sábado, 1 de abril de 2017

Diário e reflexões - 010417 (Tristezas, apesar das lutas)



Tristeza... mas resoluto nas lutas e nos objetivos...

Hoje é o primeiro dia do mês de abril. O mês começou triste, com perdas, assim como terminou o mês de março.

Quando recebi no início da noite aquela ligação que não queremos receber sobre morte na família, achei no instante seguinte que seria alguém mais velho que eu, ou seja, na linha de ascendência minha ou de meus primos. Não era. Meus tios acabaram de perder o segundo filho em acidente. Não dá para imaginar a dor dos outros, não dá para imaginar a dor de pais que perdem o segundo filho. Que fazer, que dizer aos meus tios, além de desejar muita força e que eles encontrem um pouco de paz? Que tristeza!

Ontem, dia 31 de março, ao final da noite e ainda no aeroporto em Florianópolis, Santa Catarina, voltando do trabalho, recebo mais uma daquelas ligações de falecimento. Um companheiro de longas jornadas de lutas havia falecido, vítima de um infarto fulminante. Já expressei pelas redes sociais meus sinceros sentimentos. Que tristeza!

O 31 de março, aliás, é um dia marcado pela tristeza ao se pensar o nosso País e a democracia, pois foi o dia que o Brasil sofreu um golpe de Estado em 1964, orquestrado pela burguesia vira-latas e fascista. A mesma que organizou o novo golpe de Estado em 2016, o ano sem fim, que nos colocou sob nova ditadura civil-jurídica-parlamentar, poderia continuar nos adjetivos da nova ditadura midiática-empresarial et caterva. Vejam quanta tristeza, pessoal e coletiva.

Mas o mês de março e o 31 de março foram também de lutas e de povo nas ruas, buscando se organizar para fazer o enfrentamento ao massacre dos direitos sociais, civis e políticos que estão sendo extintos pelos golpistas que tomaram conta do aparelho do Estado em todos os seus poderes.

Os golpistas estão tão senhores de si, apostam tanto na inconsciência da classe trabalhadora e no poder de manipular o povo brasileiro, através dos meios midiáticos-empresariais, que ao mesmo tempo em que dezenas de milhares de pessoas estavam nas ruas, o governo de plantão sancionou o projeto de escravidão total (terceirização) e fim dos direitos do trabalho e da organização sindical. Os golpistas apostam sem titubear na tese do brasileiro "cordial", e que aqui é mesmo uma república de bananas. Que tristeza!

Eu queria ter lido mais do que li, mas foi impossível. Estou sofrendo ataques internos na direção da entidade de saúde dos trabalhadores em que sou gestor eleito. O mês foi de tanta dedicação em estudos, leituras e confecção de defesas e votos, que faz três semanas que durmo menos de cinco horas por noite e praticamente não consegui correr nem caminhar e nem cuidar de minha saúde.

Apesar de tantas dificuldades e tristezas, apesar de ter passado a maior parte do mês longe da família, me sinto um soldado no front de batalha, numa guerra entre capital e trabalho, entre os desgraçados donos do mundo versus a classe à qual pertenço. A tristeza pode até adoecer a gente ou fechar nossas expressões, mas não esmorece nosso espírito de lutas por nossos objetivos e ideais.

Li dois livros neste mês de março, que somados aos cinco de fevereiro e aos doze de janeiro, já são 19 livros lidos ou finalizados em 2017. Deixo palavras de Drummond para expressar o que estou sentindo neste momento de minha vida, nesta quadra da história.


Os ombros suportam o mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.


(Carlos Drummond de Andrade, em Sentimento do Mundo, 1940)


Post Scriptum (domingo, 22:20h):




TRISTEZA PELA MORTE DE MEU PRIMO. QUE MEUS TIOS E TODA A FAMÍLIA ENCONTREM FORÇAS PARA SEGUIR JUNTO AOS ENTES QUERIDOS

Eu vi esse garoto crescer, pois teve uma época em minha vida que ia todos os anos para Barra do Garças (MT) e lá ficava por dias. O garotão Edlran era pequeno e bravo, mas tinha uma característica impressionante: era de um coração que não cabia nele, era um bom garoto.

Certa vez, já sendo mais adulto, sofreu um grave acidente em uma piscina, fraturou a cervical e teve um conjunto de fatores que contribuíram para se restabelecer.


Ele sempre quis ser locutor de rádio, desde molequinho. Eu tenho guardada em casa até hoje uma fita cassete daquelas antigas, que ele me deu de presente, com gravações dele treinando para ser locutor.

Eu gostava muito desse garoto, hoje era um homem de trinta e tantos anos.

A vida circulou para todos nós da família nas últimas duas décadas. Eu nunca mais pude ir a Barra do Garças e uma fatalidade ceifou a vida de nosso Edlran na tarde de ontem.

Minha vida está tão complicada que eu não tive condições de ir me somar aos meus tios e família para dar um abraço em cada um deles no enterro hoje (quando meu primo Cleyber morreu, eu estava lá ao lado da família).

Tia Regina, Tio Léo, Lara, me perdoem por não estar aí com vocês. Meus sinceros sentimentos e tenham muita força. Um beijo a todos.

William Mendes

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