quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Natais - 1970



Refeição Cultural

Passamos o Natal de 2023 em Uberlândia, Minas Gerais. Conseguimos repetir a reunião familiar do ano anterior, o Natal de 2022, o primeiro após o auge da pandemia mundial. 

Quase repetimos a reunião da ceia natalina anterior, "quase" porque meu cunhado passou com a família dele neste 2023 e nem sequer nos vimos. Mas tivemos também neste Natal familiares do marido de minha sobrinha. 

Os Natais em família vêm mudando ano a ano. Eu tenho consciência de que tudo muda, pois somos natureza e somos seres históricos. A história humana segue seu curso, seguimos fazendo história, percebamos ou não isso. A mudança é uma das certezas que temos no mundo natural. 

A cada reunião familiar, fica em alguns de nós uma sensação estranha de que talvez aquela confraternização tenha sido a última. Não sei se muitas pessoas têm sentido a mesma coisa, mas comigo tem sido assim. 

Apesar da consciência a respeito das mudanças constantes de tudo na vida e nos ambientes do mundo onde vivemos, algumas mudanças são resultado de transformações pelas quais os seres humanos estão passando e não são mudanças boas, na minha avaliação. Vejo com preocupação para onde vamos enquanto espécie humana.

Tenho elaborado reflexões aqui no blog sobre o risco que a sociedade humana enfrenta neste momento da história. 

Me pergunto se os seres humanos serão ainda passíveis de serem educados, e me pergunto também se seremos no próximo período seres sociáveis. Pode ser que nosso nível de alteração desde a tenra idade nos faça seres frios, insensíveis, autômatos como máquinas e sem as características essenciais dos seres humanos.

Enfim, eu me esforcei para contribuir para que tudo corresse bem neste Natal em família... nunca se sabe se teremos outro. Fiz o que esteve ao meu alcance para reunir as pessoas que amamos, para pôr juntas pessoas que não se dão mais como antigamente e coisas do tipo.

Entendo que o momento pelo qual passa a humanidade nos cobra um esforço consciente para reunir pessoas, uma boa vontade de cada um de nós para tentar restabelecer a comunhão entre as pessoas, a solidariedade, o perdão, a tolerância à alteridade, precisamos resgatar os laços humanos de amor e amizade.

Neste Natal, viajei de coração aberto, busquei energias positivas para o ato desafiador de viver num mundo em desfazimento, num mundo cuja agenda permanente pautada em nossas vidas humanas pelas mídias sociais é a aparência, os extremismos, os ódios e medos, os cancelamentos de pessoas, a guerra.

Em Uberlândia, busquei renascer em mim mesmo nos momentos nos quais estive sozinho no Parque do Sabiá, aquele paraíso. E também busquei a compreensão das coisas nas relações com as pessoas. 

Precisamos encontrar maneiras de unir pessoas em prol de agendas que foquem o bem comum, a paz interior e a paz nas relações sociais. Essa não é a agenda dos donos momentâneos do poder econômico... Mas deve ser a nossa, pessoas de boa vontade. 

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NATAL DE 1970

Como terá sido o nosso Natal de 1970? Onde será que estávamos, o nosso núcleo familiar? Meu pai, minha mãe, minha irmã e eu?

Nas conversas com minha mãe, tentei especular essas coisas do passado, mas as memórias já vão ficando distantes e de difícil organização. Vendo fotos antigas, vi que os lugares eram diferentes do nosso lar.

Minha mãe me disse que quando era possível, a família viajava para a casa de alguns familiares. Goiás ou Minas Gerais eram destinos possíveis em um final de ano. Nós vivíamos em São Paulo à época.

Hoje, com a formação política e a experiência de vida que tenho, e sendo alguém que gosta de estudar a nossa história enquanto classe trabalhadora e povo brasileiro, consigo imaginar bem melhor a vida de meus pais e familiares nos anos sessenta, setenta e oitenta.

Para ilustrar o clima e o cenário nos quais meus pais viviam as nossas histórias, como estou fazendo nesta série, destaco alguns eventos que fizeram parte do contexto brasileiro e mundial naquele ano de 1970, que chegava ao fim no Natal e naqueles dias de Ano Novo.

No Brasil, a ditadura civil-militar estava num período muito violento para os dissidentes e adversários do regime de extrema-direita, bancado pela elite do país e pelos Estados Unidos da América.

COPA DO MUNDO DE FUTEBOL

O Brasil se tornou tricampeão de futebol no México, em junho. Pelé brilhou e a seleção da Copa de 1970 talvez tenha sido uma das melhores de todos os tempos (assim como a de 1982, imagino eu). Vencemos a Itália por 4x1 no Estádio Azteca, na Cidade do México. 

O regime ditatorial usou de todas as formas a conquista da seleção canarinho para fazer política favorável ao governo. Perguntei aos meus pais sobre a Copa do Mundo de 1970 e eles se lembraram daquela onda positiva no dia a dia do país.

MORREM JIMI HENDRIX E JANIS JOPLIN

Na postagem sobre o ano de 1969, falei sobre o evento cultural que marcou o mundo em agosto daquele ano, o Festival de Woodstock. O ano em que nasci... Hendrix e Joplin estavam no auge de suas carreiras no mundo do Rock and Roll.

Pois é! Eles morreram antes do Natal de 1970. Hendrix em setembro e Joplin em outubro, ambos com 27 anos de idade. Foram perdas terríveis para o rock mundial. Eu não sei se isso afetou meus pais proletários no Brasil. Talvez não.

Os Beatles também já não existiam mais naquele Natal, uma das maiores bandas de rock de todos os tempos formalizou o fim do grupo naquele ano de 1970, após rompimentos internos desde 1969.

O SOCIALISTA SALVADOR ALLENDE É ELEITO NO CHILE

Só para finalizar a contextualização da véspera do Natal de nossa família e do Brasil e do mundo em 1970, nosso vizinho, o Chile, terminava aquele ano com um presidente marxista eleito pelo povo numa eleição disputadíssima em setembro. Salvador Allende obteve 36,2% dos votos, à frente do candidato da direita com 34,9% e do terceiro colocado da democracia cristã com 27,8%. O congresso referendou o resultado e a América do Sul tinha naquele momento um presidente eleito defendendo o socialismo.

Provavelmente meus pais, como milhões de brasileiras e brasileiros, estavam focados em sobreviver diariamente na labuta de seus dias.

É isso! Aquele garotinho da foto que abre a postagem sou eu, ainda experimentando os momentos iniciais da vida naquele final da década de sessenta.

William


Post Scriptum: o capítulo anterior dessa série pode ser lido aqui. E o capítulo seguinte pode ser lido aqui.

Post Scriptum II: as informações sobre o ano de 1970 que incluí no texto foram pesquisadas na enciclopédia livre, Wikipedia.


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