domingo, 3 de abril de 2011

Refeição Cultural - Nihil


1969 - naquele ano houve o festival de Woodstock que marcou uma geração. Também foi o ano que o homem pisou na lua. Vera Fisher foi miss Brasil naquele ano. Depois de várias tentativas meus pais conseguiam ter um filho. Antes adotaram uma menininha.

127 horas - acabei de assistir ao filme da história do jovem Aron, que cresceu apaixonado pelos canions de Utah e um dia quase ficou por lá para sempre. A cena da decisão mais difícil de sua vida é fortíssima. É duro não se emocionar, mas fiquei muito pensativo sobre a vida. Sobre as vidas.

1996 - foi um ano de intensas emoções e sensações. Foi um dos anos mais marcantes de minha existência. Sem dúvida alguma, as marcas que deixou em meu mundo estão por aí. Estão dentro de mim. Estão ao meu redor. Como a vida segue ainda, não sei como terminará a relação com todas essas marcas.

09.09.1992 - depois de trabalhar desde os 12 anos de idade em tudo quanto é tipo de trabalho braçal e sem registro a maior parte deles, entrei em uma empresa pública. Achei que minha vida financeira estava resolvida para a vida futura. Muita coisa foi desilusão dali adiante. Entendi que o mundo era muito mais complicado do que eu pensava e sentia.

03 de abril - houve uma madrugada desse dia que cheguei em casa depois de umas brejas com colegas da faculdade. Cheguei com minha CB 450 TR branquinha. Era uma moto linda. Eu havia acabado de pagá-la. Parece que eu não conseguia dormir direito. Levantei-me e fui até a janela da garagem para espiar lá fora. O portão estava aberto e minha moto já não estava lá. Sentei no meio da rua e fiquei ali descabriado. Eu não tinha seguro.

2002 - foi um ano de grandes mudanças também. Eu, reles cidadão pouco politizado, entrei para um novo mundo chamado sindicalismo. Conheci a CUT. Conheci a Articulação Sindical. Conheci a grandeza da história do Partido dos Trabalhadores. Dei o meu quinhão para ajudar a eleger Luiz Inácio Lula da Silva presidente do Brasil. Hoje vivo em um país melhor para os pobres e miseráveis. Apesar disso, o país vive o regime capitalista (um lixo que jamais permitirá um mundo melhor) e os 5% mais ricos fazem o que querem por aqui. Falta muito ainda.

1996 - que ano heim! Estou ouvindo "The man who sold the world". Kurt Cobain dei um tiro em si mesmo e acabou-se o Nirvana. Me lembro muito daquele ano. Depois de uma vida inteira acreditanto em Deus ou algum tipo de religião, passei a não crer em mais nada. Foi o fim daquela organização criada pelo homem de que a vida tem algum sentido que não termina aqui. Foi o fim daquilo pra mim.

1980 - era meu primeiro ano em Uberlândia MG. Meu mundo infantil mudou drasticamente. Meus amigos ficaram lá em São Paulo, no Rio Pequeno. O Nenê. O Júnior. O Alexandre. Outros moleques. Outro mundo. Outra casa. Outra escola. Outro mundo. A impressão que ficou é que cheguei em um mundo duro e que tive que me adaptar àquele mundo endurecendo.

2004 - como dirigente sindical, eu e muitos, nunca esqueceremos daquele ano e daquela campanha salarial dos bancários. Houve muito desrespeito por parte de nossos adversários políticos. Houve muito golpe baixo. Dezenas de pessoas de meu time caíram em depressão no fim da batalha. Eu suportei. Eu suportei. Meu coro é grosso. Mas o ano foi duríssimo e todos amadureceram muito.

15.11.2009 - a morte de minha tia me marcou muito. Mudou muita coisa em minha família mineira depois disso. Nunca mais foi a mesma coisa. Eu sempre achei que vale a pena lutar por um mundo melhor por causa de gente humilde como ela. É muito dolorido lembrar que nós a perdemos. Quando discuto com meus colegas do PSTU e demais "revolucionários" a primeira coisa que penso é se as propostas deles vão melhorar a vida dos milhões de pessoas como a minha tia ou se é uma proposta que pode prejudicar os simples e humildes em nome de algumas vanguardas bem alimentadas e sem dificuldades materiais. Eu sei de que lado estou.

2011 - mais um ano de decisões. Todos os dias e anos são assim. Tomamos decisões a cada minuto. Quer dizer, muitas vezes as decisões nos tomam. As decisões nos pegam. Vou ser pego por várias no correr dos dias e meses. Meus pais me disseram, há pouco, aquelas palavras bonitas que os entes queridos nos dizem - sou importante para eles, nosso caso é de amor, e me aconselharam que viva intensamente cada minuto de minha vida como se fosse o último... Que seja assim, se esse for o último, foi.

13.01.2019 - Nada... iria escrever "nada de novo no front" (em referência ao livro e à guerra), mas não seria fidedigna a descrição da realidade. O front de batalha da classe trabalhadora e do povo brasileiro pobre sofreu a maior das derrotas com o novo regime que começa: o império da ignorância e da autodestruição. As batalhas agora são fragmentadas nos indivíduos, isolados em seus mundos virtuais e enganadoramente auto-suficientes. Os poucos com consciência política têm que combater a tristeza e a depressão para suportarem ver a idiotização dos seres ao redor de si mesmos e ainda buscarem forças e inteligência para pensarem uma saída e mudarem essa realidade estúpida. Superar essa batalha do ser é etapa sine qua non para fazer o que deve ser feito para tentar reverter o domínio do poder planetário por parte de um pequeno grupo de humanos e suas corporações globais, grupo que utiliza a Terra e bilhões de humanos como combustível, como bateria, para seu deleite momentâneo. Acredito que não podemos desistir de salvar a Terra e os seres vivos, incluindo os humanos, que deveriam ser racionais. Isso é algo para além de uma vida individual, é uma missão humana coletiva. Como reverter o quadro nacional e mundial de dominação por parte de alguns poucos? Pensemos!


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