segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Tempo (XIX)



Refeição Cultural

(Rascunhos e ideias para o trabalho final de disciplina de literatura)


INTRODUÇÃO

Durante as aulas da disciplina de Literatura Comparada II, fomos convidados a aprofundar o nosso conhecimento a respeito das configurações do tempo nas diversas formas de narrativa e poesia, observando a dimensão do tempo em diversos autores e formas literárias e como se revelavam as concepções de passado, presente e futuro através das técnicas desenvolvidas na estrutura textual.

A leitura dos textos críticos e as aulas da professora Viviana Bosi nos possibilitaram ampliar as percepções a respeito do tempo. A participação nesta disciplina neste momento pessoal e coletivo da sociedade humana foi uma experiência de muito impacto para mim, e a cada texto lido e analisado me via refletindo muito a respeito das significações e dos sentidos das coisas da vida humana associando a questão do tempo com a realidade da vida durante a crise humana que vivemos, tanto por causa da pandemia quanto por causa da miséria mundial causada pelo capitalismo.

O poeta Carlos Drummond de Andrade não fez parte do repertório de autores que estudamos. No entanto, a leitura recente de uma de suas obras mais marcantes - A Rosa do Povo - me fez voltar aos seus poemas de forma constante ao longo do curso, por causa da temática desenvolvida na disciplina: o tempo. Eu li os 55 poemas de A Rosa do Povo no início da quarentena e isolamento social em decorrência da pandemia mundial de Covid-19. Li em voz alta todos os poemas ao longo de onze dias: li 5 poemas por dia.

Os textos críticos sugeridos pela professora me chamaram muito a atenção e durante suas leituras eu me lembrava dos poemas de Drummond e outros autores que gosto. O texto de Mircea Eliade - Mito do eterno retorno - e o de Benedito Nunes - O tempo na narrativa - são dois exemplos. Citaria outros também, como o de George Minois - História do Futuro, mas como o trabalho tem uma limitação de tamanho, achei melhor focar em alguns aspectos apresentados por Eliade e Nunes para falar de um ou dois poemas de A Rosa do Povo.

Analisar alguns versos, estrofes e poemas de A Rosa do Povo foi um processo parecido com a explicação que Cortázar nos deu em seu texto crítico "Alguns aspectos do conto" em Valise de Cronópios. Ele disse que boa parte dos temas abordados por ele nos contos foram os temas que o escolheram e não ele quem escolheu os temas. Drummond, em uma reedição da obra nos anos oitenta, disse a respeito dos poemas: "obra que, de certa maneira, reflete um 'tempo', não só individual mas coletivo no país e no mundo. Escrito durante os anos cruciais da II Guerra Mundial, as preocupações então reinantes são identificadas em muitos poemas, através da consciência e do modo pessoal de ser de quem os escreveu" (ANDRADE, 1998, p. 7). Os poemas de A Rosa do Povo me escolheram neste momento.

Os poemas "Passagem da Noite" e "Passagem do Ano" nos permitem analisar de maneira prática os conceitos que Eliade e Nunes abordam em suas obras críticas. Em um trabalho de maior fôlego, com uma extensão maior, seria possível analisar diversos poemas de A Rosa do Povo que contêm os aspectos trabalhados por Eliade em relação aos processos de regeneração do tempo, de passagem de um período de tempo para outro período de tempo etc, como estudamos no capítulo dois de Mito do eterno retorno.

William


Bibliografia:

ANDRADE, Carlos Drummond de. A Rosa do Povo. 19ª edição. Rio de Janeiro: Record, 1998.


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