quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Passagem da Noite (Tempo XVI)



Refeição Cultural

"Saber que ainda há florestas,
sinos, palavras; que a terra
prossegue seu giro, e o tempo
não murchou; não nos diluímos.
Chupar o gosto do dia!
Clara manhã, obrigado, 
o essencial é viver!"

("Passagem da Noite", C.D.A.)


Como diz o poeta, "a terra prossegue seu giro", e com isso estamos aqui, vivos e escrevendo, nesta "clara manhã" porque "o essencial é viver!".

Essa série de postagens "Tempo" está relacionada com a disciplina Literatura Comparada II que estou fazendo este semestre em meu curso de Letras. A professora Viviana Bosi nos propôs pensarmos sobre as configurações do tempo nas diversas formas de narrativas e poesias. Os textos nos fizeram pensar muito nos últimos meses.

Os textos críticos e os autores estudados nos permitem refletir sobre o passado, o presente, o futuro; sobre a história e as sociedades humanas; sobre as diversas configurações do tempo - tempo físico, psicológico, histórico, cronológico, linear etc. E com isso é impossível não pensar na vida, na existência, no instante do viver.

Drummond não fez parte do repertório de autores que estamos tendo contato na disciplina, mas eu acabo sempre voltando a ele. E não sou especialista nem entendido em nada, em nada, muito menos em Drummond. Mas do pouco que sei, sei um pouquinho de Drummond; então ele acaba sendo a referência sempre. Cada um lida com suas capacidades, limitações e superações.

Tenho que escolher o tema do trabalho final da disciplina. Um conto, um poema, um fragmento de romance, novela, peça teatral, música etc. Estou tão sem inspiração que a situação até sufoca. Poderia dizer até que:

"É noite. Sinto que é noite
não porque a sombra descesse
(bem me importa a face negra)
mas porque dentro de mim,
no fundo de mim, o grito
se calou, fez-se desânimo."

Talvez por isso, eu escolha Drummond para o trabalho final.

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Mudando de assunto

Ando pensando a respeito dos meus blogs, dos meus perfis em redes sociais, sobre a exposição absurda na qual nos colocamos neste momento da sociedade humana.

As redes sociais destruíram a sociabilidade humana, a pouca que havia. Chegamos a um ponto perigoso da existência humana porque a manipulação em larga escala, escala global, é bem mais grave e perigosa que a manipulação que sempre se deu em escala local. Uma empresa (às vezes uma pessoa) domina uma ferramenta que pode manipular 2 bilhões de pessoas, outra mais 2 bilhões etc.

O ódio, o medo, o fanatismo religioso e a ignorância pura e simples sempre foram formas de enganar e manipular grandes massas humanas, mas isso se dava em escala local, uma vila, um distrito, uma região, um país, uma parte habitada. Agora não, tudo é global. E nos tornamos pessoas cada vez mais isoladas do toque humano presencial e estamos sós, mesmo quando estamos em meio a multidões (alone in the crowd). Sós. 

(E isso não é culpa da pandemia. Agora tudo é culpa da pandemia de Covid-19. Os desgraçados capitalistas e o necrocapitalismo, o neoliberalismo, destroem os direitos sociais, acumulam toda a riqueza humana, destroem saúde, educação, segurança, previdência públicas e a culpa da miséria global é do vírus. Destroem o meio ambiente e o planeta e a culpa é do vírus. Colocam no poder lixos e escrotos psicopatas nos poderes e a culpa é do vírus... O cacete que é culpa do vírus!)

Eu estou pensando em me retirar das redes sociais e talvez ficar somente com os blogs (como máquinas de escrever) porque são menos envolvidos em manipulações pelas ferramentas das empresas donas dos espaços. O Facebook é um câncer na sociedade mundial, ele utiliza até os dados de nossos contatos "amig@s" para fazer o que faz. O Twitter e YouTube a mesma coisa. As outras plataformas idem (não estou nas outras). Não tem santo nesse sistema empresarial mundial de comunicação. Somos escravos, somos dados a serem expostos, vendidos. Somos coisas!

"Sinto que nós somos noite,
que palpitamos no escuro
e em noite nos dissolvemos.
Sinto que é noite no vento,
noite nas águas, na pedra."

William


Bibliografia:

ANDRADE, Carlos Drummond de. "Passagem da Noite" em A Rosa do Povo. 19ª Edição. Rio de Janeiro: Record, 1998.

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