sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Natais - 1969


Que bom ver meus pais sorrindo!


Refeição Cultural

Estamos em Uberlândia para passar o Natal com meus pais e familiares. Meu momento é de procura pela compreensão, de observação das coisas, devo me esforçar para sentir o instante com a intensidade que significa a fragilidade da vida. O que vejo ao meu redor é a fragilidade. Tudo é frágil e passível de se desfazer num piscar de olhos. Não é assim a própria vida?

As relações são frágeis. A casa é frágil. A natureza é frágil, apesar de sua força e potência. Todo mundo precisa de todo mundo e ainda assim somos feitos para nos sentirmos altamente livres de quaisquer relações com outras pessoas, outros seres, outras realidades. Pura mentira! Autoengano. O real e o imaginário se interligam e seguimos diariamente assim, com a falsa ideia de independência em um mundo cada dia mais interligado e dependente em tudo. Tudo! 

A natureza é nossa casa. A casa da gente é como a natureza. A casa ou a natureza tanto acolhe quanto oprime. Acolhimento e opressão são consequências de fatores interligados sem a nossa capacidade de intervenção - o acaso -, como também somos responsáveis por fazer da natureza e da nossa casa ambientes acolhedores e livres de opressão.

Neste momento do mundo, Natal de 2023, tenho algumas hipóteses sobre o comportamento humano em constante mudança. Me questiono sobre um possível amanhã refletindo a respeito de qual ser humano haverá no mundo. 

Seremos ainda animais passíveis de serem educados no sentido de sermos "homens e mulheres cultivados" (Mircea Eliade) com conhecimentos gerais? Seremos seres sociáveis num futuro próximo? No sentido de sermos seres coletivos e solidários com outras pessoas e seres e preocupados com qualquer coisa externa a nós mesmos? E, por fim, seremos ainda seres que escrevem, que registram em signos linguísticos a nossa história do mundo e de nós mesmos? Ou seremos sociedades ágrafas, apostando a preservação de toda a nossa cultura e conhecimento em áudios e vídeos e nuvens?

Essas hipóteses são baseadas em observações e estudos que venho realizando nos últimos anos. Basta olhar ao meu redor, na cotidianidade de Osasco, de São Paulo ou de Uberlândia, do Brasil, do mundo que chega até mim, para ler a tendência do comportamento humano e do mundo dominado por esse animal.

A fragilidade das coisas me impressiona. Ao observar e compreender um pouquinho melhor o cotidiano das pessoas e da vida na sociedade atual, eu consigo substituir o ódio e a raiva que senti boa parte de minha vida por um sentimento de compaixão, amor e uma certa dor por sentir o quanto as pessoas estão sufocadas nos problemas cotidianos do viver, boa parte deles insolúveis por falta de um novo olhar para as coisas que importam na vida: a própria vida em coletividade, já que não somos nada sozinhos. 

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NATAL DE 1969

O Natal de 1969 foi o meu primeiro Natal na sociedade humana.  

Eu não tenho a menor ideia de como foi. Eu tinha mais ou menos uns 9 meses de idade. 

O que sei é que nasci pouco antes do famoso festival de Woodstock, ocorrido em agosto numa fazenda de gado em Bethel (NY), nos Estados Unidos. 

Não sei se meus pais curtiam aquele tipo de som com solos de guitarra de Jimi Hendrix e aquela voz incrível de Janis Joplin. Eu iria gostar de rock e daqueles roqueiros e roqueiras quando crescesse...

Pelas fotos dos meus pais daquela época, sei ao menos que meu pai usava um cabelo com topete e talvez brilhantina e minha mãe usava aqueles cabelos mais ou menos curtos, penteados com escova e às vezes com laquê. 

O homem (espécie animal homo sapiens) havia pousado na Lua no mês de junho, imaginem só! Neil Armstrong saiu da Apollo 11, deu uns passos na Lua e acabou vendo que a Terra não é plana, é redonda (hoje tem gente ignorante suficientemente para duvidar até disso!). E aquela façanha espacial do ser humano foi transmitida pela TV ao vivo. 

Como será que meus pais receberam essa notícia? Difícil imaginar! 

Quero acreditar que em alguns momentos daquele ano de 1969, anos de chumbo aqui no Brasil, meus pais tiveram também momentos de alegria e descontração, como na foto que ilustra esta postagem.

O que sei é que tudo anda muito frágil no mundo de 2023, até na casa de meus pais, tudo anda como um castelo de cartas que pode se desmanchar a qualquer segundo com um esbarrão involuntário... 

O tempo vivido com as pessoas queridas e de nossas relações se torna cada dia mais importante e único. Carpe Diem! Aproveitem o seu dia!

Pensem nisso nesses dias de Natal. Eu estou pensando.

William

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Post Scriptum: o primeiro texto desta série de postagens, pode ser lido aqui. O capítulo seguinte pode ser lido aqui.

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