Refeição Cultural
Uberlândia, 23 de dezembro de 2023. Dia frágil. Intolerâncias no ar...
O Parque do Sabiá é um refúgio. Pássaros tentam a sorte por lá. Peixes também. Ontem, vi um casal de seriemas perambulando pela grama. Seriemas nunca tinha visto por lá... deslumbramento! Teiús tentam a sorte. Também vi ontem três curicacas, falei oi pra elas. Estava de passagem correndo. Os pássaros-preto cantavam seus cantos de natureza.
O Sabiá é um refúgio. A vontade é de passar horas por lá. Andar, quedar, andar, quedar, ouvir a natureza, sentir a solidão que habita o meu coração. O mundo está se transformando num lugar inóspito à vida, pelo menos à vida social. Onde há duas unidades da mesma espécie animal, a homo sapiens, há chances de rupturas, rusgas, intolerâncias. Nos tornamos seres intolerantes e intoleráveis.
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Os pais que vivem juntos há mais de meio século não se toleram mais. Pais e filhos não têm mais paciência uns com os outros. Amigos, colegas, companheiros, conhecidos, familiares... ninguém resiste a uma desavença. Tudo se resolve no grito, na expressão rude, na ruptura (cancela, bloqueia). O perdão é uma palavra que se não morta, está à beira da morte, sozinha numa cama de hospital entre lençóis brancos... até o perdão é uma palavra morrendo sozinha.
Um mundo de surdos, mesmo quando os ouvidos funcionam anatomicamente. Um mundo de cegos mesmo quando enxergam o que lhes convêm. Um mundo mudo porque todo mundo fala fala fala e ninguém se entende. A Babel da narrativa bíblica se realizou! Onde há dois, há desentendimento... uma incomunicabilidade nauseante na espécie humana. Que solidão dolorosa, que aperta o peito, que faz cachoeira nos olhos.
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É Natal no mundo ocidental. Natal... que Natal é esse no mundo humano? Natal das bombas matando os filhos de Deus na Palestina? Natal da miséria e abandono dos miseráveis na Argentina do governo eleito pelos miseráveis para trazer miséria com uma verve que convence até miseráveis que a melhor coisa é mais miséria, com muita encenação e grito e pose e retórica e algoritmo conspirando pela ampliação da mentira e da ignorância geral nas nações... Natal! Nasceu o menino Jesus numa favela e dessa vez vai ser foda sobreviver até a fase adulta.
É Natal no Brasil. Enquanto o cristão Lula se esforça para cumprir os compromissos que assumiu com o povo brasileiro cansado de tanta maldade, perversidade, miséria e destruição na longa noite que durou de 17 de abril de 2016 até 31 de dezembro de 2022, os caras da casa-grande e seus procuradores no parlamento se apropriam do orçamento público deixando claro para o Lula que não haverá recursos públicos suficientes para cumprir o que ele gostaria para saciar a fome do povo, gerar empregos e renda para os pobres e trabalhadores e fazer o país caminhar para o amanhã com um pouco mais de paz. Não haverá paz. Os tempos são de ódio e guerra e miséria. Natal...
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Daqui alguns dias teremos no Brasil mais uma edição da tradicional Corrida de São Silvestre. Queria correr a prova. Não dou conta. A natureza e a realidade são implacáveis com os seres naturais. Fui para o Sabiá conversar com o meu corpo. Corri, andei, senti minhas energias. Para me arriscar numa empreitada que exigisse a quantidade de energia que o percurso da prova exige, teria que ser algo cuja finalidade fosse um feito grandioso, que valesse para a coletividade, ou para um coração apertado; gastaria toda essa energia para salvar uma vida, para lutar contra uma injustiça, para mudar o mundo, para fazer uma pessoa feliz.
Não vale a pena me arriscar a gastar mais energia do que sinto que tenho neste momento só para uma birra pessoal. Por incrível que pareça, tenho consciência a respeito da liberdade e da responsabilidade que é só minha e de mais ninguém. Ainda tenho que me manter vivo porque ainda tenho coisas pra fazer, tenho pessoas que dependem de mim. Por mais que o mundo hoje seja o império da arrogância e da ilusão da autossuficiência, vivo ainda tenho alguma coisa por fazer por alguém.
Não vou correr a São Silvestre.
Natal! Natais...
William
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