Terminei hoje a leitura de um dos livros mais importantes do Brasil em relação a obras e ensaios que tentam compreender o país e sua gênese.
Estou encantado com a obra. Ela é descortinadora. Vamos lendo e vendo as coisas ao nosso redor, e em todos os espaços da sociedade. Ajudou bastante em minha formação preencher essa lacuna cultural que sempre tive.
Felizmente, é o segundo livro que termino esta semana, depois que voltei do fim do curso de formação de dirigentes que coordenei nos últimos nove meses. Foram nove semanas de imersão mais um bom período de preparação que me tirou bastante da rotina em São Paulo.
O capítulo final tratou dos seguintes temas:
CAPÍTULO 7 - NOSSA REVOLUÇÃO
- As agitações políticas na América Latina
- Iberismo e americanismo
- Do senhor de engenho ao fazendeiro
- O aparelhamento do Estado no Brasil
- Política e sociedade -O caudilhismo e seu avesso
- Uma revolução vertical
- As oligarquias: prolongamentos do personalismo no espaço e no tempo
- A democracia e a formação nacional
- As novas ditaduras
- Perspectivas
Alguns pontos interessantes do último capítulo ajudam a entender o autoritarismo ainda atual e o coronelismo vigente, quando lemos, por exemplo, a explicação da transformação do senhor do engenho em fazendeiro. Mudou-se só a forma de organização, mas o poder personalista e oligárquico se manteve o mesmo.
"O desaparecimento do velho engenho, engolido pela usina moderna, a queda de prestígio do antigo sistema agrário e a ascensão de um novo tipo de senhores de empresas concebidas à maneira de estabelecimentos industriais urbanos indicam bem claramente em que rumo se faz essa revolução (...)". p.176
E mais à frente, complementa:
"O Estado brasileiro preserva como relíquias respeitáveis algumas das formas exteriores do sistema tradicional, depois de desaparecida a base que as sustentava: uma periferia sem um centro. A maturidade precoce, o estranho requinte de nosso aparelhamento de Estado, é uma das consequências de tal situação". p.176
A FIRULA QUE É A NOSSA "DEMOCRACIA LIBERAL"
"As palavras mágicas Liberdade, Igualdade e Fraternidade sofreram a interpretação que pareceu ajustar-se melhor aos nossos velhos padrões patriarcais e coloniais, e as mudanças que inspiraram foram antes de aparato do que de substância". p.179
A minha edição tem nota do autor ainda em 1955. Ou seja, faz mais de meio século que ele escreveu, descreveu e intuiu várias coisas sobre o nosso Brasil varonil.
Quando SBH fala de caudilhismo e seu avesso, ele está supondo em um futuro mudanças lentas e graduais na política e na estrutura social brasileira.
Fiquei pensando o que ele escreveria após os dois mandatos do governo democrático e popular de Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores, que começou a fazer mudanças sociais sem choques e de forma negociada com os setores conservadores da sociedade brasileira.
"Se o processo revolucionário a que vamos assistindo, e cujas etapas mais importantes foram sugeridas nestas páginas, tem um significado claro, será este o da dissolução lenta, posto que irrevogável, das sobrevivências arcaicas, que o nosso estatuto de país independente até hoje não conseguiu extirpar (...)". p.180
E adiante:
"A forma visível dessa revolução não será, talvez, a das convulsões catastróficas, que procuram transformar de um mortal golpe, e segundo preceitos de antemão formulados, os valores longamente estabelecidos (...)". p.180
Aqui vejo os dois mandatos do governo de Lula da Silva do PT.
Gostei muito também da discussão sobre o personalismo e sua forma mais elaborada, a oligarquia.
Isso é uma praga em tudo, inclusive no movimento sindical.
Bibliografia:
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. Companhia das Letras, 26ª edição, 27ª reimpressão 2007.
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