terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

010222 - Diário e reflexões



Refeição Cultural


Ayrton Senna

Dentre as infinidades de coisas acumuladas ao longo de uma vida, peguei 4 revistas sobre a morte de Ayrton Senna. O corredor brasileiro morreu no dia 1º de maio de 1994. Jogar fora ou guardar as revistas e seguir sendo um acumulador?

Eu morava na Avenida Flora, em Osasco, quando Senna morreu. A lembrança daquele dia é bem nítida em minha memória. Trabalhava no Banco do Brasil fazia pouco tempo. Estava terminando a faculdade de Ciências Contábeis.

Exatamente naquele domingo, 1º de maio, era o primeiro dia de uma convivência em comum com minha namorada. No dia anterior, havíamos feito as mudanças e começávamos naquele dia uma nova etapa de nossas vidas.

Me levantei e liguei a televisão. Senna bateu no muro de concreto a 300 Km/h e morreu na hora. Em nenhum momento acreditei naquela patifaria de fingirem que ele não estava morto. Morreu Ayrton Senna. Dei a notícia para a Ione, que ficou arrasada.

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Li as 4 revistas. Elas foram publicadas pouco depois do acidente e morte de Senna. Três delas têm mais imagens que textos. A Veja tem mais texto, deu trabalho ler a revista inteira. Vi nas revistas várias personalidades da época. Hebe, Fleury, Maluf, FHC, Itamar, Xuxa etc. 

A loira, recentemente disse que os presos brasileiros deveriam ser cobaias humanas para servirem pra alguma coisa (Mengele, lá do inferno, sentiu inveja dela). O governador da época foi o do massacre do Carandiru. O ex-prefeito paulista é o condenado por roubar o erário público. FHC nem preciso falar nada. Só no BB onde eu trabalhava, tivemos dezenas de suicídios por causa do sociólogo presidente e seu desmonte das empresas públicas.

Enquanto lia as matérias fui me lembrando do homem Ayrton. Religioso que via divindades nas curvas das pistas de corrida (tipo Jesus na goiabeira). A revista Veja conta isso na página 58. Senna é "competitivo" a ponto de não medir ações para ganhar uma prova ou um campeonato, valendo até bater no carro do principal concorrente ao título. Era o cara que afirmava que o importante era ganhar e não competir.

Suponhamos que Senna estivesse vivo... Fiquei perguntando a mim mesmo qual seria a posição do cidadão Ayrton em relação ao regime de extrema direita que tomou o Brasil de assalto após o golpe de 2016... Talvez nem fosse bolsonarista, talvez fosse só mais um desses anticomunistas ou antipetistas toscos que vemos por aí nas classes abastadas. Basta lembrar de umas figuras como Roberto Carlos, Neymar, Pelé, Regina Duarte, um monte de sertanejos etc... já consigo imaginar. 

Pesquisei na internet a posição da irmã dele. As primeiras imagens dela que vieram foram com o inominável presidente genocida e miliciano, antes e depois de eleito em 2018. Depois vi matérias informando que o juiz suspeito ("juge") está em contato com a irmã do Senna para pensar seu provável governo caso vire presidente do Brasil em 2022.

Qual seria a do ídolo Ayrton Senna? Não temos como saber de qual lado da história o patriota estaria neste momento trágico do Brasil... mas eu suspeito, eu imagino.

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A REALIDADE MATERIAL E NOSSAS IDEIAS E AÇÕES

Enfim, li as 4 revistas sobre a morte do ídolo Ayrton Senna (do Brasil) em maio de 1994. Fiquei pensando a respeito do Brasil e de nós povo brasileiro. 

Fiquei pensando nos conceitos sobre a questão do materialismo histórico. A realidade material produz as ideias e os desejos nas pessoas comuns. Não são as ideias que produzem a realidade material nas sociedades. Basta ver minha lista de desejos nos anos oitenta e noventa... ter uma casa própria, ter uma moto, ter telefone e internet, ter coleção disso ou daquilo... eram as ideias de minha realidade.

O William dos anos oitenta era um jovem com as ideias dos anos oitenta, ideias em vigor no local onde vivia no Brasil sob ditadura e sob o poder da casa-grande, sob o poder das igrejas católicas e dos donos dos meios de comunicação, com as ideias que vigoravam hegemonicamente naquele período. Minhas ideias eram as ideias que eram hegemônicas e que vigoravam inclusive entre nós, pobres e miseráveis.

A mesma coisa se deu nos anos noventa. Minhas ideias e ações também foram condizentes com o que tive acesso e com a hegemonia que prevaleceu no meu mundo dos anos noventa. Idem para a primeira década dos anos dois mil.

Minhas ideias e comportamentos só mudaram quando minha realidade material me colocou diante de novas concepções de mundo. Não sou hoje como a maioria de meus familiares - conservadores e de direita, mesmo sendo pobres ou remediados achando que são ricos - porque tive acesso a outros meios sociais, o movimento organizado dos trabalhadores. Novas referências de leitura, cursos universitários etc.

Enfim, para algumas coisas como essas vou seguir sendo um acumulador. Vou guardar as 4 revistas. Pelo menos agora eu li essas coisas que comprei em 1994. Tenho zilhões de materiais para ler e ver se guardo ou descarto. Zilhões. Tenho como tarefa primária organizar as coisas que queria estudar e conhecer.

Decidi que por enquanto não vou mais ler romances, literatura, nas próximas semanas ou meses. Eu tenho que resolver algumas coisas na vida. Não vou mais procrastinar comodamente enquanto a vida passa porque estou numa condição confortável em relação aos meus pares da classe trabalhadora. 

E percebo que estamos todos sós. Mas temos que seguir vivos.

William


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