roubar à força de armas as terras aqui do parte Continental (Butantã, São Paulo) e Vila Yara (Osasco), onde estou há 25 anos, estaremos na mesma condição dos árabes palestinos de toda a Palestina, como fizeram em 1948 e seguem fazendo até hoje na Faixa de Gaza e Cisjordânia. 

Pensem nisso! O imperialismo é assim!

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O livro que estou lendo "O Hamas conta seu lado da história" foi adquirido no Grito dos Excluídos, em 7 de setembro de 2024. É bem atualizado e nos conta um pouco da luta de um povo por sua vida e seu lugar no mundo.

A postagem anterior com informações sobre essa história pode ser lida aqui.

William 


sábado, 17 de maio de 2025

Dom Quixote de la Mancha - Cervantes (6)


Dom Quixote, de Gustave Doré.


Refeição Cultural

"Causó risa al licenciado la simplicidad del ama, y mandó al barbero que le fuese dando de aquellos libros uno a uno, para ver de qué trataban, pues podía ser hallar algunos que no mereciesen castigo de fuego." (El ingenioso caballero don Quijote de la Mancha. Parte 1. Miguel de Cervantes)


Nosso valoroso e bem intencionado Alonso Quijana, um aficionado leitor de livros de cavalaria da região castelhana de La Mancha (no ano 1605), está dormindo em sua cama, após sofrer as primeiras desventuras como cavaleiro andante. Ele foi encontrado por um vizinho, Pedro Alonso, após uma surra que levou de mercadores de Toledo (leitura anterior aqui).

Enquanto dorme e se recupera, seus amigos - o sacerdote Pero Pérez (el cura) e o barbeiro maese Nicolás -, e sua ama e sobrinha, decidem queimar os livros do fidalgo leitor. Vão seguir a cartilha da "santa inquisição" e meter no fogo tudo o que cause transtorno à ordem vigente, no caso, os livros que mexeram com as ideias do pacato leitor.

A cena é perturbadora. Enquanto o leitor apaixonado por seus livros dorme e se recupera de suas aventuras com pauladas, socos e pontapés, as pessoas de sua confiança tacam fogo em seu bem mais precioso: sua biblioteca.

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CAPÍTULO 6

"Del donoso y grande escrutinio que el cura y el barbero hicieron en la librería de nuestro ingenioso hidalgo"


O escrutínio dos livros de nosso fidalgo leitor começa por "Los cuatro", de Amadís de Gaula, o primeiro livro do gênero de cavalarias impresso na Espanha. O inquisidor - o cura - o condenou ao fogo... e o salvou da fogueira o auxiliar do "licenciado", o barbeiro, que clamou pela vida do livro de Amadís.

Na inquisição dos livros de Alonso Quijana, tem uma passagem interessante: o cura fala sobre a questão da tradução, ao falar das obras do poeta italiano Ludovico Ariosto (1474-1533), afirmando que só salvará da fogueira os livros dele na língua original, pois a versão para outro idioma como, por exemplo, o castelhano, "tirava muito do valor natural da obra".

“y aquí le perdonáramos al señor capitán que no le hubiera traído a España y hecho castellano, que le quitó mucho de su natural valor; y lo mesmo harán todos aquellos que los libros de verso quisieron volver en otra lengua; que, por mucho cuidado que pongan y habilidad que muestren, jamás llegarán al punto que ellos tienen en su primer nacimiento.” (de “El ingenioso caballero don Quijote de la Mancha. Parte 1 [Spanish Edition]” por Miguel de Cervantes)

O que os leitores verão é que poucos livros de cavalaria se salvarão da condenação à fogueira. Os de poesia terão o mesmo destino, tirando um ou outro que os inquisidores vão pegar para si mesmos (roubo, né?), privando o senhor Alonso de sua biblioteca.

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LA GALATEA se salvou...

“- La Galatea, de Miguel de Cervantes - dijo el barbero. 

- Muchos años ha que es grande amigo mío ese Cervantes, y sé que es más versado en desdichas que en versos. Su libro tiene algo de buena invención, propone algo, y no concluye nada; es menester esperar la segunda parte, que promete; quizá con la enmienda alcanzará del todo la misericordia que ahora se le niega; y entre tanto que esto se ve, tenedle recluso en vuestra posada.”

Cervantes tinha uma obra publicada ainda no século anterior, o XVI. A novela pastoril "Primera parte de la Galatea", que foi publicada em 1585, em Alcalá de Henares (Wikipedia). 

A professora Maria Augusta da Costa Vieira, da FFLCH, diz que a publicação é de 1581, logo após Cervantes retornar dos 5 anos de cativeiro em Argel. Fui aluno dela na Letras.

O inquisidor, o sacerdote Pero Pérez, disse ser amigo do escritor Cervantes e livrou La Galatea do expurgo e da fogueira por acreditar que a segunda parte da obra, nunca publicada, poderia salvá-la da danação. (A novela pastoril é inacabada)

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COMENTÁRIO FINAL

As aventuras e desventuras do engenhoso fidalgo Dom Quixote de La Mancha estão entre nós há mais de quatro séculos. Elas nos inspiram há muito tempo.

O livro e os personagens começaram como uma crítica aos livros de cavalaria, os best sellers da época, e foram ganhando outras leituras ao longo de sua história de vida, de leituras e de leitores.

Ao ler qualquer capítulo dos dois volumes de Dom Quixote, e a qualquer tempo, a leitora e o leitor acabam por encontrar acontecimentos, conceitos e reflexões que valem para si e que podem contextualizar o momento da leitura. Essa é a magia de uma obra universal!

Ao longo de quatro séculos, livros foram expurgados e lançados ao fogo. 

Ao longo desses últimos quatro séculos, pessoas idealizaram e saíram por aí para desfazer injustiças e mudar o mundo para honra de si próprias e para o bem de suas comunidades.

O personagem Dom Quixote de La Mancha inspira seres humanos há mais de quatro séculos.

Leiam, leiam, amigas e amigos leitores, se desconectem por algumas horas das redes das big techs e salvemos a humanidade.

William


terça-feira, 13 de maio de 2025

Poema 29: Pepe Mujica, presente!


PEPE MUJICA, PRESENTE!


Hoje nos deixou Pepe Mujica.

Mujica nos deixou o exemplo,

nos deixou sábias palavras,

ensinamentos sobre a vida.


Papa Francisco e Mujica se foram.

Segue a luta pela paz e contra a fome:

temos Lula, Claudia Sheinbaum e mais.

Temos a juventude chegando e agindo.


Minha esperança não se apaga

ao ver a luta de Luna Zarattini,

a juventude do Coletivo JuntOz:

Heber, Gabi e Matheus em Osasco.


Mujica, és inspiração para os jovens.

O presidente Lula defende noite e dia

um mundo mais justo e solidário, sem fome.

Esperanço com a juventude! Sigamos!


Companheiro Pepe Mujica, presente!


William

13/05/25


domingo, 11 de maio de 2025

Poema 28: Igualdade às mães e mulheres do mundo


IGUALDADE ÀS MÃES E MULHERES DO MUNDO


O domingo foi de homenagem às mães

em várias comunidades humanas do mundo.

As homenagens são justas e necessárias

e deveriam vir com mudanças culturais.

Só existimos por causa das mães do mundo:

somos todos filhos das mães, filhos das mulheres. 

Do passado remoto aos dias atuais da humanidade,

toda cria humana foi cuidada pelas mulheres

e muitas vezes, criadas só pelas mulheres.

E até hoje a manutenção da espécie humana

não é reconhecida economicamente

pelas sociedades dos machos ignorantes.

Dizem por aí que "não fazem nada" as mães dos lares.

Toda a produção de riqueza humana deve ser

distribuída igualitariamente entre mulheres e homens.

E todos os direitos civis, sociais e políticos

criados pela espécie humana em sociedade

devem ser absolutamente iguais entre as pessoas,

sejam elas mulheres ou homens na biologia

e ou nas suas diversas identidades de gênero.

A desigualdade entre mulheres e homens

não pode seguir existindo na humanidade.

O corpo de uma mulher pertence a ela

assim como o de um homem a si pertence.

A violência contra as mulheres do mundo

não pode ser tolerada, sequer normalizada.

Compete à política e às leis das sociedades

assegurar condições iguais de existência às mães,

e às pessoas nas suas diversidades humanas.

Igualmente às mães e mulheres do mundo!


William 

11/05/25

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Diário e reflexões



Refeição Cultural 

Osasco, 9 de maio de 2025. Sexta-feira.


O tempo para os seres vivos segue correndo. A cada segundo, o tempo de vida de qualquer organismo vivo diminui. É a natureza, é o ciclo da vida.

Essa questão temporal independe do fato de um ser vivo ter acabado de chegar à sua forma de vida ou não. Uma tartaruguinha, um bebê humano, um burrinho pedrês, um velho felino sem chão, uma pessoa com décadas de vida. O tempo está correndo para todos eles. E está diminuindo. Tic-tac, tic-tac, tic-tac.

Acordei me lembrando dessa questão temporal. E me quedei cismando com as ideias em minha mente. Faz um tempo que percebi a urgência do tempo para mim. Tic-tac, tic-tac, tic-tac. 

Que tenho que fazer para esses dias? A declaração do imposto de renda. Uns exames médicos de rotina, preventivos, que o relapso não os fez no tempo ideal.

Eu tenho que resolver a questão de incluir ou não imagens para finalizar a edição impressa de minhas memórias da vida sindical, as "Memórias de um trabalhador politizado pelos bancários da CUT". Para impressão, as imagens precisam de boa resolução e aí complica. Preciso finalizar esse trabalho realizado. O livro não será vendido. Vou presentear pessoas com aquelas histórias. 

E o tempo segue acelerado. Tic-tac, tic-tac, tic-tac. Não é só o meu tempo que está correndo. É o de todos os seres vivos que está diminuindo. 

O que fazer primeiro? O que priorizar neste instante? O imposto, os exames, sei. Esse bendito livro.

Meus textos de vinte anos de blogs... acho que tenho que seguir fuçando nisso. Lendo, diagramando, encadernando. 

Tive um tipo de vida até a confecção desses milhares de textos e outra vida durante aquele período de representação política da classe trabalhadora. Tenho que deixar esses cadernos numa estante, mesmo que seja para alimentar cupins ou o fogo.

Ao reler as postagens, vejo não só a vida do escritor delas, mas do povo brasileiro, do país e do mundo, uma época. 

E tenho que fazer outra coisa também. Os textos do meu pai e da minha mãe precisam ser preservados, organizados, quiçá publicados e encadernados. 

Meus pais têm pouca instrução formal, duas pessoas muito inteligentes! Dois sobreviventes pobres deste país miserável e violento. E meus pais escreveram suas histórias, seus sentimentos, reflexões e orações. Seus amores e pesares. Tenho que preservar essas histórias humanas.

O tempo corre... tic-tac, tic-tac, tic-tac. 

William 


quarta-feira, 7 de maio de 2025

Leituras Capitais - Camarada Trump



Refeição Cultural 

CartaCapital n° 1357


CAMARADA TRUMP

O adiamento do tarifaço reduz, mas não dissipa a tensão nos mercados globais. Aliados dos EUA preparam retaliações e o mundo se volta para a China


Durante décadas neoliberais, vimos as empresas capitalistas norte-americanas fecharem suas fábricas no país e ferrar o povo com desemprego em benefício dos donos das fábricas, os fdp do 1%. O lucro do acionista acima de tudo, claro! Levaram as plantas fabris para a China e outros países do Sul com "mão de obra barata".

Agora o presidente deles (condenado, nos lembremos disso) quer dar um cavalo de pau na economia mundial achando que da noite para o dia vai reverter o que seus magnatas e políticos fizeram em décadas. Taxar os produtos de fora vai ferrar de novo o povão, com inflação e piora de vida.

Vamos ver até quando os norte-americanos aguentam o "gênio" e condenado presidente do "MAGA" (seria Make America Grotesque Again?).

Republicanos e democratas vão resolver as coisas no diálogo, deixando as armas no armário? (Lembremos: são as guerras que salvam o capitalismo, os magnatas)

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CAPA

As matérias da seção estão ótimas. Além da primeira "Pato com laquê", de Carlos Drummond, os textos do professor Belluzzo "Trump e a história" e de Clarissa Carvalhaes "Quinta série" são esclarecedores sobre a história capitalista do pós guerra e da loucura que virou os States da atualidade.

Valem a leitura!

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SEU PAÍS

LIRA SAI DA SOMBRA 

CONGRESSO: O deputado fica com a relatoria da isenção do IR, opera a cassação de Glauber Braga e ostenta um novo casarão 

Por André Barrocal

Boa matéria. Não posso dizer o que penso desse féla...

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NO BASTIÃO LULISTA 

2026 - A abrupta queda da popularidade do presidente Lula no Nordeste acende sinal de alerta no Palácio do Planalto 

Por Fabíola Mendonça 

Ao ler a matéria, os depoimentos dos eleitores nordestinos ouvidos e o gráfico à página 27, sobre cenários eleitorais para 2026 (Datafolha), acho relevante no 3° cenário Bolsonaro ter 30% das intenções de voto contra 36% de Lula. É praticamente empate técnico e sem campanha alguma. 

Bolsonaro tem 30% só por disponibilizarem seu nome na pesquisa. Foda! E real! Isso é o povo brasileiro que muitos não querem ver. Uma gente crédula e facilmente manipulada por sofistas que abusam da ignorância das pessoas. 

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CARROÇA NA FRENTE DOS BOIS 

8 DE JANEIRO - Reivindicar o perdão de crimes antes mesmo do julgamento é uma aberração, avalia Técio Lins e Silva

Entrevista a Maurício Thuswohl

Gostei das reflexões do entrevistado. Sobre a visão punitivista de aumentar penas, defendida pela direita, Técio explica a respeito, dizendo não ser remédio eficaz:

"Nenhum criminoso consulta o Código Penal para ver se vai ou não praticar o crime."

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ANISTIA E ECOS DE PREUSSENSCHLAG

Pedro Serrano 

"Ao judiciário cabe, nas democracias contemporâneas, a última palavra em termos de interpretação da ordem jurídica" 

Os artigos do professor Serrano são sempre muito esclarecedores, trazem a história para explicar o sentido das coisas. 

Se o "acordão" entre o Judiciário, o Executivo e o Legislativo saírem do papel, anistiando ou reduzindo as penas que a lei já definiu antes, estaremos mais próximos do que vimos acontecer nas primeiras décadas do século passado em relação ao nazismo e fascismo. Hitler suplantou o Judiciário à época. 

Opinião minha: o pior é que vai sair a conciliação "por cima", aqui é o Brasil! Estamos fodidos!

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TRINCHEIRA ABERTA

CONGRESSO - Bolsonaristas se armam contra a PEC da Segurança, a principal aposta de Lula para deter o avanço do crime organizado no País

Por Maurício Thuswohl 

O governo apresentou a PEC que consolida o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP). A oposição fará de tudo para que o país não resolva o problema da segurança e dane-se o povo.

Estamos num momento falimentar da sociedade humana, francamente. 

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CONSERVAR O QUÊ?

"O que realmente significa pedir a manutenção da ordem social em nosso país?"

Artigo de Maria Rita Kehl

É sempre um alento ler os textos da psicanalista e escritora Kehl. Ela nos deixa pensativos. 

Comentários a partir do artigo: 

Até antes das guerras híbridas do império do Norte - os EUA desenvolveram métodos de desestabilizar governos de outros países -, era impensável no Brasil uma pessoa sair-se com a afirmação "sou conservador" e menos ainda "sou de direita". Nenhum idiota falava uma merda dessas! Nem as pessoas que tinham grana ou se achavam "das elites".

Agora, até os remediados (classe média), os pobres e os miseráveis arrotam essa estupidez: sou conservador...

Os ricos de verdade gostariam de ter seus escravizados, talvez. Por isso a referência nostálgica dos "bons e velhos tempos".

Mas e essa gente entre nós da classe trabalhadora? O pobre conservador quer conservar a má distribuição de renda e a injustiça social?

Pra vocês verem como idiotizaram as pessoas ao nosso redor. Foda isso!

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ECONOMIA

NA CORDA-BAMBA

ENTREVISTA - O Supremo precisa garantir o mínimo de proteção aos trabalhadores plataformizados, afirma presidente da ANPT

A Rodrigo Martins

A entrevista a Adriana Augusta de Moura Souza, presidenta da Associação Nacional das Procuradoras e Procuradores do Trabalho, deixa claro o que está acontecendo com o direito social e constitucional ao trabalho após a reforma do golpista Temer: o fim dos direitos sociais no Brasil. 

Na minha opinião, tínhamos que reagir nem que fosse com uma revolução contra o 1% que bancou toda a destruição de nosso mundo.

A distopia está dada. Ou eles ou nós 99% (e a natureza acaba junto com a gente).

Estamos no limiar do fim da civilidade humana. 

Vamos permitir o que alguns mortais estão fazendo com a vida e o planeta?

Que desgraça!

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QUE A DINAMARCA SEJA AQUI

Artigo de Adalberto Viviani

Apesar do artigo ter um tom positivo, sugerindo que o Brasil está na rota de grandes investimentos de conglomerados capitalistas chineses e outros, o que sei é que estão apostando alto que vamos ter mais obesos e diabéticos para faturarem 2 bilhões de dólares com nossos doentes...

PQP!

Viva o consumismo, a destruição da natureza e as doenças!!!

Viva o capitalismo! (Foda-se o mundo e os humanos...)

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NOSSO MUNDO

SER OU NÃO QUINTAL

EQUADOR - Daniel Noboa curva-se a Washington, enquanto Luisa González defende a identidade local no acirrado segundo turno

Por Gilberto Maringoni

O articulista explicou bem o ambiente do 2o turno das eleições no Equador. Mesmo tendo a máquina, o opositora de esquerda, González, era ligeiramente favorita.

Lendo a reportagem após as eleições, sei que o direitista bilionário "ganhou". A oposição contesta e declara fraude na cara dura.

O presidente Lula, do Brasil, diferente do caso da Venezuela de Maduro, reconheceu o resultado horas depois... que merda decepcionante essa questão diplomática do nosso país... que merda!

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SEM MÁSCARAS

GAZA - Diante da indecisão dos EUA, Israel avança nos planos de ocupação definitiva do território palestino 

Por Arturo Hartmann

A matéria nos conta com detalhes o que as pessoas conscientes sempre souberam. O genocídio do povo palestino é para ocupar a Palestina. O governo de Israel e seus soldados são assassinos, ladrões de terras e um regime odiento.

O mundo assiste sem frear o genocídio e o roubo da Palestina.

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DE MÃOS ATADAS 

JUSTIÇA - Criminosos de guerra desafiam o Tribunal Penal Internacional com o apoio de Estados omissos ou hostis às leis 

Por João Paulo Charleaux

O articulista até fez um bom histórico do TPI, mas a própria matéria demonstra que o tribunal só serve para os bagres e não para os peixes grandes. Serviu pra prender "criminosos" do continente africano, mas não serve pra figuras como Netanyahu.

Enfim, voltamos ao estado de barbárie histórica da civilização humana. 

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PLURAL

CRIMES SEM FIM

STREAMING - O True Crime, género que veio para ficar, passa a abarcar também acidentes marcantes e casos menos célebres

Por Ana Paula Sousa 

Pensando sobre esse estilo de programa, eu não perderia um minuto com essas coisas. 

Se for para comparar, diria que esses programas querem parecer aqueles jornais de "Notícias populares", que "escorriam sangue" nas capas expostas nas bancas de jornais e revistas de antigamente. 

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DEITADO NUMA CAMA DE PREGOS

MEMÓRIA - Silki, o maior - e talvez o único - faquir do Brasil, fez do jejum um meio de vida. Agora sua história virou um livro 

Por Carlos Minuano

Matéria excelente! A história de Adelino João da Silva, o faquir Silki, que passava mais de 100 dias sem comer, é extraordinária!

Em outra época de minha vida, colocaria o livro na minha lista de leituras.

Silki faleceu em 1998, perto de completar 79 anos. Vivia em Poa, na grande São Paulo, e morreu pobre como viveu a vida toda.

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CASA TOMADA

LIVRO - Por meio de um romance gótico feminino, Layla Martínez narra os horrores da Guerra Civil Espanhola 

Por Paula Sperb

Da mesma forma, sempre estive aberto a novas leituras a partir de sugestões de CartaCapital. Leria de boa o romance "Cupim", de Layla Martínez. 

É que meu momento é de sistematização do ontem. 

O romance me pareceu bem interessante. 

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MEMÓRIAS DE UM CRAQUE 

Afonsinho

"O goleiro Manga, que morreu aos 88 anos, possuía uma inteligência admirável e sempre conseguia se encaixar nas equipes campeãs"

Bonita lembrança do goleiro Manga.

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PASSOS ANTIDEPRESSIVOS 

Drauzio Varella

"Um estudo publicado no Journal of the American Medical Association comprova que, quanto mais se caminha, menor o risco de desenvolver depressão"

Como sempre, o artigo do Doutor Varella traz estudos esclarecedores sobre temas de saúde. 

Ao ler o artigo, interpretei como instinto protetivo involuntário, meu hábito de toda uma vida de sair e andar andar andar sempre que algo catalisa em mim uma crise depressiva. As centenas de milhares de passos que dei como andarilho pesaram positivamente para ter chegado até aqui, neste 56° outono da existência. 

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COMENTÁRIO FINAL

A leitura integral de uma edição da revista CartaCapital, mesmo fora do tempo da notícia, é uma prática sistematizadora da compreensão do mundo atual. Um mundo foda!

Duas semanas após a edição que li, sei das muitas merdas que aconteceram após as matérias lidas. E compreendo as coisas. 

É isso. É melhor ler que não ler. Italo Calvino fala isso sobre os clássicos, mas aproprio o conceito para outras leituras como a revista do Mino Carta.

William 


sábado, 3 de maio de 2025

Livro: Primeiras Estórias - João Guimarães Rosa



Refeição Cultural

"Sua mulher, Tia Liduína, então morreu, quase de repente, no entrecorte de um suspiro sem ai e uma ave-maria interrupta..." (Nada e a nossa condição, Rosa, p. 74)


Sabadão... eu indeciso se sigo lendo mais uns contos de Rosa, se me perco na política - meu tempo tá encurtando à jato (e já não apito nada) -, se pego firme na sistematização de meus textos de uma vida, ameaçados de inexistir nas nuvens inimigas. Dilemas de quem tem a noção do tempo indo.

Quisera eu, quando meu fim chegar, daqui a um minuto ou vinte anos, que fosse ao modo de dona Liduína. Sonho de consumo daqueles que sabem da morte como parte da vida.

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NADA E A NOSSA CONDIÇÃO

Eu fiquei pensando no nome do conto de Rosa... "Nada e a nossa condição".

No fim, o nada é algo que faz parte do todo. Os nadas fazem parte do todo. Eu sou nada. E, no entanto, pertenço ao todo. Natureza...

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UM MOÇO MUITO BRANCO

"Ela, que, a partir dessa hora, despertou em si um enfim de alegria, para todo o restante de sua vida, donde um dom..." (p. 94)

Alegria

Ao ler o conto, me lembrei da resposta de Rubem Alves ao entrevistador Abujamra, que lhe perguntou certa vez "A vida é uma causa perdida?", e Alves responde que sim por sabermos que vamos morrer, mas cita Guimarães Rosa que falava da alegria nos momentos de distração. 

A moça do conto, ganhou em sua vida, o dom da alegria.

Profundo isso!

Gostaria de ter tido esse dom.

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LUAS-DE-MEL

"No mais, mesmo, da mesmice, sempre vem a novidade. Naquela véspera, eu andava meio relaxo, fraco; eu já declinava para nãoezas? Nos primeiros de novembro. Sou quase de paz, o quanto posso..." (p. 96)

É sempre isso. Quando leio Guimarães Rosa, automaticamente me vem à cabeça Uberlândia, me vem o Mato Grosso, anos oitenta, minha família e o mundo onde cresci.

Apesar de ser, em suas narrativas, uma língua inventada pelo escritor, em grande parte, relembro a língua de onde vivi nos anos oitenta.

Guimarães Rosa me transporta ao passado do Brasil onde vivi.

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Comecei a ler esse pequeno livro de contos de Guimarães Rosa há mais de vinte anos. Nunca terminei.

Li pela primeira vez "As margens da alegria" em 2003. Alguns contos eu já li várias vezes nesse tempo todo. 

Agora, decidi ler os contos que não havia lido ainda. 

Uma vez, li em voz alta, na cozinha da casa de meus pais em Uberlândia, o conto "A terceira margem do rio". De repente, comecei a chorar, soluçar... e quase não consegui acabar a estória. 

Com "Sorôco, sua mãe, sua filha" a emoção também é no limite.

"Famigerado" é um dos contos mais marcantes do livro.

E assim, vou finalizar minha leitura do Primeiras Estórias (1962), do mestre Guimarães Rosa. Já é tempo de finalizar coisas antigas não concluídas.

Retomarei o trabalho de sistematização dos meus textos em seguida.

William 


Bibliografia:

ROSA, Guimarães. Primeiras Estórias. Rio de Janeiro, Nova Fronteira: 1988.

Poema 27: Degenerescência


DEGENERESCÊNCIA


Veias e artérias sob pressão.

Vasos capilares pedem ar e nutrição. 

Da ciência, veio a salvação:

Losartana potássica na mão. 


Na ingestão de proteínas e gorduras,

e no excesso de carboidratos,

a corrida e o esporte de ação

fechavam a equação: vida saudável.


O tempo foi passando no viver,

na intensidade dura do viver.

Noites sem dormir, lutas sem fim.


Sem quadril, correr mais não posso.

Me exercito, então, de outros modos.

Nutro assim meu cérebro: meu Logos.


William 

03/05/25