Refeição Cultural
Osasco, 14 de março de 2025. Sexta-feira.
(Nesta data, dois seres humanos referenciais para nós faleceram: Karl Marx em 1883 e Marielle Franco em 2018. Eles vivem em nós que lutamos pela libertação dos seres humanos da exploração capitalista. Marielle Franco, presente! Karl Marx, presente!)
O QUE FAZER? (não é sobre a revolução... é só sobre mim mesmo)
Em minhas reflexões e digestões culturais nos últimos dias, pensava a respeito de escolhas que tenho que fazer diariamente, nós humanos temos decisões a tomar sobre as veredas que escolhemos o tempo todo. Faço isso ou faço aquilo? Tenho opções sobre o que fazer? Eu tenho opções, sou um homem de sorte. (muitos não têm opções...)
Sempre gostei de estudar, ler, conhecer coisas novas. Por décadas, lamentei em minhas reflexões o fato de não ter tempo adequado para ler e estudar. Trabalhei desde criança, e conciliar a sobrevivência com os estudos formais dificultou a possibilidade da leitura por prazer. Quando conseguia ler, estava sempre cansado.
Foi nos dilemas do percurso de minha vida que comecei e não terminei várias coisas. O desejo me instava a fazer a coisa, a iniciativa. A realidade me obrigava a cair na real e acabava deixando o que iniciava. Tinha iniciativa, mas não era "acabativo".
Adolescente, optei por um curso técnico de eletrônica e não terminei. Meio por acaso, entrei em Ciências Contábeis e concluí o bacharelado. O desejo me fez iniciar a graduação de Educação Física, sempre amei esportes e seria professor. Não pude concluir por falta de condições financeiras. Passei na Fuvest e tentei novamente uma graduação para ser professor. Por virar sindicalista, o curso de Letras ficou em segundo plano e só o concluí muito depois do início.
Assim a vida seguiu entre os vinte e os cinquenta anos. Não fui professor. Fui bancário e sindicalista.
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A BUSCA POR SENTIDOS
A vida é uma coisa intrigante. Sim, tão intrigante que os humanos acabam lidando com as cotidianidades inventando diversas explicações para conviver com as situações que o viver vai encontrando diariamente.
Enquanto a vida só é para as demais espécies viventes no planeta, a espécie homo sapiens sente a necessidade de dar sentido às coisas e pensar sobre a vida. Qualificar a existência.
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A VIDA É UMA COISA INTRIGANTE
Esta reflexão é para registrar o dilema pessoal do momento. Estudar e aprender coisas novas neste instante mais curto de minha existência ou sistematizar décadas de tudo que produzi de textos, e que estão sempre em risco de se perderem por estarem em máquinas dos inimigos da humanidade: as nuvens das big techs?
E para complicar mais ainda as escolhas: por que me meter em novos estudos se eu passei décadas querendo ler e não conseguia e agora tenho pilhas de livros para ler, ali na estante, ao meu alcance, e eu não li tudo que acumulei já estando há seis anos fora da rotina de vender meu corpo e minhas horas de vida para sobreviver?
(o ser humano é um bicho complicado!)
Ainda sobre a vida ser uma coisa intrigante.
Na adolescência, quase poderia ter sido professor de arte marcial, Kung Fu, pois pratiquei o esporte por anos e parei quando fui embora da casa de meus pais aos 17 anos.
O abandono do Kung Fu foi uma coisa mal resolvida na minha vida. Que foda isso! Voltei ao esporte aos 50 anos de idade e fiz aulas por quase dois anos, evoluindo rápido nas faixas. Veio a pandemia e eu parei.
Talvez o azar da pandemia tenha sido sorte para mim. O esforço e a carga que fiz pelos exercícios e pelos movimentos de perna foram tão intensos que destruí meu quadril... a vida é uma coisa intrigante!
Pode ser que o desejo de terminar algo que iniciei na juventude tenha me tirado o sonho de treinar e correr uma maratona... Talvez não possa nem levar uma vida normal em breve... (e correr é/era uma das coisas mais importantes de minha vida!)
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O QUE EU SEI É...
Sobre gostar de estudar e ler - e depois peguei gosto em escrever -, acabei sendo um dirigente sindical que se dedicou a ler e estudar pra caralho!
Durante os 16 anos de exercício de mandatos eletivos estudei tudo que pude sobre o sindicato e a categoria na qual trabalhei, a central sindical e o partido político aos quais dediquei o melhor de minha vida adulta, e depois estudei como um louco a autogestão em saúde à qual me colocaram como candidato para ser gestor e fui eleito.
Como tomei gosto em escrever o que fui aprendendo e refletindo, acabei por criar páginas na internet que chamamos de blogs (diários) e fui escrevendo nos blogs aquilo que conceitualmente é chamado de "WIKIPEDIA".
O que é "WIKIPEDIA"? É o compartilhamento de forma gratuita daquilo que a pessoa sabe. É uma espécie de biblioteca livre. Eu sempre quis ser alguém do mundo do saber e partilhar conhecimento para melhorar as pessoas e o mundo.
Ou seja, seus conhecimentos ou uma coletânea de textos seus partilhando o que você sabe. What I Know Is (WIKI).
Então, passei os últimos vinte anos fazendo isso: compartilhando o que eu sei ou o que li ou o que eu aprendi ou o que eu pensava a respeito de algo.
Acumulei mais de cinco mil textos nos dois blogs que administro há duas décadas. É uma vida escrevendo honestamente o que aprendi na minha jornada de existir.
E por mais que meus textos já tenham desempenhado um dos objetivos de um texto, ser lido por alguém, e já foram mais de 2,5 milhões de acessos aos textos, eu preciso sistematizar e organizar tudo que escrevi em minha vida. Nem eu me lembro de tudo que escrevi. E tem muita coisa boa quando releio.
Escrevi quando estava no auge de minha capacidade intelectiva e sendo uma liderança nacional de uma importante categoria profissional de trabalhadores. Tanto o blog com a história sindical quanto o blog de cultura contêm textos de alguém politizado e que fala a partir de um lado definido da sociedade humana: um homem de esquerda, humanista e amante da leitura.
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ESTUDAR FORMALMENTE OU BUSCAR SENTIDOS E CRIAR SENTIDOS EM MINHAS TRILHAS INTELECTIVAS?
Os impulsos de minha natureza curiosa e desejosa de novos conhecimentos arrefeceram com a experiência de vida... arrefeceram um pouco, quero dizer.
Mesmo neste ponto de minha existência, quando relaxo a vigilância, já me inscrevi em algo para iniciar nova jornada de estudos... imaginem que pensei em fazer Fuvest para voltar à USP e fazer História o ano passado! Vi que isso era um devaneio e me contive.
Cochilei, e quando vi estava inscrito na Pós ICL... eu gosto de estudar, é verdade! Mas uma pós-graduação é uma coisa puxada, com carga formal de estudos a fazer. Óbvio que isso define o tempo de uma pessoa ao longo de um tempo.
O dilema de sempre já me cobra o juízo. O que é prioridade? Minha produção de uma vida ou os novos conhecimentos da Pós? "Deixa de ser mole, William... faz as duas coisas!" Meu corpo cansou sem combinar comigo.
E minhas pilhas de livros que gostaria de ler? Os clássicos, pelo menos? Os Miseráveis, Guerra e Paz, Doutor Fausto, A Divina Comédia...
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A URGÊNCIA DA VIDA AGORA
Há poucas semanas, senti uma urgência em trabalhar a sistematização de minha produção cultural. A urgência é uma espécie de percepção da emergência do instante no qual estou vivo e podendo fazer isso. Não sei do amanhã. Do meu amanhã.
Ao reler e sistematizar os 141 textos produzidos no blog A Categoria Bancária entre os anos de 2020 e 2025 (ilustração), eu tenho a exata consciência de que aquele conteúdo não deveria ser desprezado porque ali contém história de nossa classe social, da comunidade de trabalhadores do Banco do Brasil, da militância de esquerda que estuda e pensa o país e o mundo.
CASSI/BB - Sinceramente, acho pouco provável, de verdade, que alguém já tenha escrito tanto sobre a Cassi como eu nos 80 anos da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil. Difícil. São centenas de textos técnicos e políticos de alguém que tem lado, textos escritos na última década.
Deixo isso se perder? Por mais que os que estejam no poder momentâneo façam questão de desconsiderar a história da Cassi contida ali? Tenho esse direito? Só sei o que sei sobre a Cassi porque me elegeram para estar lá um dia.
...
É isso. Ainda estou por aqui. Sigo refletindo sobre tudo.
Tenho consciência de que minha coletânea de texto (minha wikipedia) contém uma partezinha da história de nossa classe.
William