segunda-feira, 16 de dezembro de 2019
161219 - Diário e reflexões
Refeição Cultural
Acordei nesta manhã de segunda-feira pensativo e buscando sentidos. Um turbilhão de coisas indo e vindo através das sinapses do cérebro, que afinal de contas é o que somos, esses impulsos e movimentações químicas e elétricas nos neurônios cerebrais. E que podem cessar a qualquer instante, qualquer.
Neste dia, neste instante da vida, neste contexto pessoal e coletivo, que fazer com o tempo que passa? Fiquei procurando respostas e sentidos ao longo de milhares de instantes, de milhares de quilômetros percorridos por esse corpo humano com um cérebro e com denominações impostas e auto-infringidas. Toda essa caminhada para chegar nesta manhã sem resposta alguma e sem perceber sentido algum nas coisas.
Passei a vida me cobrando ler os clássicos da literatura mundial. Neste momento poderia abrir qualquer dos clássicos que tenho e começar a ler. Mas estou indeciso, estou me perguntando o porquê de sentar e ler qualquer um deles. Eu buscava respostas na vida aos vinte, aos trinta, aos quarenta. Ainda busco aos cinquenta. Já não sei onde procurar com alguma perspectiva de encontrar. Suspeito não haver respostas e sentidos. Daí serem em vão as buscas.
Quis ler os clássicos da literatura mundial. Se clássicos é porque sobreviveram, ficaram para a posteridade. Se ficaram é porque algo de notável devem ter. Mas já não estou otimista de encontrar o que procuro nos clássicos. E sei que algumas das ofertas dos clássicos são distração, reflexão e conhecimentos, prazer puro e simples, despertar de ideias e utopias.
Cheguei a pegar e deixar alguns dias em cima do móvel da sala Moby Dick, de Melville. Agora me pergunto pra que ler Moby Dick. Só o fato de pensar isso já é algo muito triste. Um sinal ruim em minha vida. Peguei na biblioteca um livro sobre a história da Revolução Francesa. Li algumas dezenas de páginas e achei muito interessante. Mas já me pergunto que diferença faz isso pra mim aqui e agora.
Recebo as revistas Carta Capital e guardo cada edição que chega no armário, ainda com o plástico. Não vejo sentido em ler o excelente e honesto conteúdo que a revista semanal nos oferece. A mais leal de todas com o leitor brasileiro. Ao menos contribuo com a existência da revista, objetivo principal.
Não está fácil me reinventar como fiz algumas vezes na vida. Me reinventei ao sair criança de São Paulo. Me reinventei ao sair adolescente de Uberlândia. Me reinventei ao entrar num banco público. Me reinventei ao estudar Educação Física. Me reinventei ao deixar a Educação Física por falta de condições de pagar as mensalidades.
Me reinventei ao me envolver com o movimento sindical antes da USP. Me reinventei ao entrar na Letras da USP, quando não deu certo entrar na chapa do Sindicato no ano 2000. Me reinventei quando entrei no sindicato em 2002. Me reinventei quando coloquei em segundo plano a Letras, minha ética colocou a representação sindical acima de tudo: meu sonho das letras já era.
Me reinventei cada vez que as lideranças do Sindicato me destacavam para novas tarefas, algumas que eu nem queria, mas ia por dever de ofício e militância. Me reinventei a cada frustração e decepção com as pessoas com as quais convivia na militância.
Me reinventei quando me pediram para ir para a Cassi. Me reinventei na Cassi cada vez que tinha decepções internas e externas, inclusive com decisões daqueles que me colocaram naquela tarefa e que sequer me consultavam sobre questões relativas ao que eu fazia e era responsável.
Fui me reinventando cada vez que me decepcionei com meus antigos companheiros do movimento.
Impressionante como as decepções não cessam quando penso o movimento sindical e social ao qual pertenci e ajudei a construir. Impressionante a minha insistência em acreditar que o movimento que conheci tem jeito. Sinceramente, acho que não tem.
As coisas estão sem sentido. Mas este corpo tem um cérebro ainda: existo. Se não é nos clássicos, se não é nas leituras, se não é mais no movimento social, se não é mais nos estudos acadêmicos, se não é nas corridas e nos esportes porque o corpo bichou, se não é nas viagens, se não é em nada disso, cabe a mim procurar ainda um sentido, ou ao menos um porquê.
Vou seguir procurando o que eu ainda não encontrei. I still haven't found what I'm looking for.
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