sábado, 22 de novembro de 2025

Instantes (12h53)



Refeição Cultural

Opinião 


BOLSONARO NA PRISÃO E A DROGA ÁLCOOL EM AÇÃO

O dia promete muito consumo de bebida alcoólica, a droga que mais mata e destrói famílias no Brasil. Por esse motivo, temo por muitas pessoas que não poderiam beber uma gota sequer de álcool e talvez acabem bebendo pela motivação extra deste sábado: a prisão preventiva de Jair Bolsonaro, que estava "preso" em sua mansão e hoje foi levado para a Polícia Federal. 

O que mais me incomoda é saber que esse sujeito não foi sequer indiciado e não está respondendo a processo penal pelo genocídio que praticou contra nossas irmãs e irmãos brasileiros quando ocupou de forma indevida a presidência do país. 

Na CPI sobre a Pandemia de Covid-19, Bolsonaro foi responsabilizado por 9 crimes, incluindo crimes contra a humanidade. Ele negou vacina ao povo brasileiro, incentivou a contaminação em massa e centenas de milhares de pessoas morreram por culpa dele.

Bolsonaro é uma espécie de Al Capone brasileiro, tanta morte e destruição causada por ele e não foi condenado por nada disso. O covarde foi condenado por tentativa de Golpe de Estado porque foi cuzão e arregou na hora H.

Enfim, fico feliz por ter errado em minha leitura de cenário na qual apontei que o genocida fugiria. 

Não comemoro sua prisão porque o álcool pode nos trazer no dia de hoje muitas infelicidades pessoais, invisíveis aos de fora das famílias com problemas de alcoolismo.

Post Scriptum: amig@s e leitores, se possível, bebam com moderação...

William 

22/11/25

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Tecnologia em benefício de quem? (3)



Refeição Cultural

Opinião 


"O que há de errado em tudo isso? Marx já constatava, muito tempo atrás, que a tecnologia é trabalho acumulado. Suas modificações surgem das contradições sociais: de um lado, ela aumenta a riqueza social e o domínio sobre a natureza; de outro, aumenta a alienação do trabalhador e acresce de mais-valia o capital. 'A maquinaria é meio para produzir mais-valia'" (p. 11)


O livro "Tecnologia, Cultura e Formação... ainda Auschwitz" me chamou a atenção em 2017, quando vi meu sobrinho estudando nele as temáticas de autores como Adorno, Marcuse, Horkheimer e demais pensadores frankfurtianos clássicos.

Eu era gestor eleito de uma grande autogestão em saúde e lidava diariamente com as contradições éticas da questão da tecnologia no setor. 

Cansei de ver, à época, a questão técnica prevalecer de forma acrítica em situações nas quais o uso da tecnologia não beneficiava os seres humanos e as instituições. 

Como explica Marx, a maquinaria era usada para produzir mais-valia e não para beneficiar as pessoas. Pelo contrário, por meio da alienação, era usada para prejudicar as coletividades em benefício de alguns canalhas detentores de saberes técnicos. 

Amig@s leitores, isso vem piorando exponencialmente desde a época que cito aqui, menos de dez anos. 

Sigamos refletindo sobre a tecnologia e a ética em seu uso.

William Mendes 

21/11/25

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Quinta-feira, 20 de novembro de 2025


CONSCIÊNCIA NEGRA E LUTA ANTIRRACISTA

O dia 20 de novembro é feriado nacional no Brasil por causa da Lei 14.759/2023, assinada pelo presidente Lula. Antes, a presidenta Dilma Rousseff, em 2011, sancionou a Lei 12.519, que estabeleceu o "Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra".

Duas pessoas estiveram em minhas lembranças e reflexões nesta data: minha irmã Telma Lúcia e o deputado estadual pelo Paraná, Renato Freitas, nosso companheiro do Partido dos Trabalhadores. Sou eleitor do PT desde 1988, militante e filiado há décadas.

Minha irmã e eu crescemos no Brasil da ditadura civil-militar dos anos setenta e fomos adolescentes no país ainda governado pelos desgraçados fardados e por seus mantenedores nos anos oitenta. Os mesmos apoiadores que seguiram no poder após o fim oficial da ditadura. 

Encerrada a ditadura dos milicos de merda em 1985, os donos do dinheiro e do poder político seguiram barbarizando o povo como sempre fizeram antes e seguem até hoje fazendo a vida de quase todos nós um inferno na terra chamada Brasil.


O companheiro Renato Freitas sofreu ontem mais uma das frequentes agressões racistas que enfrenta desde que nasceu e cresceu nas veredas periféricas de um dos países mais violentos e assassinos do povo negro no mundo. Renato precisa de todo o nosso apoio porque querem calar sua voz e quebrar sua resistência de sobrevivente. Renato, estamos contigo, irmão e companheiro!

Durante a maior parte de minha vida, décadas eu diria, não tive a menor ideia do que deve ter sido a vida de minha irmã Telma. Um branco heterossexual e que conseguiu estudar até a graduação jamais saberá o que é ser negro ou negra no Brasil. Jamais! Não é possível sentir o que sente uma pessoa oprimida e perseguida por preconceito ou discriminação, qualquer que seja o ódio que ela sofra.

Cresci num país violento, machista, racista, desigual, misógino, um país que nasceu sendo uma colônia de exploração de invasores que chegaram aqui, mataram os povos que viviam na terra, destruíram os biomas, trouxeram milhões de seres humanos raptados do continente africano para trabalharem como escravizados. 

Durante séculos, as crianças que nasceram aqui eram fruto de estupro de mulheres indígenas e escravizadas africanas. E durante séculos, e até hoje, os homens desta terra, não todos, mas uma grande maioria, se valeram de diversos estratagemas para a manutenção de sua violência contra as mulheres. Até as religiões fizeram parte dessas ferramentas de poder.

Somos um povo de sobreviventes e quase todos nós temos em nosso passado o sangue de uma mulher violada ou abusada por homens que construíram instituições e leis para que os privilégios deles permanecessem para sempre, independente das lutas libertadoras e emancipatórias dos povos oprimidos que foram surgindo ao longo de séculos.

Só depois que tive a oportunidade de conhecer o movimento sindical brasileiro, depois que virei bancário, foi que passei a compreender melhor a vida social e política do povo trabalhador brasileiro. A convivência no movimento sindical cutista e os ensinamentos que vieram com o tempo me permitiram ser a pessoa que sou hoje, incompleta como ensina Paulo Freire, mas um pouco mais consciente.

Temos que lutar por uma sociedade humana onde não haja nenhuma forma de preconceito e discriminação e onde as pessoas vivam suas vidas em condições igualitárias, respeitando as diferenças que nos fazem humanos, seres diversos e únicos em nossas características.

Cresci numa sociedade que insistia em me fazer ter ódio e medo. Andei por caminhos sombrios e muitas vezes só o ódio me moveu. Encontrei luzes nos ensinamentos de minha mãe, de pessoas boas e em boas leituras. O ódio vive me tentando... ao ver um racista ou fascista, o ódio me tenta... mas devo resistir e pensar no amor, na humanidade.

Pensando em minha irmã Telma Lúcia, uma sobrevivente, e no companheiro Renato Freitas, um sobrevivente, penso em todas as pessoas que sofrem pelo racismo e pelos diversos tipos de preconceito e discriminação que depõem contra a sociedade humana.

A vida pode e deve ser boa e feliz para todas as pessoas. A vida humana pode ser vivida num ambiente terrestre que respeite as diversas formas de vida. Lutemos por isso.

William Mendes


Post Scriptum: sempre participo das atividades de rua em datas importantes. Hoje tinha prioridades com questões de saúde de minha família. Não estive na Av. Paulista, mas meu coração bateu forte pelas lutas e resistência do povo negro de nosso país.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Tecnologia em benefício de quem? (2)


Matérias da página da Fórum


Refeição Cultural

Opinião 


A INTERNET CAIU (ERROR 500)

Em tese, não tenho nada contra tecnologia. O ser humano chegou até aqui no planeta Terra por ser inteligente e criar tecnologia para se adaptar ao meio, superar seus predadores naturais e criar coisas novas.

A vacina dolorosa e cara que tomei hoje contra Herpes Zoster é fruto da inovação tecnológica de nossa espécie animal. Vacinas e procedimentos cirúrgicos são tecnologias criadas em benefício dos seres humanos. 

No entanto, é urgente o debate sobre a ética na utilização da tecnologia na sociedade humana neste momento da história. Ela deve beneficiar a maioria das pessoas; nunca concentrar poder na mão de poucos.

As reflexões que farei sobre o tema terão como foco principal a sensibilização das pessoas em posição de poder na política, como eu mesmo estive nesta condição por quase duas décadas. Quem tem mandato e ou representatividade, tem poder de mudar a história. 

O que aconteceu hoje, um apagão em parte da internet brasileira e global vai se repetir. Pior que isso, vai escalar. A sociedade humana vai tomar um "delete" das big techs a qualquer momento e as tais "nuvens" e navegações on-line vão desaparecer. 

Em qualquer momento no futuro, que pode ser amanhã mesmo, ano que vem durante as eleições brasileiras, ou de forma pontual, ou seja, tal serviço, ou rede, ou grupo, ou local etc, enfim, nós vamos ter um apagão de nossas memórias (hoje "nuvens") como se acordássemos com Alzheimer da noite para o dia.

A tecnologia está na mão de meia dúzia de pilantras, psicopatas, empresas que cagam para as pessoas e o mundo, cagam! (Desculpem a franqueza).

Tirar esse poder da mão de alguns animais humanos egoístas e ególatras é uma questão ética!

Pensem nisso, lideranças políticas. 

William Mendes 

18/11/25

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Tecnologia em benefício de quem?



Refeição Cultural

Opinião 


Sempre me sensibilizo quando vejo minha mãe ou meu pai com dificuldades em fazer coisas básicas do cotidiano por causa da tecnologia. 

Eles não conseguem chamar um carro de aplicativo para irem sozinhos a algum lugar. Meu pai nem tem aparelho para isso. Minha mãe tem, mas não sabe utilizar essa ferramenta, esse aplicativo. 

Como meus pais, temos milhões de pessoas só no país no qual vivemos, ou no qual sobrevivemos, o Brasil.

As tecnologias deste momento da história humana não são feitas ou não são utilizadas para melhorar a vida do povo. Não são! Afirmo isso como opinião e debato com qualquer pessoa a respeito do tema.

Seria necessário estabelecermos uma discussão ética sobre o uso da tecnologia. Ela deve ser utilizada em benefício do conjunto da população e não por uma pequena parcela em prejuízo do todo.

Como não sou determinista e defendo um mundo melhor para todos os humanos e para os seres vivos, e acredito na formação política e na educação como forma de melhorar o mundo através das pessoas, entendo que devemos refletir mais sobre a tecnologia. 

Voltarei ao tema.

William Mendes 

17/11/25

domingo, 16 de novembro de 2025

Instantes (11h41)



Refeição Cultural


GUERRA

Enquanto concluo que o amor deve ser o foco na relação com as pessoas, instituições e o mundo natural, os Estados Unidos atuam para destruir as pessoas, as instituições e o mundo natural. 

A experiência adquirida por sobreviver nas últimas décadas vivendo no Brasil e sendo quem sou me faz perceber a realidade amarga da proximidade de uma nova longa noite de terror, na América Latina inteira. 

O imperialismo decadente do Ocidente vai barbarizar nossas vidas em todos os países das Américas para tentar manter a hegemonia global que está perdendo.

Dá pena perceber que o amor e seus corolários nas relações sociais tendem a sucumbir diante das armas letais dos EUA e seus apaniguados. E as tecnologias de manipulação de massas são quase impossíveis de se combater na atualidade histórica.

O deep state vai destruir a pouca paz que temos nos países do continente americano.

Talvez a unidade massiva das esquerdas e dos não entreguistas pudesse criar estratégias de resistência às guerras que nos serão impostas. 

No entanto, seja em vida seja estudando a história da esquerda, nunca vi unidade potente o suficiente para impedir que os inimigos donos do poder nos derrotem.

Tempos tenebrosos vêm por aqui.

William Mendes 

16/11/25

sábado, 15 de novembro de 2025

Instantes (18h00)


R. da Consolação, em frente
ao Belas Artes


Refeição Cultural

Opinião 

A maioria dos políticos não tem a menor consideração pelo povo da sua região de representação. Há exceções, mas políticos autênticos são a minoria. 

Vejam a questão do transporte público da maior cidade do país, São Paulo. O sujeito eleito prefeito em 2024, na verdade reeleito, não dá a mínima para o cidadão paulistano. 

Gastei horas para ir e voltar a um local, a Praça Roosevelt. Usei um aplicativo para ver o tempo e a hora que passaria o ônibus no Parque Continental. Não veio o ônibus.

Andei meia hora até a Avenida Corifeu, esperei mais quase meia hora para pegar o ônibus para o Anhangabaú. 

Um trânsito do inferno em pleno sábado me fez chegar ao destino duas horas depois que saí de casa.

Para voltar, o mesmo sacrifício. 

Fiquei observando no ponto de ônibus na Consolação... idosos, gente simples com cara de cansaço. Uma senhora comentou após a demora do ônibus: "- Por isso que todo mundo sai de carro...". Ela tem razão. O sistema é feito para cada um se virar como puder. 

É triste ver tanto descaso com o povo paulistano e brasileiro. É triste! Esses políticos que não respeitam as pessoas, as cidades e os mandatos eletivos deveriam ser banidos da vida pública. Que gente canalha!

Qualquer pessoa com um mandato político deveria ter a ética de fazer o possível e até o que seria quase impossível para melhorar a vida do povo e a polis.

Por isso voto no Partido dos Trabalhadores desde que tirei meu título de eleitor em 1987. Nunca me arrependi de dar meu voto à esquerda. 

A esquerda é, via de regra, o espectro político que busca melhorar a vida do povo. São Paulo foi melhor para o povo com Luiza Erundina, Marta Suplicy e Fernando Haddad. 

Pensem nisso, amig@s leitores. 

William 

15/11/25

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Livro: Garimpeiro do cotidiano - Francisco Ferreira Alexandre



Refeição Cultural


Crônicas de Francisco Alexandre

A leitura das crônicas do companheiro e amigo Francisco Alexandre foi uma atividade cultural bastante agradável. 

Conheço Alexandre há décadas, fomos funcionários do Banco do Brasil e militamos juntos no movimento sindical brasileiro. 

A leitura dos textos era como se eu estivesse vendo o Alexandre em uma de nossas reuniões políticas fazendo a defesa de suas posições sempre firmes e com bases sólidas. 

Os textos foram publicados em sua cidade natal, Bom Conselho, e alguns em Maceió. Estão dispostos em ordem cronológica e abrangem a vida política do país, de sua região e da cidade entre os anos de 1991 e 2018.

Cito como exemplo de texto excelente e reflexivo o artigo sobre "Pena de Morte", de 20/07/91. Esse tema foi um dos que mudei de opinião ao ser politizado pelo movimento sindical cutista. 

Antes, seguia o senso comum de uma parcela importante da sociedade que defendia a ideia ilusória e mentirosa de "justiça", de que se deveria adotar a partir do Estado a pena capital no país, abolida em 1855, segundo Alexandre no artigo. 

Os artigos reunidos em livro nos contam a história do Brasil e da cidade de Bom Conselho (PE). Ao ler cada texto, fui me lembrando daqueles episódios da vida brasileira, do governo Collor (1990/1992), do plebiscito sobre presidencialismo ou parlamentarimo (1993), até da greve dos caminhoneiros em 2018. 

Eu já havia lido outro livro de Alexandre, quando virei dirigente sindical bancário em 2002. Nosso amigo é um estudioso e sua obra "Fim da segurança do emprego no Banco de Brasil", descrevendo a reestruturação produtiva do governo FHC (1995/2002), foi fundamental para mim à época. Tive dados do processo de redução de 50 mil funcionários do banco para meu trabalho em defesa dos colegas.

Aliás, Alexandre foi um dos companheiros que me auxiliou durante o processo de lawfare que sofri durante um mandato de representação em nossa autogestão em saúde. As acusações mentirosas foram arquivadas por falta de provas e sou grato a todos que contribuíram para encerrar aquela tentativa de assassinato político contra mim.

Enfim, estive ontem com Alexandre em uma reunião nacional e foi prazeroso vê-lo inscrito e defendendo suas posições como fez em cada crônica do livro. 

Sigamos lendo, estudando e aprendendo, afinal de contas somos seres incompletos como nos ensina o educador Paulo Freire.

William Mendes 

12/11/25

O sentido da vida (14)



Dar o testemunho que a formação política salva vidas


Ele sobreviveu ao ódio que sentia desde a infância e adolescência. Achava o mundo injusto e as pessoas do poder más. 

Durante muitos anos de sua vida, teve momentos que desejou morrer. Depressão talvez, e não frescura ou fraqueza. 

Olhava a vida de forma egoísta, não pensava no sofrimento das pessoas de sua relação, caso viesse a faltar. 

Teve uma visão determinista da vida até uns quarenta anos de idade. Talvez fruto do ambiente cultural de onde veio: a vida é assim mesmo; foi Deus que quis assim; isso nunca vai mudar...

Então veio a formação sindical e política a partir do mundo do trabalho. A miséria, o ódio, a tristeza e a injustiça social passaram a ser vistas com olhos politizados: não eram naturais.  

A formação política salvou a sua vida. Salvou a vida de outras pessoas. Mudou a realidade. 

Eis um sentido para a vida: testemunhar o resultado da educação libertadora na vida das pessoas e no mundo, um mundo compartilhado com novas mulheres e homens, seres mais conscientes. 

A educação pode mudar as pessoas, que podem mudar o mundo. A formação política salva vidas. 

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segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Instantes (16h05)



Refeição Cultural

UBERLÂNDIA

Hoje, de noite, vou-me embora de Uberlândia. Volto para Osasco, na Grande São Paulo.

Vim à cidade visitar meus pais e família. Como o tempo é o senhor de nossas vidas, tive que priorizar o que fazer. 

Levei meu pai ao médico, não dava mais para protelar a questão de saúde dele. Nisso levei o primeiro dia de estadia na cidade. 

No segundo dia, levei minha mãe para ver a irmã dela, minha tia mora com meu primo. Visita agradável de família. No dia seguinte, almoçamos juntos num lugar legal. 

Dentre as prioridades, ver a irmã querida e o cunhado, sobrinhos e família. Beleza! Minha irmã é uma mulher negra com uma história incrível de superações.

Gostaria de ter ido visitar meu tio, irmão de minha mãe, ele esteve internado, mas já recebeu alta. Não teve como, o tempo acabou e já vou embora. 

Só fui uma vez ao Parque do Sabiá, lugar onde renovo minhas energias em meio à natureza. 

O tempo foi tão escasso, que estou avaliando se ainda corro lá para me despedir. O parque me reconecta com os sentidos da vida.

As relações humanas e os seres humanos estão num momento desafiador da existência de nossa espécie na Terra.

Como seres racionais, sociais e aptos às paixões, não posso me dar ao luxo de desistir dos seres humanos. 

Como seres históricos e inteligentes, é nossa responsabilidade educar as pessoas, salvar o planeta Terra e as formas de vida. 

Sou natureza e tenho clareza do efeito do tempo sobre mim. E dos percursos que trilhei. Meu corpo sentiu a caminhada.

Tudo faz parte da vida.

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Vamos lá no Parque do Sabiá respirar aquele ar, me misturar àquela natureza e fluir, como nos ensina o filósofo Aílton Krenak: fluir, já que a vida não é útil. 

Fluindo... (18h07)

Will i am 

10/11/25

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Livro: Leituras da crise - Diálogos sobre o PT, a democracia brasileira e o socialismo



Refeição Cultural

A leitura atenta e reflexiva das entrevistas de Juarez Guimarães aos intelectuais Marilena Chaui, Leonardo Boff, João Pedro Stedile e Wanderley Guilherme dos Santos e dos textos anexados ao livro permite aos leitores adquirir uma compreensão excelente da sociedade humana em geral e do Brasil em particular.

O livro foi lançado pela Editora Fundação Perseu Abramo em abril de 2006, ainda como instrumento de contribuição aos debates iniciados pela esquerda no calor da crise política vivida pelo primeiro governo Lula (PT), apelidada de "crise do mensalão".

Eu era dirigente sindical da categoria bancária e o livro contribuiu decisivamente para que eu continuasse exercendo minha representação e militância política. Nunca mais me esqueci dos conceitos políticos que aprendi com a leitura dessa obra e desses intelectuais de esquerda. 

Fui reler o livro agora - duas décadas depois e vivenciando o terceiro mandato do presidente Lula - e afirmo a vocês, amig@s leitores, que a atualidade das entrevistas e textos anexos é admirável, principalmente no que diz respeito à parte conceitual e ideológica abordada pelos entrevistados. 

Se tiverem oportunidade, leiam as entrevistas e textos anexos e debatam com amig@s e companheir@s de militância. 

Fiz resenhas das entrevistas em meu blog, mas é evidente que nenhum comentário ou resumo substitui o texto original de cada intelectual ouvido por Juarez Guimarães. 

Reproduzo abaixo só o começo de um texto de Marilena Chaui para vocês perceberem a profundidade conceitual da autora.

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O SURGIMENTO DA POLÍTICA 

A "invenção da política" (expressão cunhada pelo historiador Moses Finley) se dá com a instalação da ideia de poder público, por meio da invenção do direito e da lei (isto é, a instituição dos tribunais) e da criação de instituições públicas de deliberação e decisão (isto é, as assembleias). Esse surgimento só foi possível porque o poder político foi separado em três autoridades tradicionais: a do poder privado ou econômico do chefe de família, a do chefe militar e a do chefe religioso (figuras que nos impérios antigos estavam unificadas numa chefia única, a do rei ou imperador). A política nasceu, portanto, quando a esfera privada da economia, a esfera da guerra e a esfera do sagrado ou do saber foram separadas e o poder político deixou de identificar-se com o governante como pai, comandante e sacerdote, representante humano de poderes divinos transcendentes." (CHAUI, Marilena. Democratização e transparência: a tarefa do PT contra a despolitização e pela construção de uma ética pública. p. 57. In: Leituras da crise, 2006)


Viram o grau de conceitos em apenas um parágrafo, amig@s leitores?

Vocês conheciam todas essas questões abordadas pela filósofa?

É isso. Se possível, leiam o livro "Leituras da Crise" (2006). A obra é uma pedra preciosa que a Perseu Abramo nos presenteou para nossa formação política e militante. 

William Mendes

05/11/25

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Instantes (10h33)



Refeição Cultural

LEITURAS


"A exaltação diminuiu, o pranto correu manso, estancou, e uma vozinha triste confessou-me, entre longos suspiros, que o mundo ia acabar. Estremeci e pedi explicações. Ia acabar. Estava escrito nos desígnios da Providência, trazidos regularmente pelo correio. Na passagem do século um cometa brabo percorreria o céu e extinguiria a criação: homens, bichos, plantas. Riachos e açudes se converteriam em fumaça, as pedras se derreteriam. Antigamente a cólera de Deus exterminara a vida com água; determinava agora suprimi-la a fogo." (RAMOS, Graciliano. "O fim do mundo" in: Infância, 1995)


Esse texto de Graciliano Ramos é bom demais! O personagem é um garoto de poucos anos de idade.

O narrador é ele mesmo anos depois buscando na memória essas lembranças de sua infância no agreste.

Cada capítulo, ou pequeno conto, é completo em si. Um evento marcante, uma imagem, um sentimento. 

E a maestria está por conta dele, o escritor, mestre das palavras e da estética criativa.

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Sigamos lendo, e escrevendo, e salvando a humanidade. 

William 

04/11/25

domingo, 2 de novembro de 2025

O sentido da vida (13)



Compartilhar a experiência vivida

Foi à academia do condomínio fazer sua série de exercícios. Uma disciplina em favor da vida.

Enquanto treinava, refletia sobre o sentido do viver. Olhando para trás, tinha noção clara que havia chegado até aquele momento por causa das oportunidades que teve e pelos exemplos que conheceu.

Seus pais foram exemplos importantes. Gente pobre que sobreviveu ao Brasil violento do século vinte. Família com todas as características do povão brasileiro. 

Ele passou dos cinquenta anos após ter desejado morrer e odiado muita coisa nas primeiras três décadas de vida. A educação, o acesso à formação política e o convívio com pessoas queridas o fizeram chegar até aquele momento. 

Refletiu que talvez seu papel dali adiante seja algo como testemunhar que as oportunidades salvam as pessoas. 

Compartilhar sua experiência com os jovens e ser amoroso pode ser o mais importante a fazer e dar sentido ao existir ainda. 

Viver vale a pena. Ele aprendeu isso vivendo até ali.

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sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 31 de outubro de 2025. Sexta-feira.


OUTUBRO

Um mundo bárbaro! Um mundo em colapso. É o sentimento que sintetiza a realidade que vejo. E com isso não quero dizer que devemos desistir de viver, sequer de lutar para mudar o mundo. Por isso mesmo é que devemos viver e atuar para mudar a realidade, porque viver é bom e a vida vale a pena.

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"O horror, o horror!"

Rio de Janeiro - Toda pessoa humanista ou ao menos com caráter que exista no Brasil deve estar se sentindo triste e compadecida com as famílias das vítimas da chacina policial promovida pelo governador do RJ nesta semana ao realizar uma operação nos complexos da Penha e do Alemão, que resultou no assassinato de mais de uma centena de pessoas (121 vítimas até o momento). Ainda há pessoas desaparecidas.

O horror, o horror!, como disse o personagem Coronel Kurtz no livro "Coração das trevas", de Joseph Conrad.

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Memórias

Meus registros dos fatos e acontecimentos, assim como dos sentimentos sobre as coisas do mundo, vão ganhando importância para mim à medida que o tempo passa e nossas mentes vão se transformando em outra coisa, diferente das mentes que tivemos ao longo de séculos, até milênios. As big techs estão modificando de forma proposital a mente humana e estamos perdendo as qualidades animais que nos fizeram sermos seres humanos inteligentes.

O ser humano está colapsando assim como o planeta Terra está à beira de um colapso por causa dos animais humanos vivendo sob a hegemonia do modo de produção social capitalista, modo focado no lucro e na acumulação de uns poucos em prejuízo do restante das pessoas e formas de vida no ambiente terrestre.

Desde que surgiram as tecnologias de comunicação atuais, a internet e as redes sociais, a lógica de capturar a atenção dos usuários - a economia da atenção -, a utilização de aparelhos eletrônicos com algoritmos e IA que fazem com que as pessoas percam a capacidade de concentração, reflexão, memorização e criação de soluções para a vida cotidiana, há uma preocupação crescente de estudiosos em relação ao risco de o homo sapiens deixar de ser a espécie animal que criou o mundo como nós o conhecemos, para citar uma expressão do neurocientista Miguel Nicolelis, quando fala do cérebro humano, "O verdadeiro criador de tudo".

Por isso acho que as memórias são importantes, o passado coletivo é fundamental para entendermos o presente e definirmos o futuro, e fui convencido que a vida vale a pena através de um processo dialético do viver.

Cadernos dos blogs: estou num longo processo de sistematização de toda a minha produção textual de duas décadas. Dei uma cansada. Mas preciso seguir até terminar o trabalho. Sinto que só vou me sentir livre para iniciar um projeto qualquer após terminar isso.

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Curso de extensão

Terminei o curso de extensão "Como impedir o fim do mundo - Colapso ambiental e alternativas", com 50 horas de duração e ministrado por professoras e professores excepcionais. O curso foi realizado pela Unesp e IDEC, e organizado através da Coordenadoria de Desenvolvimento Profissional e Práticas Pedagógicas da Unesp (CDeP3).

Tivemos entre julho e outubro 12 aulas com uma equipe de docentes marxistas com temáticas que nos fizeram refletir muito sobre a atual crise estrutural do capitalismo e alternativas para uma nova sociedade global. Relembrei minhas noções de economia e outras áreas do saber humano.

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O alimento cultural

Durante o mês, procurei me alimentar culturalmente com novos conhecimentos nas mais diversas áreas do saber.

Reli e resenhei no blog as entrevistas do livro "Leituras da crise" (2006) com Marilena Chaui (aqui), Leonardo Boff (aqui), João Pedro Stedile (aqui) e Wanderley Guilherme dos Santos (aqui). O livro foi central em minha formação política logo no início de minha jornada como dirigente sindical da categoria bancária.

Ganhei de presente do companheiro Luizinho Azevedo seu livro "Desafios do Sindicalismo no Brasil Contemporâneo" (comentário aqui). Gostei da abordagem do tema. Luizinho foi dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região nos anos oitenta e pertencemos ao mesmo grupo político, o Coletivo BB, da Articulação Sindical da CUT. Fui dirigente do Sindicato entre 2002-2014.

Conheci Isaac Asimov, finalmente. Já li quatro contos dele: "Um dia", "Amor verdadeiro", "Estranho no Paraíso" e "O melhor amigo de um garoto". Os textos compõem o livro "Os melhores contos de Isaac Asimov". Estou gostando dos contos do autor.

Estou lendo lentamente o livro "Infância" (1945), de Graciliano Ramos. Cada capítulo é uma espécie de pequeno conto que aborda um evento ou temática da vida do garoto, personagem da história. Ler Graciliano é um privilégio, o escritor é incrível!

Vi dois filmes antigos muito bons e que me deixaram reflexivo: "O Show de Truman: O Show da Vida" (1998), dirigido por Peter Weir e escrito por Andrew Niccol e "O patriota" (2000), dirigido por Roland Emmerich e escritor por Robert Rodat. 

O filme com Jim Carrey antecipou em décadas o fenômeno dos Reality Show e a forma extremada de propagandas e vendas através de uma transmissão pela televisão. As pessoas são coisas, tudo está em função do like e do lucro... incrível como a história é semelhante ao mundo fake no qual vivemos em 2025. 

O filme estrelado por Mel Gibson é interessante porque aborda uma questão histórica, o processo de independência da ex-colônia inglesa. Óbvio que a narrativa tem toda aquela presepada patriótica enfiada goela abaixo dos povos do mundo pela indústria cinematográfica de Hollywood, mas sabendo filtrar essa questão, é possível assistir às quase 3 horas de filme com olhar crítico. Foi o que fiz ao rever a película.

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Livro de memórias sindicais

Durante o período de isolamento da pandemia mundial de Covid-19 e sobrevivendo no Brasil de Jair Bolsonaro, escrevi memórias sindicais em meu blog A Categoria Bancária. Ao longo de quase dois anos fui escrevendo reminiscências dos tempos de trabalhador da categoria bancária que depois virou representante dos colegas em diversos mandatos sindicais.

Os 39 textos de memórias foram importantes para o autor porque o ajudou a atravessar aquela longa noite de terror que o povo brasileiro viveu durante os anos de governo de destruição, o governo do clã bolsonarista e seus asseclas. Cada texto é independente e completo, trata de alguma questão específica. Em essência, os textos lembram ao autor e às pessoas que leram e que venham a ler as concepções e práticas políticas de sindicatos cutistas. O trabalho de base é central nessa experiência.

Após a exposição dos textos no blog, e as postagens tiveram um acesso surpreendente, surgiu a ideia de editar as memórias em livro, e então fiz uma edição impressa para presentear pessoas que fizeram parte de minha formação política ou que estejam atuando na luta incessante da classe trabalhadora explorada pelos donos do poder, os capitalistas.

O mês de outubro foi diferente em relação ao meu cotidiano. Além das participações em eventos políticos que já realizo normalmente, encontrei algumas pessoas queridas para um café ou almoço para presentear o livro de minhas memórias.

A ansiedade de entregar a alguém um livro que você escreveu é algo que jamais pensei sentir. É estranho, confesso! Fiquei relutante desde o início se deveria fazer um livro de minhas memórias. 

Eu adquiri o hábito de fazer textos dizendo o que sinto, penso ou compartilhando algo que aprendi em meus blogs, mas parei de mandar os textos para pessoas e grupos. É uma forma de ficar na minha, e de respeitar o tempo das pessoas. Se alguém quiser saber o que escrevi é só acessar os textos na internet.

Fazer um livro é voltar ao modo antigo, de quando eu tinha a prática de me manifestar porque entendia ser necessário quando representava pessoas e grupos. Ainda me sinto pouco à vontade com relação ao livro, que por sinal ficou muito bonito e bem editado por Cleusa Slaviero e sua Editora ComPactos.

Tive um contratempo com a gráfica, que fez 20% das unidades com erro de impressão nas primeiras páginas, um transtorno indescritível e irreparável, pois posso ter presenteado alguém com uma edição com erro de impressão... foda isso! Os serviços estão muito ruins atualmente. Não culpo a editora, culpo a gráfica, que deveria ter algum controle de qualidade no que faz.

Enfim, minhas memórias estão ganhando o mundo, viajando no espaço e no tempo, sendo preservadas por aí algum tempo a mais que no mundo virtual, da internet e das nuvens.

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Meu corpo segue integrado à natureza 

Finalizo essas reflexões e registros a respeito de meu mês de outubro. 

Anoto para eu mesmo ler no futuro, ou alguma pessoa de minha relação, que minha saúde não está lá essas coisas. Sigo disciplinado nas atividades físicas, mas meu corpo cansou da jornada extenuante que percorreu. Percebo isso. Sou natureza.

William

(21h31)

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Minha história com Lula



Refeição Cultural

Parabéns pelos 80 anos, presidente Lula! O senhor é efetivamente o filho do Brasil!

27/10/25


É uma alegria ver nosso presidente Lula completar 80 anos de idade no dia de hoje, com saúde e em plena atividade política, buscando diariamente benefícios para o Brasil e o povo brasileiro e focado em agendas globais como a questão do combate à fome, a preservação ambiental e o fim das guerras.

Eu não tenho uma foto ao lado do presidente Lula, como tem a maioria das pessoas que conheço do meio político. Não tenho! Ao longo das duas décadas de mandatos de representação sindical até tive algumas oportunidades, mas não deu certo fazer a foto com Lula. 

Não tenho foto com Lula, mas Lula é uma referência em minha vida desde quando eu não sabia disso e ele é uma referência política para mim até hoje, após ser politizado pelos bancários da CUT.

Quando fiz 18 anos e tirei meu título de eleitor, votei no Partido dos Trabalhadores pela primeira vez, e ajudei a eleger Luiza Erundina prefeita de São Paulo. No ano seguinte, 1989, votei em Lula pela primeira vez para presidente da república, em primeiro e segundo turno. 

Antes dos votos em Erundina e Lula, eu havia sido trabalhador braçal desde criança. Da maioridade em diante, votei em Lula e no PT como bancário e sempre tive aquela leitura básica que trabalhador vota em trabalhador.

DE BANCÁRIO SINDICALIZADO A DIRIGENTE DO SINDICATO CUTISTA

Entre 1988 e 2002 fui um trabalhador da categoria bancária sem uma formação política mais aprofundada. Eu sabia mais ou menos o que não queria, o que era ruim para mim e meus pares da classe trabalhadora. Votar em candidatos dos patrões e dos ricos era uma certeza do que não deveria fazer.

Ao participar das eleições do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região na chapa cutista em 2002 e ser eleito representante de meus colegas na direção do maior sindicato da categoria, tive a oportunidade de conhecer a nossa história e aí passaria a entender melhor quem era Lula e quem éramos enquanto movimento político da classe trabalhadora.

Ao começar essa nova fase de minha vida de trabalhador brasileiro - ter um mandato de primeiro grau dos colegas bancários - eu já tinha mais de trinta anos, estava com 33 anos de idade. 

Se, por um lado, eu já tinha me envolvido em diversas lutas estudantis desde adolescente, ajudando a organizar movimentos reivindicatórios no ensino médio, na 1ª faculdade (FEAO-FITO), na 2ª faculdade (Náutico Mogiano), que não concluí, e na 3ª faculdade, a FFLCH-USP, por outro, nunca tinha tido formação política orgânica, de correntes políticas.

Notem que o trabalhador sindicalizado há anos ainda não tinha formação política sindical e partidária, e passaria a conhecer e entender melhor a história da luta de classes no Brasil, a categoria bancária, o Novo Sindicalismo surgido após a ditadura de 1964-85, a criação do Partido dos Trabalhadores, a Central Única dos Trabalhadores etc.

LULA, O PT E A CUT

Foram necessários, para mim, vários anos de militância e estudos por interesse próprio para que eu compreendesse melhor quem era essa figura humana extraordinária chamada Luiz Inácio Lula da Silva, o filho de Dona Lindu, retirante nordestino e garoto que se tornou metalúrgico, sindicalista e depois presidente do Brasil.

Mais que conhecer quem era Lula, desde o primeiro dia de diretor do Sindicato, principalmente depois que fui liberado do dia a dia no caixa do Banco do Brasil e passei a fazer trabalho de base e ações sindicais, eu precisava saber quem eu era, quem era o sindicalista que representava os bancários de um sindicato com uma história extraordinária como o nosso.

Eu já estava no movimento sindical há algum tempo quando li o livro "Lula, o filho do Brasil", escrito por Denise Paraná e lançado pela Fundação Perseu Abramo, em 2002. A base da biografia são entrevistas com Lula, familiares e amigos nos anos noventa e depois a autora faz uma espécie de análise sociológica na segunda parte do livro.

E qual é a minha história com Lula e as instituições de classe que ele ajudou a construir?

Desde 2002, vinha buscando conhecer a história dos bancários, as lutas no banco no qual trabalhava, a história da corrente política à qual pertencia no campo cutista - Articulação Sindical -, coisa que fui entender tempos depois de estar no dia a dia do movimento.

As entrevistas contidas no livro de Denise Paraná foram muito esclarecedoras para mim, muito. Óbvio que eu lia muita coisa, jornais antigos do movimento, cartilhas, livros, documentos, tudo que aparecia na minha frente. Mas o livro foi um documento sistematizado para entender o Lula, o PT, a CUT e a Articulação Sindical.

Minha edição é toda rabiscada! Eu lia um trecho e pensava "essa fala é para fazer formação sindical sobre comunicação" ou "caramba, preciso mostrar isso aos companheir@s para eles entenderem melhor a Articulação e a CUT" etc.

Me chamou a atenção algumas falas do Lula nas quais ele explicava o que a gente não queria ser, o que a gente sabia que não queria copiar de outras forças políticas, sindicais, partidárias etc. 

Ao pensar o Partido e a Central, e até o país que queríamos, nossas referências não seriam o que se conhecia no campo da esquerda da época: URSS, China, Cuba e outras experiências socialistas não eram nossas referências.

Lula sempre foi muito enfático ao falar em democracia, em pluralidade sindical e partidária, ao falar em livre pensamento e liberdade de expressão, em direito à oposição, em melhorar a vida da classe trabalhadora não só pensando o futuro (objetivos históricos), mas pensando o cotidiano, os objetivos imediatos da classe.

Sei lá, após ler o livro sistematizando aquelas entrevistas de Lula e seus familiares, e olhando tudo o que vinha estudando, vivendo e experimentando como sindicalista seguindo fielmente as concepções e práticas sindicais da Articulação Sindical e da CUT, compreendi bem melhor quem eu era e passei a lidar melhor com as contradições da política.

Para fechar essa reflexão e minha alegria ao parabenizar Lula por seu aniversário, diria que não tenho uma foto com o companheiro Lula talvez por ter sido disciplinado demais durante minha militância com mandatos.

Uma das vezes nas quais eu poderia ter tirado a minha foto com Lula, ele estava reunido com a direção do Sindicato no Auditório Azul e eu até queria ir àquela reunião.

Mas nós do Banco do Brasil tínhamos uma assembleia um ou dois dias depois e como havíamos ido mal na assembleia anterior, nós da corrente Articulação Sindical da CUT tínhamos que fazer uma convocação muito amarrada com os bancários para ganhar aquela assembleia.

Eu era o responsável pelo Complexo São João do Banco do Brasil, eram 22 dependências e uns dois mil bancários ali. Convocações bem-feitas na região central definiam uma assembleia na Quadra dos Bancários, ao lado da Praça da Sé.

Não deu outra, eu foquei na convocação dentro do prédio e não fui à reunião com o presidente Lula... mas tivemos uma boa assembleia e tenho certeza que esse era o meu papel principal naquele momento.

Presidente Lula, parabéns e felicidades!

William Mendes