sábado, 4 de março de 2017

Leitura: O azarão (1999) - Markus Zusak





Refeição Cultural


"A primeira coisa que me obrigou a fazer foi meter a mão na privada de uma velha e retirar tudo que estava entupindo o cano. Sério, quase vomitei na privada na mesma hora.

- Ah, que merda! - gritei, sem fôlego, e meu pai apenas sorriu.

Falou:

- Bem-vindo ao meu mundo, filho. - E foi a última vez que sorriu durante todo o dia. No restante do tempo, me obrigou a fazer todo o trabalho sujo, como pegar canos no teto da van, cavar uma fossa debaixo da casa, ligar e desligar a energia elétrica, e recolher e arrumar as ferramentas dele. No fim do dia, me deu vinte contos e, na verdade, me agradeceu.

Falou:

- Obrigado pela ajuda, garoto."


Comentário do Blog

Na quinta-feira à noite, dia 2 de março, cheguei do trabalho esgotado e já era quase onze horas. Estava sozinho em casa, estando a esposa em Osasco e o filho longe, estudando no interior de São Paulo. 

Fiquei pensando em meu filho. Entrei no quarto dele, hoje vazio, e acabei olhando algumas coisas. Apostilas de cursinho, livros. Peguei dois livros de Markus Zusak. Vi nas capas e orelhas que eram livros sobre jovens. Comecei a ler O azarão. O sono logo bateu por causa do cansaço. Li umas trinta ou quarenta páginas.

Por mais que eu tenha me esforçado para acompanhar momentos importantes na vida deste belo jovem, meu filho, enquanto minhas lutas pelos trabalhadores me afastavam do dia a dia de casa, eu sinto que preciso sempre buscar formas de compreendê-lo mais, de estar mais disponível, de tentar entrar em seu mundo, se ele quiser que isso ocorra. Até uma série de Anime - Death Note - estou quase acabando de ver. Dos 37 capítulos, faltam 4 agora.

Superar a distância de mundos diferentes entre os adultos e os jovens é algo sempre desafiador para pais e filhos. Certa vez, li algo que nunca esqueci: que nós adultos devemos respeitar a dimensão sentida pelos jovens, às vezes dramática, dos problemas que eles têm, por mais que na nossa ótica, o caso concreto que eles enfrentem possa parecer algo menor, porque um problema deles para nós pode parecer bobagem, mas para o mundo deles pode ser algo de muito sofrimento real. É necessário estarmos atentos a isso.

Um dos livros que li faz pouco tempo, em 2012 - O apanhador no campo de centeio (1951) -, de J. D. Salinger, me fez refletir muito sobre a juventude, os jovens, as revoltas com causa ou "sem causa" dos jovens. Eu fui um jovem extremamente revoltado. (ler comentário sobre o livro de Salinger AQUI)

Enfim, neste sábado, acordei e retomei a leitura até o fim. A estória do jovem Cameron Wolfe e seus irmãos e irmã me fez pensar na juventude de meu filho, na sua geração e lembrei-me de minha própria juventude e geração.

A cena que coloquei em epigrama é a descrição exata do que vivi como ajudante de encanador lá na minha infância e que foi muito marcante para mim (ler uma crônica a respeito AQUI). Na estória o pai de Cameron é encanador e aceita o pedido do filho para ajudá-lo em troca de conseguir algum dinheiro, já que foi despedido pelo jornaleiro por quebrar um vidro sem querer nas entregas que fazia.

Os críticos e os operadores do mundo literário gostam de classificar os tipos de textos literários. Este que li está classificado como literatura para jovens. Assim como não sou muito favorável às classificações que se fazem de algumas obras clássicas como sendo de difícil compreensão para determinados grupos - muito jovens, com pouca formação etc - também acho que toda obra pode valer a pena conforme o momento em que um leitor se encontre em sua vida. 

Valeu a pena a leitura deste livro de Markus Zusak. Vou ler o outro dele publicado como sequência da estória dos irmãos Cameron e Ruben Wolfe - Bom de briga (2000).

Abraços,

William
Um leitor

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