terça-feira, 16 de maio de 2023

Viagem a Cuba (II)


Capitolio Nacional de La Habana,
a partir da sacada da Casa de Isabel.

Refeição Cultural - Cuba (XVIII)

Osasco, 16 de maio de 2023. Terça-feira fria, com a madrugada congelante.


Preparação básica para ir a Cuba

Nossa viagem a Cuba foi organizada com bastante antecedência, o grupo foi criado e começou os contatos desde meados de 2022, e a companheira Miriam, que vez por outra eu chamava carinhosamente de "nuestra comandante en jefe" atuou incansavelmente para que tudo desse certo no planejamento. Desde o início, soube que a professora Maria Leite era o nosso suporte para auxiliar no roteiro de viagem e a Casa de Isabel era a nossa referência em Havana. 

Saímos de São Paulo no dia 26 de abril em voo da Copa Airlines e retornamos na madrugada de 12 de maio. O voo teve conexão no Panamá. Para os leitores e leitoras que pretendem ir a Cuba é bom saber que é necessário ter passaportes, visto de entrada e saída em Cuba - chamado tarjeta - que é de fácil aquisição, tanto na embaixada de Cuba no Brasil quanto no próprio aeroporto na hora do embarque, certificado de vacina contra febre amarela, seguro-viagem que tenha Cuba no rol de países com cobertura e um endereço onde se hospedará no país.

Para as pessoas que vão pela primeira vez é bom saber que é necessário levar uma certa quantidade de moeda estrangeira, euro ou dólar, e também será necessário fazer câmbio na Ilha para ter em mãos o peso cubano (CUP) para pagar as despesas diárias como refeições e bebidas. Recomenda-se evitar fazer câmbio na rua e com desconhecidos, a variação é enorme: de 120 a 190 pesos o dólar/euro. Outra informação importante é ter em mãos um cartão de crédito habilitado para ser usado no exterior.

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O capitólio visto na madrugada.
Alumbramento...

O primeiro dia

Chegamos de madrugada e o voo atrasou um pouco, não muita coisa. Nosso grupo com oito pessoas foi muito bem recebido nos dois endereços nos quais ficamos. Começamos ali a ver como o povo cubano é acolhedor e hospitaleiro.

Meu primeiro "deslumbramento" foi ver o Capitólio Nacional de Havana, que se vê da sacada da Casa de Isabel de forma deslumbrante e total. Fomos recebidos pelo senhor Luis, que também seria nosso guia por duas vezes para conhecermos a história e lugares importantes de La Habana Vieja.

Almoço em La Bodeguita Del Medio.

A manhã do 1º dia foi para descansarmos e almoçamos em um ponto turístico da cidade, La Bodeguita Del Medio. Descobrimos como funcionam os preços das refeições e bebidas nos primeiros dias e depois passamos a entender quando o lugar era caro, razoável ou barato. Os preços em La Bodeguita são bons, tanto para comer como para apreciar uma bebida local. Experimentei um Mojito, feito à base de rum. 

Detalhe: achei que usaria mais vezes o cartão de crédito (tarjeta), mas não foi possível, usei cartão raramente para as refeições. Andem por Havana com pesos no bolso.

Estátua de José Martí.

Andamos pelas imediações, vimos a estátua de José Martí no Parque Central, depois passamos em frente ao Terminal Sierra Maestra (área portuária, que é limpa e segura) e tomamos uma limonada na Praça de São Francisco de Assis.

Plaza de Armas.

Depois passamos em mais locais históricos e culturais como o Museu Nacional de História Natural de Cuba e a Plaza de Armas, uma fortificação secular entre as ruas Obispo e O'Reilly.

El Floridita.

No final deste primeiro dia, um dia descontraído, fomos ao famoso bar El Floridita, conhecido por ser um local onde o escritor Ernest Hemingway tomava suas biritas. Experimentei uma Cuba Libre. O preço das bebidas é mais caro que no lugar onde almoçamos. Em Cuba, o turista pode pagar até 200% mais nas bebidas e comidas conforme o local escolhido. Uma cerveja nacional pode custar de 150 a 600 pesos (CUP).

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Estátua de Hemingway...

Impressões ao andar pelas ruas de Havana

Ao andar por las calles y plazas em Havana Velha na tarde do primeiro dia, uma quinta-feira de muito sol e calor, pudemos ter as primeiras impressões sobre Cuba e os cubanos e sobre o sistema político do país, uma república socialista cuja constituição atual é de 2019 e cujo Legislativo - Asamblea Nacional del Poder Popular de Cuba - foi eleito faz poucas semanas, um legislativo composto por 470 deputadas e deputados. 

No entanto, ao andar por Havana, também se percebe os efeitos nefastos oriundos dos mais de 60 anos do embargo (bloqueo) imposto pelos Estados Unidos, embargo que não permite que o povo cubano tenha coisas básicas do cotidiano de um país no século XXI, coisas como medicamentos, agulhas para injeções, sabonetes, pastas dentais, leite em pó, papel higiênico de qualidade etc. 

Aliás, embargo que impede que Cuba tenha até combustível e eletricidade suficiente para a vida do povo cubano! Sabiam disso? A Ilha está passando por uma grave crise de falta de combustíveis e a vida cotidiana está muito difícil! É aí que vemos a característica do povo cubano que descrevi na primeira postagem: um povo altivo. Um dos lemas deles é resistência e criatividade!

Aqui onde moro, na grande São Paulo, temos mais de 30 mil pessoas sobrevivendo nas ruas e praças, são homens, mulheres, crianças, idosos, famílias inteiras sem emprego, sem um lar e sem uma cesta básica para não morrer de fome. 

As populações de Cuba (11 milhões) e São Paulo (12 milhões) têm tamanhos parecidos. Cuba é socialista e a São Paulo dos banqueiros da Faria Lima é capitalista. Nesta madrugada paulistana congelante (menos de 10º), milhares de famílias estavam nas ruas e praças e passaram muito frio e se tiverem comido alguma coisa - um ovo, por exemplo - foi por causa de pessoas e entidades que fazem doações e caridade. Não há garantia alguma de que se vá comer ao menos um ovo, um pão, uma sopa, ao longo de um dia, semanas, o mês todo.

Em Havana, percebemos que muitas pessoas oferecem de tudo para os turistas, principalmente corridas de táxi, charutos e algumas pessoas nos pedem alguma coisa, um regalo qualquer (presente), mas já no primeiro dia, foi possível perceber a diferença nas ruas entre uma metrópole socialista como Havana, com seus dois milhões de moradores que têm teto e uma cesta básica, e a São Paulo de milhares de pessoas em situação de rua, com fome e frio e futuro incerto, a cidade que conheço há cinco décadas. 

A carência absoluta de milhares e milhões de pessoas é na rica São Paulo capitalista - a miséria das maiorias no capitalismo excludente -, e não na carente Havana com falta de recursos materiais e essenciais para um país do século XXI, também por causa do bloqueio econômico criminoso imposto a Cuba, de um povo que só quer ser feliz e viver em paz.

Se Cuba tem carências materiais por diversos motivos econômicos, tenho a consciência clara de que a carência material no país caribenho é de outra natureza em relação à miséria das multidões em meu país dominado por uma casta de 1% da população que detém a metade do PIB do Brasil.

Essa foi a impressão da primeira tarde andando por Havana e refletindo agora, em casa, após a madrugada fria em São Paulo. O capitalismo não é a melhor forma de organizar uma sociedade humana.

Vamos refletindo aos poucos sobre a nossa visita a Cuba. Para ler o texto anterior é só clicar aqui.

William


Post Scriptum: o texto seguinte pode ser lido aqui.



10 comentários:

Miriam Goes Shibata disse...

Muito bom esse seu olhar aguçado e sua perfeita capacidade de nos descrever as diferenças entre um país que protege seu povo apesar das dificuldades e um país que os ignora. Tenho confiança que melhoraremos com o novo governo, que está atento para essa parcela de miseráveis que não sabe o que vai comer nas próximas refeições.

William Mendes disse...

Miriam, a experiência foi muito importante para nós que militamos por um Brasil e um mundo mais justo e solidário. Lula é um grande líder na luta contra a fome e a desigualdade, ele está num contexto de governo muito complexo, mas temos plena confiança na capacidade e nos objetivos do governo de alcançar a parcela mais necessitada de Estado em nosso país. Abraços, companheira!

Anônimo disse...

Continuo com o coração em Cuba, esses post, só me faz recordar, cada detalhe, obrigada!

Valmir disse...

Companheiro, felicitações. Também já estive em Cuba alguns anos atrás, gostei muito, existe pobreza porém não vi miséria, mas pelos seus relatos penso que a situação tem piorado. Com relação ao bloqueio desde aquele tempo fiquei com algumas dúvidas. Na minha percepção penso que independente do bloqueio ou não, pois chega produtos na ilha, inclusive do Brasil, da Espanha, etc. Vi produtos dessa origem quando lá estive. Penso que por Cuba ser uma ilha, ser pouco industrializado, não tem petroleo, tem poucos recursos naturais, as divisas que entram são do turismo e de poucas exportações como charuto, açucar, etc O que pega mesmo é não ter divisas para comprar os produtos dos quais o seu povo precisa.

William Mendes disse...

Acho que vou ficar muito tempo com o coração e os pensamentos em Cuba e na comunidade humana que eles estão lutando para construir... Abraços!

William Mendes disse...

Prezado Valmir, pelo que pude compreender, companheiro, são as duas coisas que você explica no comentário. Faltam divisas mesmo, porque a situação econômica do país se agravou após a pandemia, já que o turismo tem papel muito importante nos recursos que a Ilha recebe (o turismo havia melhorado na era Obama, piorou após Trump e Biden). E o problema do bloqueio está cada vez pior, apesar de vermos produtos de outros países por lá, cada vez é mais difícil algum país ou empresário estabelecer uma relação comercial com Cuba sem perder o mercado com os Estados Unidos. Qualquer empresa que tenha relações comerciais com Cuba não consegue sequer financiamento em boa parte dos bancos e fundos comerciais, perde mercado com EUA e Europa e outras consequências do tipo. O bloqueio tem o objetivo de matar de fome e miséria o povo cubano, é o efeito de uma bomba, só que alongado no tempo e não imediato. Um crime de lesa-humanidade. Abraços!

Maria Leite disse...

Excelente relato!

Anônimo disse...

Seus comentários refletem exatamente o que vejo aqui (cheguei em 27/4)e o que sei/ penso/ vejo em São Paulo, por exemplo. Muito bom o texto, certeiro e útil.

William Mendes disse...

Obrigado, professora Maria Leite. Está dando um trabalho grande fazer as postagens para evitar escrever algo errado, mas acredito que vale a pena o esforço. Abraços!

William Mendes disse...

Fico feliz que os textos estejam sendo úteis para as pessoas interessadas no tema Cuba e o povo cubano, e no tema viagens. Fraterno abraço!