Esta edição é traduzida diretamente do russo. Recomendo. |
Refeição Cultural - Mortes que não importam aos outros
Me peguei pensando a respeito da morte. Eu estava para postar um comentário sobre minha terceira leitura de uma das mais famosas obras de Tolstói - A morte de Ivan Ilitch (1886). Cada releitura em nossa vida é uma nova leitura porque o leitor é outro, é um novo leitor. Eu era um em 2008, era outro em 2012 e sou este que vos fala neste momento em 2017.
Em 2008 ainda fervilhava em mim o mundo das Letras por ter sido por tanto tempo aluno da FFLCH-USP. Em 2012 eu já estava bastante envolvido com a formação sindical no ramo financeiro (Contraf-CUT) e iria assumir as negociações nacionais do Banco do Brasil como coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários (COE-Contraf). Hoje sou gestor de operadora de saúde no modelo de autogestão e conheço relativamente bem como opera o setor de saúde no Brasil e conheço alguma coisa em relação aos modelos no mundo.
Nesta releitura de Tolstói, me incomodou muito o descaso das autoridades médicas com o paciente, o sistema de saúde vigente à época do senhor Ivan Ilitch, na Rússia czarista da segunda metade do século 19. A forma como o paciente é tratado me incomodou sobremaneira.
Das outras vezes, já havia me incomodado com o tratamento frio e pouco humano dos profissionais de saúde, mas também ficou martelando em mim a forma como todas as pessoas ao redor do senhor Ilitch se comportavam de forma hipócrita e com interesses absolutamente pessoais em levar algum tipo de vantagem com a morte daquele ser humano.
Então... eu reli o livro porque meu filho me perguntou se eu conhecia esta obra e se poderia dar de presente para ele. Fiquei feliz com o pedido e aproveitei para reler também.
French 87th Regiment Cote 34 Verdun 1916 - Foto de domínio público sobre a 1ª GM, autor desconhecido. |
Hoje, assisti a um documentário encontrado na internet por puro acaso. Era a respeito da 1ª Guerra Mundial. O programa de pouco mais de uma hora era apresentado por um jovem youtuber chamado Castanhari, em um site chamado Canal Nostalgia. O jeito como o rapaz se comunica é bem interessante para a geração atual.
Enfim, eu sou um apreciador de história. Estudar história para mim é algo do prazer, do autoconhecimento e uma forma de melhorar minha compreensão de mundo. Foi bom rever o tema "guerras mundiais".
Estamos passando por um momento mundial de grandes riscos para a humanidade. As mudanças políticas e econômicas nas Américas, na Europa, no Ocidente e Oriente, podem caminhar no próximo período para novas guerras de extermínio de milhões de pessoas.
Aí fiquei pensando a respeito da morte, das mortes que não importam para os outros. Eu aprendi a valorizar a vida de cada ser humano, de cada ser vivo neste Planeta. É muito duro vermos o sofrimento da personagem Ivan Ilitch sem o devido respeito e atenção por parte dos profissionais de saúde e das pessoas ao seu redor.
Mas durante um período de guerras, ou quando a maldade é a nova ordem e a vida humana perdeu o valor e os novos valores não incluem o foco no ser humano, o que vemos é não valer nada centenas, milhares e até milhões de vidas humanas.
Numa guerra, numa disputa de grupos rivais, sociedades rivais, sem a política para mediar e permitir o espaço do outro, vemos o que ocorreu nas guerras trágicas de nossa história mundial. Cada batalha morria-se 400 mil pessoas, depois mais 200 mil, depois mais um milhão...
Chega! Pensar em guerras e pensar em mortes é uma merda.
Eu gostaria de ver novamente a democracia restabelecida em meu País, o respeito às diferenças prevalecendo, e o mundo e as sociedades vivendo sob a égide da paz com mais solidariedade e valores humanos em alta, em detrimento do dinheiro e do poder absoluto de uns poucos sobre as imensas maiorias.
William (será que estou sonhando alto?)
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