quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

13. As intermitências da morte - José Saramago



Refeição Cultural - Cem clássicos

"No dia seguinte ninguém morreu. O facto, por absolutamente contrário às normas da vida, causou nos espíritos uma perturbação enorme, efeito em todos os aspectos justificado, basta que nos lembremos de que não havia notícia nos quarenta volumes da história universal, nem ao menos um caso para amostra, de ter alguma vez ocorrido fenómeno semelhante, passar-se um dia completo, com todas as suas pródigas vinte e quatro horas, contadas entre diurnas e nocturnas, matutinas e vespertinas, sem que tivesse sucedido um falecimento por doença, uma queda mortal, um suicídio levado a bom fim, nada de nada, pela palavra nada..." (SARAMAGO, 2005, p. 11)


Terminei neste dia 30 de dezembro de 2020, um ano que poderíamos considerar o ano do protagonismo da morte devido à pandemia mundial de Covid-19, a leitura de mais uma obra de José Saramago, As intermitências da morte, publicado em 2005. Terminei aos prantos. Coração apertado. Que fábula! Que autor clássico! 

Como a definição de clássico é uma definição em aberto, eu defino Saramago como um clássico, o que não quer dizer que toda leitura que fizer dele será considerada leitura de um clássico. Não conto Todos os nomes (1997) como um clássico, mesmo tendo me deliciado com a leitura.

Estou cumprindo um desejo antigo de enumerar as leituras de clássicos que fiz na vida e que estou fazendo, já que estou vivo, mesmo com pandemia, com desgastes corporais e com o mal instalado nos poderes do país no qual nasci e vivo. Estou vivo e sigo lendo.

Quando me coloco a lembrar das leituras que já fiz, poucas são aquelas que me fizeram rir e chorar. Não me lembro de muitos momentos assim ao olhar para trás. 

Fernando Sabino me fez rir muito com O grande mentecapto (1979) e o seu Geraldo Viramundo. Jorge Amado com o personagem Quincas Berro d'Água (1959). Miguel de Cervantes com nosso cavaleiro da triste figura dom Quixote e também com o carismático Sancho Pança (1605/1615). Saramago, com A viagem do elefante (2008), o Ensaio sobre a cegueira (1995) e este com a morte como protagonista de uma estória.

Se a Parca permitir, talvez faça uma postagem específica sobre a leitura desta obra, com algumas frases e momentos interessantes. (ler as frases selecionadas aqui)

Fiz a leitura de As intermitências da morte pelas manhãs desta semana, entre os dias 25 e 30. Estou mantendo o celular desligado desde o fim da noite até o início da tarde, para me afastar um pouco da droga das redes sociais e das desgraças que nos assolam em tempos de regime fascista e pandemia.

Tem sido uma experiência útil. Ao desligar-me da matrix por algumas horas, meu cérebro se colocou a pensar, lembrar, cismar, refletir e buscar alguma coisa, quem sabe, saídas. 

As redes sociais e as máquinas dos donos do mundo destruíram a humanidade, mas a vida segue, já que ainda estamos no mundo. Temos que resgatar os humanos, mas ainda não achamos uma forma de fazer isso. Quem sabe lendo, estudando, pensando, possamos agir de forma mais eficiente no salvamento do mundo.

A leitura vale muito a pena. Rir, chorar e pensar muito sobre a vida e a morte, são essas as consequências básicas ao se experimentar a leitura desse clássico da literatura universal.

William


Bibliografia:

SARAMAGO, José. As intermitências da morte. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.


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