domingo, 27 de dezembro de 2020

271220 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

"Como se levantaria pela manhã o homem
Sem o deslembrar da noite que desfaz o rastro?
Como se ergueria pela sétima vez
Aquele derrubado seis vezes
Para lavrar o chão pedroso, voar
O céu perigoso?

A fraqueza da memória
Dá força ao homem.
"

("Elogio do esquecimento", Bertolt Brecht)


Domingo, último do fatídico ano da peste, das pestes. Ano de pandemia mundial de Covid-19. Segundo ano da desgraça do regime neofascista do clã miliciano no poder. Estamos em 2016, em 2018, em 2020 e seguiremos nesse mesmo período sem fim do pós golpe de Estado. 

Os políticos canalhas e venais do Congresso sentaram em cima de 54 pedidos de impeachment e o sujeito na presidência segue ampliando seu poder, ocupando todos os espaços locais de poder no país (como fizeram Salazar, Pinochet, Franco etc). Jornalistas progressistas estão morrendo como PHA, sendo perseguidos como Nassif, aniquilados financeiramente como vários e, em breve, talvez ninguém mais fale mal do regime.

Não há mudanças à vista, mudanças daquelas que as pessoas sonham com a passagem de data no calendário: desejos de paz, saúde, fraternidade, solidariedade, prosperidade, amizade, amor, felicidades. Que pena! Nada disso está no cenário dos dias que virão após o dia de passagem de ano para o Ano Novo.

Teremos que encontrar energias positivas em nosso ser para seguir adiante e superar os tempos duros que se avizinham. A miséria será maior para o povo brasileiro com o fim do auxílio emergencial de 600 reais (imposto ao Governo pelo Congresso em 2020, por pressão da esquerda) e sem retomada da economia, pelo menos é o que se desenha com a continuação da crise por causa da pandemia de Covid-19 sem vacinas e insumos para livrar o povo dessa peste. Aqui é Bolsonaro, o vírus é estratégico para o regime.

As mudanças terão que partir de nós mesmos, de cada um de nós. O que podemos fazer para mudarmos algo em nossas vidas pessoais e quiçá na vivência coletiva? Sem sermos vacinados, sem nos vermos livres da ameaça de morte a qualquer momento por Covid-19, sem retomarmos a liberdade de circulação, temos que pensar formas de sermos menos infelizes porque isso também está nos matando, todo dia um pouco, ou muito, mais que a morte normal da passagem do tempo. Que fazer?

Sei que não adianta fugir da realidade, se alienar, não me inteirando sobre as desgraças diárias sob o regime dos golpistas que dominam as pautas, os poderes instituídos, as ruas e os espaços públicos que ainda sobram. O poder está com eles. A grande imprensa é toda bolsonarista, mesmo enganando parte das pessoas que caem na lorota de achar que a mídia bate no governo. E a força de repressão e opressão também está com o regime. Vou me informar, mas não posso deixar que meu dia seja tomado e pautado por essas desgraças que nos matam aceleradamente.

Hoje é o segundo dia que não ligo o celular desde ontem de noite. As notícias são as mesmas, ad nauseam.

Os dois dias sem celular e redes sociais pelas horas da manhã foram dias em que li dois terços de um novo livro de Saramago, As intermitências da morte, que é fantástico! Demais! Já me fez pensar muito! E já dei boas risadas também com a estória da morte como personagem central. E hoje, ainda li um pouco de poemas de Bertolt Brecht, que estou conhecendo. E reli alguns textos meus, dos blogs. Agora vou me conectar um pouco, mas não vou ficar longo tempo nisso não. Alguns minutos de silêncio nesta manhã de domingo foram preciosos.

É isso. Acho que vou pedalar agora. Às vezes, esquecer um pouco as coisas, como nos ensina o poeta, pode nos dar força... e, às vezes, na escuridão pode estar o ponto de luz que nos ilumina, assim como na bonança também está o início das tragédias porque nada é para sempre. Tudo muda o tempo todo. 

William


Nenhum comentário: