sábado, 28 de janeiro de 2012

Releitura: A morte de Ivan Ilitch - Tolstói


Tolstói em foto de 1908.
Fonte da imagem: Wikipedia.

Refeição Cultural - A morte de Ivan Ilitch – Tolstói

CLÁSSICO RUSSO de 1886

Comprei essa edição que tenho em 2008 na feira de livros da FFLCH - USP e li imediatamente. Ela é traduzida por Boris Schnaiderman e tem apêndice de Paulo Rónai. Minha primeira leitura não foi muito boa, pois não foi uma leitura atenta.

Lembro-me de companheiros do movimento sindical falarem de forma entusiasmada sobre esse livro. Não me ficou essa impressão da leitura que havia feito.

Há poucas semanas, quando estive em Uberlândia, na casa de meus pais, também tive a oportunidade de perceber que realmente a minha primeira leitura foi pouco atenta.

Minha sobrinha, que acabava de ser aprovada nos exames para entrar na Universidade Federal de Uberlândia, mostrou-me uma questão da prova que era a respeito do livro.

Ao ler a questão, vi que não me lembrava de nada da obra para iniciar a resposta. Sequer me senti em condições de fazer um bom chute.

Era evidente que precisava ler novamente este clássico da literatura russa e de Leão Tolstói.

Comentários sobre a primeira leitura AQUI.


MINHA RELEITURA

Nesta leitura, confesso que senti uma agonia imensa ao longo da história. Que tristeza!

Várias coisas foram passando por minha cabeça.


A FRIEZA BUROCRÁTICA DO SISTEMA DE TRATAMENTO DE SAÚDE

A frieza burocrática do tratamento dado ao senhor Ivan por parte das “autoridades médicas” me lembrou uma discussão moderna da medicina, onde há uma forte crítica pelo fato dos médicos especialistas não tratarem pessoas, pacientes que são seres humanos com dor e com sofrimento pela não-saúde.

Os profissionais e especialistas da medicina moderna tratam de “órgãos” e “partes de um corpo”. Eles não tratam de uma pessoa. Se alguém está sentindo dor e sofrendo com um problema de rim operado, não é problema do médico do rim. Dor é com o anestesista. Não adianta reclamar de dor com um especialista em coração, pois ele vai lhe dizer que não é com ele, ele trata de coração.

Como a descrição do sofrimento do senhor Ivan Ilitch se passa no século XIX da Rússia Czarista, pudemos ver que a questão da frieza no tratamento com as pessoas doentes vem de muito, muito longe.


A SOLIDÃO DOS MORIBUNDOS NA DOENÇA

Outra questão muito forte no livro é a dor profunda e solitária das pessoas no leito de morte.

Essa solidão existe independente da crença ou não-crença de cada um. É uma solidão da dor. É a solidão do medo do desconhecido, do sentir o instante de não mais existir.

A dor do orgulho ferido pelo que pode acontecer fisicamente conosco no fim.

Foi uma tristeza para mim lembrar-me do fim de minha querida tia Alice, que faleceu de câncer em um espaço de tempo muito parecido com o da personagem entre o ir ao médico, perceber-se que há algo errado e o fim. Será sempre muito difícil vivenciar a perda das pessoas queridas.


A DENÚNCIA DA FRIEZA DO ENTORNO SOCIAL

É muito forte a denúncia da hipocrisia da estrutura social quando chega a hora da morte de uma pessoa com boa posição profissional e com nível de chefia no sustento do lar. Isso fica muito claro na obra, quando falamos dos estamentos sociais na burocracia do Estado, na substituição da hierarquia dos cargos, como também na “hierarquia” da família e dos agregados.

A morte de um líder ou pessoa bem posicionada passa a ser oportunidade para os outros na estrutura social e ausência de sustentação financeira na estrutura familiar.

Quantos de nós faremos falta pela ausência da companhia, do amor, do afeto e pela simples presença como seres humanos?

A pensar...

William


Bibliografia:

TOLSTÓI, Lev. A morte de Ivan Ilitch. Tradução de Boris Schnaiderman. Editora 34. 1ª Edição 2006 (1ª reimpressão 2007)

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