Refeição Cultural
Ao reler a entrevista da filósofa e professora Marilena Chaui, texto que abre a série de entrevistas feitas para o livro Leituras da Crise - Diálogos sobre o PT, a democracia brasileira e o socialismo, de abril de 2006, percebo o quanto a entrevista é seminal e trabalha conceitos que me ajudaram a ser dirigente sindical por mais de uma década no dia a dia da categoria bancária.
A militância de esquerda vivia naqueles dias as contradições políticas suscitadas com a apelidada "crise do mensalão" e a entrevista de Marilena Chaui foi muito importante para mim.
As postagens de resenhas ou comentários sobre livros dão um trabalhão por causa das citações que faço no texto.
Como estou relendo a entrevista e não vou fazer longas citações, citarei a página na qual o tema abordado me chamou a atenção.
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TEMAS FILOSÓFICOS DA POLÍTICA EXPLICADOS POR CHAUI
"O neoliberalismo é a decisão política de cortar a direção dos fundos públicos no polo dos direitos sociais ou do salário indireto, dirigindo a totalidade desses fundos ao capital (que deles precisa para continuar as mudanças tecnológicas) - os direitos sociais se convertem em serviços vendidos e comprados no mercado. É também a decisão de 'enxugar o Estado', privatizando as empresas públicas e 'desregulando' a economia, isto é, permitindo a concentração oligopólica da riqueza social e dando plena liberdade ao capital financeiro (ou ao monetarismo)." (p.37/38)
- Diferença entre a técnica e a práxis, segundo Aristóteles (p. 17)
- Ética pública, na qual a virtude central é a justiça (p. 18)
- Diferença entre a justiça do partilhável ou distributiva, referindo-se a distribuição de bens, e a justiça do participável ou participativa, referindo-se ao exercício do poder e à igualdade política (p. 18 e 19)
- A ética DA política e a ética NA política (p. 20)
- Os princípios da ética pública se encontram na qualidade das instituições republicanas e democráticas, porque os governantes são humanos e têm paixões, segundo Espinosa (p. 21)
- "Só pode haver república e democracia se o que agrada ao governante não tiver força de lei." (p. 22)
- "Ou seja, o partido formulou uma cultura política orientada pelas ideias de igualdade, justiça e participação, portanto, por virtudes políticas ou uma ética DA política." (p. 22)
- Direitos econômicos, sociais e culturais não podem ser convertidos em "serviços" (p. 23)
- Controle social do poder público através da auto-organização da sociedade (p. 23)
- Conceitos sobre liberdade de pensamento e de expressão, opinião pública etc (p. 25)
- Senado brasileiro: foi inchado pela ditadura de forma absurda e desde então nenhum presidente eleito consegue governabilidade por não ter maioria parlamentar (p. 26/27)
- "A indústria política dá ao marketing a tarefa de vender a imagem do político e reduz o cidadão à figura privada do consumidor (p. 28)
- Sobre os efeitos maléficos da burocratização do partido e dos movimentos organizados, Chaui nos dá uma aula espetacular! (p. 34/35)
- A parte sobre o neoliberalismo é tão esclarecedora conceitualmente que até vou pôr uma citação na abertura da resenha (p. 36 e seguintes)
- Chaui toca no assunto da política econômica do 1° governo Lula, o tal equilíbrio fiscal era para ser política de transição e virou permanente (p. 40)
- A filósofa explica o que é totalitarismo (p. 43 e seguintes)
- "Enquanto no absolutismo a fórmula é 'o Estado sou eu' (o 'eu' é o rei), no totalitarismo a fórmula é 'a sociedade sou eu' (o 'eu' é o Estado)." (p. 44)
- A professora explica o que é populismo e caracteriza a sociedade brasileira como uma república oligárquica (p. 49)
- Ao falar das experiências da URSS e China, o chamado "socialismo real", Chaui explica que aquilo não foi socialismo, pois não havia democracia (p. 51)
- Na parte final da entrevista a professora descreve o que é o socialismo do ponto de vista econômico, político, social e esclarece por que socialismo e democracia são inseparáveis (p. 51 a 55)
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Comentário final
A atualidade da entrevista e os conceitos abordados pela filósofa Marilena Chaui são impressionantes!
Para fechar a releitura do livro, falta agora ler o texto que Chaui disponibilizou na edição sobre democracia e transparência.
É isso!
É significativo ler essa entrevista no dia que rememoramos o assassinato do jornalista Vladimir Herzog há 50 anos (25/10/75).
Temos o dever de seguir na luta contra o capitalismo e por uma sociedade socialista e democrática.
William Mendes
Bibliografia:
CHAUI, Marilena; BOFF, Leonardo; STEDILE, João Pedro; DOS SANTOS, Wanderley Guilherme. Leituras da Crise - Diálogos sobre o PT, a democracia brasileira e o socialismo. 1a edição. São Paulo, Editora Fundação Perseu Abramo, 2006.












