sábado, 26 de dezembro de 2020

261220 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

Estamos menos inteligentes. Emburrecendo. Já li alguns artigos falando a respeito disso. Neurologistas e linguistas têm demonstrado preocupação a respeito da perda de capacidade criativa e inventiva dos seres humanos, inclusive nas coisas mais comezinhas do cotidiano. O empobrecimento da linguagem está relacionado a esse processo de emburrecimento. Nós pensamos através da linguagem. Com a linguagem empobrecida e limitada, menos chance temos enquanto espécie de desenvolver o cérebro, as diversas formas de inteligência e as possibilidades imprevisíveis de criatividade.

Tudo está interligado no Universo, nos planetas, no nosso planeta Terra, nas vidas dos seres vivos. Somos um fragmento disso tudo ao nosso redor. A ideia de quem é dono de quem, do que é propriedade do que é uma coisa recente no planeta Terra, pois isso é coisa do animal humano, que tem pouquíssimo tempo de existência neste velho planeta de mais de 4 bilhões de anos. 

Ao analisar o andar da carruagem, essa espécie animal não parece que estará por aqui nos próximos 5 mil anos. Difícil, até porque o modo de produção e consumo capitalista, o neoliberalismo e o egoísmo parecem ter vencido e isso é uma derrota para a espécie humana e para a vida no planeta. De que adiantou nosso cérebro ter se desenvolvido ao longo de milhares de anos e termos nos tornado racionais, dotados de razão, para ao final nos transformarmos nisso que estamos nos transformando? Eu sei, serviu para fazermos o que fizemos até agora. E pode servir para nos exterminar também.

O que fazer para frear o emburrecimento individual e coletivo? Como seres sociais que somos é muito difícil não sermos influenciados pela demência coletiva, pelos medos e ódios que passaram a dominar o ambiente humano como estratégia de poder. Como não emburrecer? Como preservar meu cérebro, meu ser, caso eu siga vivendo mais um dia, mais um ano, o de 2021, por exemplo, que será duríssimo para os seres humanos, muito pior do que foi o de 2020, que ninguém aguenta mais e acha que vai acabar daqui a 5 dias? Como não emburrecer, como não embrutecer mais ainda, como não me tornar a média do que são os animais humanos ao meu redor? Que difícil resposta!

Por acaso, por sorte, eu fui salvo de ser um bárbaro demente agressivo e se achando alguma merda (meritocrata branco de origem pobre) como, por exemplo, são os tucanos e os bolsonaristas ao meu redor; fui salvo por acaso. Poderia ser um deles... 

Quis o andar dos dias que em certos momentos de minha vida, aos 20 anos e depois aos vinte e poucos, quase 30, eu tivesse contato com os militantes do movimento sindical bancário organizados para enfrentar as desgraças da exploração dos donos do poder sobre nossos corpos e carcaças de proletários. Grande sertão: veredas... (como nos presenteou Guimarães Rosa). 

A vereda que peguei me fez deixar de ser ignorante (um pouco menos, mas reconheço minha ignorância), de ser intolerante em relação às pessoas não-heterossexuais (eu não sabia nada de amor até quase 30 anos de idade! Era um binário como a sociedade havia feito com quase todos nós), me fez ser menos agressivo, me fez entender como somos manipulados pelos sistemas ideológicos do capital como os meios de comunicação empresariais. Que sorte eu tive como membro da classe trabalhadora!

E hoje, observando o cenário deste momento da história do país onde vivo, sei que as pessoas são o que são por causa das vitórias dos canalhas da Casa Grande e seus ideólogos e capitães do mato. A vitória deles é a derrota da sociedade humana e da vida no planeta.

Estamos emburrecendo, estamos nos animalizando, estamos com raiva e medo, e nossas mentes e nossos desejos estão dominados por uns poucos detentores dos meios de produção material e cultural. Somos presas fáceis. Como nos libertarmos dessa máquina, desse sistema, dessa Matrix que nos aprisiona? Não é fácil, e, no entanto, temos que tentar, criar, resistir, libertar os seres humanos, a começar por nós mesmos. A questão é: como fazer isso?

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As reflexões fluíram acima. Mas eu queria registrar algumas coisas ainda.

Eu vejo o quanto estamos pouco criativos, pouco inteligentes, ao observar meu comportamento, minhas ações e reações. Fui até a padaria comprar pães. Não tinha pães na hora, mas teria em 20 minutos. Qual foi minha reação: comprei só pão de queijo e voltei pra casa. É uma coisa burra, sem pensar, sem ser racional. Hoje é sábado, pós dia de Natal. Qual o problema em esperar 20 minutos para comprar os pães? Que diferença faz na minha vida não esperar os 20 minutos? Não é inteligente isso que fiz? Só o trabalho de me trocar para ir à padaria, depois ter que fazer aquela merda da higienização por causa da pandemia... que diferença faz a porra dos 20 minutos? Aliás, eu poderia ter andado até o fim da avenida arborizada e voltado e pego os pães. Estamos emburrecendo, não estamos mais pensando. Ao fim e ao cabo, depois de chegar em casa, fazer a higienização e conversar com a companheira, voltei e peguei os pães. Foi muita burrice o que fiz. Mas estamos fazendo isso o tempo todo, muita gente está agindo no cotidiano sem pensar.

Eu desliguei o celular ontem à noite. Não quis ligar o aparelho hoje de manhã. Todo dia, acordo e pego aquele treco e fico quase uma hora olhando as notícias e acontecimentos, algumas manchetes de páginas de notícias e as que o Facebook me autoriza ver, já que aquela merda de empresa totalitária seleciona por algoritmo o que posso ver na minha timeline. O Facebook virou um obituário, mais que um lembrador de aniversários. Nossos amig@s e conhecidos estão morrendo ou tendo familiares mortos por Covid-19, além dos infartos, câncer e outras doenças. É difícil sair dessa bolha porque se sairmos nem saberemos das perdas que estamos tendo (perder amig@s e companheir@s de luta é uma grande perda individual e coletiva). Já estamos tão sós! Enfim, só liguei o celular depois do meio-dia. E a primeira coisa que fiz foi ligar com imagem e voz para minha irmã e para minha mãe. A vida está mais incerta e bem mais instável que antes da pandemia do vírus mortal usado pelo regime fascista no Brasil como estratégia de governo. Eu e as pessoas que amo podemos não estar mais aqui em questão de dias.

É isso. É difícil não falar em morte numa época de morte. Genocídio é o que estamos vivendo. Os brasileiros mortos por Covid-19 foram vítimas de um genocídio organizado por parte do regime no poder. Mais de 200 mil mortos... e sem perspectivas de mudança para o próximo período que chamamos de Ano Novo. Não temos vacina. Não temos um governo apoiando as regras básicas para evitar a expansão da pandemia. Não temos poderes oficiais defendendo os pobres e os trabalhadores. Não haverá nada de regeneração, renascimento, de promissor para o período que segue. Sem derrubar os fascistas e genocidas no poder, através de mobilização e enfrentamento social nada vai mudar. Pelo contrário, o cenário será pior! Desculpem a franqueza. Haverá fome, mais miséria, mais mortes, pois essas são as variáveis no Brasil de Bolsonaro e seus apoiadores do 1% e dos milhões de gentes pobres e idiotizadas que o apoiam.

Esse minuto é o que temos. Hoje já falei com minha mãe e minha irmã. O amanhã no Brasil de Bolsonaro não nos pertence.

William


2 comentários:

Unknown disse...

Eu te amo meu irmão eu amei que vc me ligou, porque poucas ow nenhuma pessoa sabe o que passa na cabeça da gente é ultimamente tá difícil.
Perdi a vontade de muitas coisas que fazia no dia, dia agente perde até vontade de falar com as pessoas.
Eu te amo 😍😍💓😍

William Mendes disse...

Olá, minha irmã querida! Eu é que fiquei feliz de falar contigo e ver que você está bem, na medida do possível pros tempos que correm. Te amo! Um beijo e se cuide!

William