Um trabalhador em 2009. |
Refeição Cultural
Osasco, 21 de dezembro de 2022. Quarta-feira.
Soledades
Freud e outros estudiosos da psicologia humana dedicaram suas vidas na busca por compreender esse animal tão complexo que somos, os homo sapiens, animais dotados de um cérebro com 86 bilhões de neurônios, o verdadeiro criador de tudo, como nos ensina o neurocientista Miguel Nicolelis. O ser humano é um animal fantástico e contraditório, capaz das melhores e das piores ações e criações dentre todas as espécies que habitam o planeta Terra. Como compreender e lidar com esse ser que somos?
Após acordar mais uma vez e perceber que estava sonhando com o mundo do trabalho ao qual passei a maior parte da minha vida, mundo que me deu um sentido ao viver e que me definiu como aquilo que sou até hoje, fiquei pensando a respeito dos porquês de sempre sonhar com fragmentos de imagens e momentos de minha vida até o dia no qual me despedi do trabalho, do banco e do movimento sindical. Foi um dia solitário.
Foi um dia solitário. Não tive um rito de passagem com despedidas e confraternizações. Acho que isso interferiu de alguma forma na minha psique e até hoje estudo uma maneira de seguir adiante, de me reinventar, de ser alguém com um lugar definido no mundo, ao menos para si mesmo.
Pra tornar mais complexa minha busca por sentidos, o mundo para o qual eu "voltei", o mundo familiar, é um mundo daqueles mais comuns de tudo, um mundo de relações partidas, difíceis, de incomunicabilidades, bem típico do padrão global. Ninguém ouve ninguém, vemos as pessoas infelizes e cheias de carências e não podemos ajudar, sequer tentar. Ninguém ouve ninguém. É o nosso mundo.
Quando terminei minha última função de representação da classe trabalhadora estava sofrendo um processo destrutivo de lawfare, uma gente canalha ligada ao centro do poder patronal, mais uma traidora do nosso lado da gestão eleita, inventaram um processo administrativo contra mim para que eu passasse os últimos meses de meu mandato eletivo com as energias todas voltadas a me defender de acusações estapafúrdias, ridículas, infundadas, tanto é que depois se provou que tudo que me acusavam era o inverso da verdade. O processo tinha um objetivo claro de me destruir física e psicologicamente, de me impedir de estar 100% na luta em defesa dos direitos dos trabalhadores que representava. Isso foi entre o final de 2017 e o primeiro semestre de 2018.
O processo de destruição psicológica que enfrentei não terminou ao finalizar meu mandato eletivo em 2018. Durante um ano, até que eu completasse tempo e idade mínima para me desligar do trabalho ao qual dediquei o melhor de mim e de minha vida, em abril de 2019, vivi sob ameaças constantes de não ter salário, de sofrer a continuidade dos processos de lawfare, enfim, vivi no limbo enquanto fui vinculado ao meu mundo do trabalho. Terminei uma história de quase três décadas de trabalho no maior banco público do país me desligando através de uma agência na qual nunca me vinculei ao dia a dia de trabalho, um estranho, um nome no prefixo da dependência. Assim terminei meus dias no banco.
Da mesma forma, foi assim que terminou minha relação de quase trinta anos de movimento sindical. Durante uns meses após o desligamento do banco dessa forma incompatível com a vida que tive no mundo do trabalho, no movimento sindical fui sendo cancelado talvez por ser quem sou, por ser um militante da época na qual podíamos ter opiniões próprias, da época do movimento sindical no qual nos trancávamos em salas de reuniões e exercíamos o pleno da democracia até que uma posição fosse tomada com todos dizendo o que pensavam, mesmo sendo opiniões divergentes. Talvez eu tenha sido cancelado por ser dessa época. Isso não faz mais parte do momento político e sindical.
Fim de ano. Fim da longa noite que durou o golpe de Estado de 2016. Desejo tudo de melhor para o nosso querido presidente Lula e para a classe trabalhadora tão sofrida deste país.
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