sábado, 22 de março de 2025

Uma história da leitura: A última página



Refeição Cultural 

"De início, mantinha meus livros em rigorosa ordem alfabética, por autor. Depois passei a separá-los por gênero: romances, ensaios, peças de teatro, poemas. Mais tarde tentei agrupá-los por idioma, e quando, durante minhas viagens, era obrigado a ficar apenas com alguns, separava-os entre os que dificilmente lia, os que lia sempre e aqueles que esperava ler..." (p. 33/34)


O livro de Alberto Manguel "Uma história da leitura" (1997) faz a gente viajar, tanto na história dos livros e suas leituras e leitores, quanto em nosso próprio passado de leituras ou não leituras. 

Fiquei tentando me lembrar de minhas primeiras leituras...

Os gibis vêm em primeiro lugar nas lembranças. Foi em uma aventura do Tio Patinhas, Pato Donald e seus sobrinhos que conheci a mosca tsé-tsé que faz suas vítimas dormirem.

Foi em Uberlândia, onde cresci e vivi entre os dez e os dezessete anos, que comecei a ler livros. Não me lembro de ter trazido livro algum para São Paulo, quando vim morar com minha avó Deolinda e primos. Vim sem nada. Ou deixei o que tinha nos meus pais ou era tudo emprestado o que li. Eu lia muitos livros do Jorge Luiz, meu primo.

"(...) era tão arbitrária ou constituía uma escolha tão aceitável quanto a literatura que eu mesmo podia construir, baseado nas minhas descobertas ao longo da estrada sinuosa de minhas próprias leituras e no tamanho de minhas próprias estantes. A história da literatura, tal como consagrada nos manuais escolares e nas bibliotecas oficiais, parecia-me não passar da história de certas leituras - mais velhas e mais bem informadas que as minhas, porém não menos dependentes do acaso e das circunstâncias." (p. 34)

O que Manguel descreve sobre o acaso das leituras é bem verdadeiro em nossas histórias de leituras.

Durante os anos de crescimento em Uberlândia, eu fui lendo os livros que tomei emprestado, a maioria do meu primo. Eu ir a uma livraria comprar um livro era algo fora de perspectiva à época.

Naquele tempo, anos oitenta, eram livros "best sellers", os mais vendidos ou lançados no "Círculo do Livro", os livros que a gente lia.

Então, li adolescente "Tubarão" (1974), de Peter Benchley, "O exorcista" (1971), de William Peter Blatty, "Os mortos vivos" (1979), de Peter Straub (ler comentário aqui), "Horror em Amityville" (1977), de Jay Anson (ler aqui), "Carrie" (1974), de Stephen King (ler aqui) e outros livros de suspense. Eram os livros da hora.

Calhou de ler alguns livros que podemos considerar clássicos da literatura universal. Li "Lolita" (1955), de Vladimir Nabokov, e "Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída" (1978) antes dos dezoito anos. Li "Mar morto" (1936), de Jorge Amado (ler aqui), um puta clássico. Li "Hamlet" (1600), de William Shakespeare (ler aqui), e gostei demais da tragédia!

Dos livros que a escola obrigava a ler, me lembro do sofrimento pra ler "O cortiço" (1890), de Aluísio Azevedo, "O Ateneu" (1888), de Raul Pompeia e "Senhora" (1875), de José de Alencar.

Li muito jovem "Enterrem meu coração na curva do rio" (1970), de Dee Brown. Que orgulho!

A história da leitura de cada leitor(a) já é uma aventura. Acredito nisso de verdade. 

Eu não fui salvo só pelos acasos, pelos anjos e pessoas queridas que passaram por minha vida e pelo movimento sindical. 

Também fui salvo pelos livros. 

William 


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