domingo, 9 de março de 2025

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Domingo, 9 de março de 2025.


Tão longe, Tão perto - Wim Wenders

O filme de Wim Wenders "Faraway, So close" (1993) foi lançado há mais de três décadas. Eu não havia tido oportunidade de assistir ao filme ainda. Muito tempo atrás, mais de uma década, talvez umas duas, eu fiquei encantado com um videoclipe da música "Stay", da banda U2, cujas imagens retratavam o filme de Wim Wenders com os anjos Cassiel (Otto Sander) e Raphaella (Nastassja Kinski). Desde então, sou fissurado na música, no videoclipe e na imagem angelical de Nastassja Kinski.

Hoje, finalmente, assisti ao filme. A sensação é esquisita, assisti ao filme com Nastassja Kinski no papel do anjo Raphaella! Foram duas horas e meia de filme e me emocionei várias vezes durante a história. Já havia me emocionado com o primeiro filme de Wim Wenders: "Asas do Desejo" (Wings of Desire), de 1987, com Bruno Ganz no papel do anjo Damiel e Solveig Dommartin no papel da trapezista Marion. Este, assisti em 2022 e fiz uma reflexão profunda após ver o filme (comentário aqui). Sendo continuação, os personagens do primeiro filme estão nesta sequência.

Na minha leitura, o filme tem várias camadas ou temáticas desenvolvidas. Tem o aspecto mais claro da religião e das visões humanas sobre a vida e a morte. Tem a questão da história da Alemanha desde a 2ª Guerra Mundial, o nazismo, a guerra fria, capitalismo e comunismo, queda do muro de Berlim e fim da União Soviética. Até o Gorbachev faz uma ponta no filme, acreditem, é ele mesmo! E tem a questão do "tempo", uma percepção inventada pelo animal humano. No filme, o Tempo é interpretado por Willem Dafoe.

Se eu tivesse visto o filme nos primeiros anos de seu lançamento (1993), eu seria absolutamente outra pessoa. Todos mudamos com o tempo, claro! Mas eu fui uma verdadeira metamorfose ambulante, como cantou Raul Seixas. Naquela época eu era bem religioso, acreditava em qualquer abstração da mente humana. Fui aculturado em um dos países mais religiosos do mundo. Eu era como a maioria do ambiente onde nasci e vivi. Hoje, não tenho religião, mas compreendo melhor os seres humanos e sei como as crenças operam na vida das pessoas para dar um sentido ao que não tem muito sentido, a vida apenas é e somos natureza.

No enredo do filme, o anjo Cassiel acompanha a vida de Hanna e sua filha Raissa, e também de seu amigo Damiel, agora humano. Damiel se casou com Marion e eles têm uma linda filhinha. Cassiel acaba virando humano por motivos bem diferentes dos de seu amigo Damiel. Os anjos sempre imaginam como deve ser a vida humana, e Cassiel não é diferente. Mas as coisas serão bem complicadas para ele em sua experiência humana. Raphaella, sua amiga, estará ao lado de Cassiel e, ao longo da história teremos cenas muito comoventes.

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E então, assisti a um filme que esperei anos para ver. E gostei bastante do filme, não me decepcionei com a história.

Ao subir os créditos do filme, precisei colocar imediatamente um tênis e sair para caminhar e refletir sobre a vida.

Caminhar e ver são duas das características de nossa espécie que mais dão sentido em minha existência. Como a vida muda... 

Já tive objetivos muito ousados e difíceis de se alcançar quando era mais novo e não tinha alcançado a estabilidade social que tenho hoje... além de querer vencer na vida como trabalhador, queria coisas do tipo comprar uma Harley Davidson, caminhar centenas de quilômetros até Santiago de Compostela, conhecer Machu Picchu, sobrevoar o Grand Canyon... 

Agora, sonho ter mobilidade nos próximos anos...

A vida é mudança. Somos natureza. Fiquei bastante sensibilizado com Cassiel naqueles momentos em que estava totalmente perdido em sua vida humana, e sem acertar, sendo que tudo que ele queria era praticar o bem e não estava dando nada certo.

Vi minha vida, meu percurso nas décadas de caminhadas pelas veredas da existência. Não sou velho no sentido cronológico, no entanto, sinto profundamente que meu corpo cansou, meu corpo sentiu o percurso que percorreu nessas poucas décadas.

Eu tentei acertar e fazer o bem, como era o desejo de Cassiel, o anjo caído. 

No filme, o Tempo atua implacavelmente na vida das personagens. O Tempo... eu tenho uma coisa com o Tempo desde que me entendo por gente. O Tempo. Até poetizei sobre o "Deus tempo"... (ler aqui)

É isso. Queria registrar um pouco dos sentimentos a partir do filme que finalmente conheci. 

Preenchi mais uma lacuna cultural...

William

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