sexta-feira, 13 de março de 2009

Livro: Fragmentos Contemporâneos da História dos Bancários - Introdução



Introdução

POIS É, assisti nesta quinta-feira, 12 de março de 2009, a uma comemoração que me emocionou muito.

O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região fez um evento para homenagear os bancários que participaram de um dos períodos mais gloriosos da história dessa categoria: a vitória da chapa de oposição na eleição do Sindicato em 1979.

O mais marcante, na minha visão, foi relembrar a luta de trabalhadores comuns, pessoas comuns, que enfrentaram na década de setenta a violência da ditadura militar.

É demais! Esses milhares de bancários que antecederam a minha geração deram sangue, suor e lágrimas para melhorar as condições de vida dos bancários, dos brasileiros, e ajudaram a derrubar um regime de exceção iniciado com um golpe militar em 1964.

Regime que calou a democracia e escolheu alguns parceiros civis para enriquecerem e darem cobertura para a ditadura em vigor. Os banqueiros foram alguns dos escolhidos e apadrinhados pelos militares golpistas.

Pertenço a uma categoria que já fez tanto pelo Brasil e pelos trabalhadores em geral que decidi ser mais um na multidão a contar um pouco do período mais recente desta história. Nada nada, eu já percorri quase duas décadas como mais um dos milhares de bancários do país. Sou fragmento. Sou legião.

Se, por vezes, me senti mal por trabalhar em algo tido como inútil para a sociedade, por não produzir nada além de exploração e expropriação dos clientes e usuários, haja vista que banqueiro aqui, e por aí também, quase nunca faz o que os bancos deveriam fazer para o bem de uma economia nacional, por outras vezes, descubro que nós, bancários, já temos uma história de quase um século de organização e luta que trouxe direitos para toda a classe trabalhadora e sempre fomos referência e vanguarda em buscar alternativas para enfrentar o capital e os capitalistas.

São muitos momentos neste século de luta bancária. Muitos momentos esquecidos ou não ditos e não evidenciados por uma história da sociedade brasileira que é geralmente escrita por seus donos do poder. Sempre pelo viés conservador. Muitas vezes pintando e inventando heróis que não existiram ou que não o foram nunca.

Dois materiais importantes registram um pouco desta história dos bancários no Brasil. O livro A História dos Bancários, lutas e conquistas 1923-1993, que conta os 70 anos de lutas dos bancários, produzido pelo Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e região, e realizado sob a direção de Sérgio Rosa e a coordenação de Dainis Karepovs.

O outro livro é Dez anos de lutas, conquistas e sonhos, produzido pela CNB/CUT - Confederação Nacional dos Bancários da CUT, em agosto de 2002, e que traça a história dos bancários desde a criação da Confederação e a assinatura da primeira CCT - Convenção Coletiva dos Bancários -, primeira e única do País, até o ano que encerraria, meses depois do lançamento do livro, o governo neoliberal dos demo/tucanos (FHC) que quebrou o país entre 1995/2002.

De lá para cá, muitas mudanças ocorreram. Muita história passou e continua a ser escrita a cada dia. Vivo dizendo ao movimento sindical bancário que falta um registro mais efetivo deste último período tão rico de nossa categoria.

Só para citar algumas coisas, lembro aqui da retomada do movimento de massas a partir de 2004 com a mais longa greve geral dos bancários na história do país. Antes, em 2003, os bancários do BB e Caixa Econômica Federal entraram em greves fortíssimas exigindo o cumprimento da Convenção Coletiva dos Bancários, nossa querida CCT, única no país.

Depois, seguimos fazendo novos feitos históricos e trazendo conquistas na base da organização, mobilização e greve: voltamos a ter reajustes salariais ao invés de abonos; passamos a ter aumento real desde a greve de 2004; fizemos os bancos públicos federais passarem a cumprir a Convenção da categoria; aumentamos os direitos da categoria como a 13ª cesta-alimentação, conseguimos o reconhecimento formal da Contraf-CUT - nossa Confederação que substituiu a CNB/CUT a partir de 2006 - e o reconhecimento das centrais sindicais, dentre outros feitos.

Não tenho aqui a pretensão de substituir registros que acho que devem ser feitos de maneira mais formal pela Contraf-CUT, revelando em detalhes esta história honrosa dos bancários.

Mas carrego uma vontade de contar um pouco do que vivi, presenciei e ajudei a construir nos últimos anos como cidadão trabalhador e como dirigente sindical eleito desde 2002 pelos meus colegas bancários.

A história da humanidade não é feita por heróis, é feita por pessoas comuns. Eu acredito nisso.

Contarei fragmentos dessa história de forma não-cronológica. Ela virá ao sabor de minhas recordações, virá em digressões a todo instante. Não será em estilo ab ovo, nem in medias res, até porque esta história não tem um começo certo e muito menos um fim determinado, para eu dizer que começo pelo início ou do meio para o fim.

Lembrem-se, estamos construindo a história dos bancários hoje, a cada novo dia.


William Mendes

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Post Scriptum: para ler o próximo capítulo, é só clicar aqui.


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