Refeição Cultural
Osasco, 1º de janeiro de 2024. Noite de segunda-feira.
Ano Novo?
Primeiro dia do Ano Novo. Essa invenção do ser humano, o calendário e a contagem do tempo, é uma ferramenta extraordinária para lidar com a realidade da natureza e das coisas da sociedade humana. Ano Novo...
As coisas da sociedade humana seguem neste dia "novo" da mesma forma que ontem. O Estado de Israel segue eliminando um segmento humano de uma certa área daquela região do mundo. Dezenas de crianças, mulheres, idosos e homens seguem sendo mortos sob ataques a bombas na Faixa de Gaza, Palestina. O povo sendo eliminado é o povo palestino. Segundo o jornalista Luis Nassif - por Twitter (X) -, Israel já destruiu 70% das casas na Faixa de Gaza. Ano Novo...
A realidade da natureza não mudou de ontem para hoje, primeiro dia do "Ano Novo". A emergência climática segue alterando a condição de vida no planeta Terra para todos os seres viventes. A humanidade não tomou consciência de ontem para hoje de que precisamos mudar agora, já, a forma como estamos destruindo todos os biomas da natureza. Alguns animais humanos detêm quase a totalidade dos recursos disponíveis e o poder econômico e estatal no mundo enquanto bilhões de seres humanos sofrem neste instante em que escrevo estas reflexões. O combate ao capitalismo não é mais sequer pauta dos poucos movimentos organizados que ainda estão por aí. Não temos tempo sobrando para isso. Ano Novo...
No entanto, tirando as coisas da sociedade humana e a realidade da natureza, a mente humana, que criou esse mundo como nós o conhecemos - como nos explica o neurocientista Miguel Nicolelis -, é uma fantástica máquina de criação de abstrações, que viram realidade, que passam a criar pensamentos e ideias e leituras de mundo (ideologias), e que sequer deixam rastros identificáveis de o que criou o que... Transformamos em normalidade qualquer coisa a partir da criação de abstrações que viram referências para os animais humanos. Uma pessoa ter 100 bilhões de dólares é tido como algo "natural" e "normal". Um animal humano destruir sozinho áreas da natureza do tamanho de estados nacionais é "normal", ao invés de se interromper na hora a destruição sem volta, se discute depois "indenizações" na "justiça". Ano Novo...
Ano Novo, sociedade humana velha, envelhecida, embrutecida, idiotizada, alienada e drogada pelos prazeres sensoriais momentâneos, sociedade humana em vias de morrer de velha... o pior é que vai morrer levando outras formas de vida.
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MEU ANO NOVO
É Ano Novo para cada ser humano na terra (cada um com seus calendários arbitrários, lógico!)
E, no entanto, inventamos o calendário e a contagem do tempo. Criamos as realidades na sociedade humana.
Durante muitos anos de vida laboral, tinha no mês de janeiro o período de férias do trabalho e ou da representação sindical. Era o período que tirava para tentar esquecer um pouco das nossas agendas de lutas da classe trabalhadora. Nos meses de janeiro, sempre procurava ler bastante, ter um pouco mais de contato com o mundo da cultura, arte, cinema, lazer.
Por serem os meses de janeiro um período de boas memórias, o desejo que senti neste primeiro dia do Ano Novo do nosso calendário arbitrário foi de ler contos e outros gêneros literários e discursivos e ver alguns filmes neste mês de "férias".
Se as coisas da sociedade humana e a realidade da natureza e o acaso me permitirem, minha intenção é ler vários contos do livro Os cem melhores contos brasileiros do século (2000), organizado por Italo Moriconi, e contos machadianos do livro 50 contos de Machado de Assis (2007), selecionados por John Gledson. Vou ler outras coisas também.
Na seleção de Italo Moricone, comecei pela seção "Anos 60 - Conflitos e desenredos", de onde havia parado quando manuseei o livro faz uns dois anos.
Li "A força humana", de Rubem Fonseca; "Amor", de Clarice Lispector; "Gato gato gato", de Otto Lara Resende; "As cores", de Orígenes Lessa; "A máquina extraviada", de José J. Veiga e "O moço do saxofone", de Lygia Fagundes Telles.
De cara, de supetão, o conto que mais me chamou a atenção pelo final da estória foi o de Otto Lara Resende. Que foda! O conto me incomodou! No geral, gostei de todos. O mais hermético para mim foi o de Clarice Lispector, como sempre! Adoro os contos de J. Veiga e não conhecia textos de Orígenes Lessa e da Lygia Fagundes Telles. O mais profundo na temática foi o de Rubem Fonseca.
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É isso! Ano Novo! A minha busca por conhecimento seguirá firme. Sou um ser incompleto como nos ensina Paulo Freire. Somos.
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Estou fazendo na postagem anterior, a última do Ano Velho, a retrospectiva e o balanço do ano de 2023. É texto que dá um trabalhão. Não terminei ainda. Estou incluindo conteúdo aos poucos.
Desejo saúde às leitoras e leitores do blog e sonho com a unidade da espécie humana na luta por uma nova forma de convivência entre os seres humanos e as demais formas de seres da natureza.
Temos que construir unidade na luta pelo fim do capitalismo. Essa abstração vai destruir o mundo, a começar pela espécie que a criou.
William
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