Refeição Cultural - CartaCapital nº 1310
Osasco, 14 de maio de 2024. Terça-feira.
S.O.S.
O subtítulo da matéria de capa já anuncia a que ponto falimentar chegamos na sociedade humana.
"Na tragédia gaúcha, agravada pelo aquecimento global, o Brasil solidário e consciente se digladia com a parcela negacionista, inconsequente e velhaca"
A reportagem está se referindo aos fdp que estão atuando para piorar a situação de centenas de milhares de vítimas das inundações no Rio Grande do Sul, produzindo e divulgando mentiras em escala industrial (chamadas de fake news) para prejudicar os trabalhos de salvamento e recuperação de 90% das cidades do Estado atingido pela violência climática (consequência da destruição do mundo pelo capitalismo).
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A IMPUNIDADE dos mentirosos é o maior incentivo para se continuar a inventar mentiras! Além dos gabinetes do ódio dos bolsonaristas e extremistas da direita, a imprensa comercial dos barões, velha e canalha, produz mentiras nos jornais e revistas e TVs e rádios e nada acontece a ninguém... Em algumas situações e contextos sociais, na minha opinião, produção proposital de mentiras deveria ser tratada como traição em guerra, com pena capital. Estamos em guerra! Só não vê quem não lê o mundo e só não fala quem acha melhor ficar na moita e se fazer de neutro.
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É tanta merda que dá até preguiça de comentar. Prefeitos e parlamentares canalhas (todos de partidos de direita e extrema-direita) utilizando o tempo para lacrar em redes sociais, uns fdp mesmo, tempo que seria necessário a salvar vidas e agir para minorar as consequências da tragédia climática anunciada pela ciência há tempos. Tragédia agravada por causa dos neoliberais hipócritas que mudaram as leis de proteção ambiental e que não fizeram investimentos e manutenção em sistemas de contenção que existem há décadas para suportar momentos de grande volume de chuvas. A tragédia tem culpados! A tragédia deve ser politizada porque poderia ser evitada!
E o pior para quem estuda História é que sabemos que situações de miséria e carência não geram consciência política, nunca gerou consciência de classe. Pelo contrário, sem educação e formação política, a tendência é haver movimentos oportunistas à direita, povo sofrendo e sem educação e cultura é povo à mercê de canalhas aproveitadores da fé das pessoas e políticos extremistas pregando fascismo e autoritarismo. E, infelizmente, educação libertadora e formação política são coisas que nossos governos Lula e Dilma perderam a oportunidade de fazer durante os mandatos do Partido dos Trabalhadores desde 2003. Concordo com Frei Betto nessa leitura.
Não seria hora de acordar e começar a politizar a classe trabalhadora? Somos seres históricos, sempre é tempo de mudar. Não existe um futuro pré-determinado, o futuro é uma construção do hoje, construção humana. Podem inventar as explicações mitológicas que quiserem, mas o amanhã bom ou ruim depende do que fizermos ou não fizermos hoje.
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A EDIÇÃO 1310 E SUAS EXCELENTES MATÉRIAS E ARTIGOS
A leitura de uma edição completa da revista CartaCapital é uma oportunidade que seu leitor(a) tem de se atualizar sobre temas diversos e relevantes ocorridos no Brasil e no mundo. A partir dessas informações, é possível formar opinião ou gerar curiosidade de aprofundamento na questão de interesse.
Intelecção - Meu caso de leitor da revista, por exemplo. Ao ler toda a revista consigo ter uma compreensão melhor do mundo da forma como ele é, as coisas todas estão imbricadas umas nas outras, tudo é causa e consequência das decisões que tomamos diariamente enquanto sociedade humana. As matérias das seções "Seu país", "Economia", "Nosso Mundo" e "Plural" se interligam inevitavelmente.
CAPITALISMO, ESTADO MÍNIMO E O EFEITO BORBOLETA
A matéria de capa sobre as consequências das inundações e violências climáticas (p. 16) está conectada com a matéria sobre a privatização dos serviços funerários na cidade de São Paulo (p. 37), sob gestão de neoliberais de merda. Com o foco no lucro de alguns e prejuízo de todos é o povo que se ferra, sempre!
Quando serviços públicos que interferem diretamente na vida de toda a coletividade passam para a mão de algum fdp que vai focar no lucro com aquilo, é óbvio que na outra ponta estão as pessoas, os milhares e milhões de usuários dos serviços ruins das "empresas" de alguns sujeitos que estão em paraísos na terra, cercados de luxo, longe das consequências da falta de Estado na vida de toda a cidadania.
É o caso dos donos da Enel em São Paulo (que se danem as pessoas sem luz por vários dias!). Será o caso dos futuros donos da Sabesp (que se danem as pessoas sem água...). É o caso dos donos dos serviços funerários na capital paulista. É o caso dos donos das empresas públicas privatizadas no Rio Grande do Sul.
Essa gente que defende ausência de Estado no capitalismo é um misto de pessoas que não têm educação libertadora e formação política porque não tiveram oportunidade (não associam causa e consequência das coisas) com pessoas que estão no topo da hierarquia do poder econômico e político e que não concordam com sociedades igualitárias e mais justas para todas as pessoas. Defendem o privilégio, o privado, privar todos em benefício de alguns...
O caso do Rio Grande do Sul e o povo brasileiro daquela região é um exemplo típico do cenário mundial. Não fosse Lula o presidente do Brasil neste momento, a situação daquelas irmãs e irmãos estaria muito pior do que já está.
E tem mais: os negacionistas e mentirosos que se aproveitam do caos para lacrar e monetizar suas contas em redes sociais são passageiros em tragédias como essas. O que aconteceu no RS mudou a vida de centenas de milhares de pessoas para sempre. Daqui alguns dias, a comoção nacional vai diminuir, e se não houver ESTADO, órgãos públicos, recursos públicos, agências dos CORREIOS, BANCOS PÚBLICOS, SUS, as pessoas não terão como recomeçar suas vidas.
Não é o capitalismo neoliberal que vai recuperar a vida de toda a gente do Rio Grande do Sul. É o Estado, é o público, o coletivo, é a solidariedade da coisa pública. Não é o privilégio que salva o povo.
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A ERA DAS CATÁSTROFES - Aldo Fornazieri (p. 21)
"A degradação ambiental, que provoca morte entrópica do planeta, é resultado de uma concepção de mundo, de formas de conhecimento científico, social e religioso com que a humanidade construiu um mundo no qual se destrói a natureza e mantém bilhões de indivíduos na pobreza. O parâmetro principal da medida de todas as coisas não é a vida ou o bem-estar, mas o lucro rápido."
O artigo de Fornazieri é esclarecedor, ele fala sobre a tese do Antropoceno, uma era na qual o ser humano tornou-se a força impulsionadora da degradação ambiental e catalisadora das condições para a catástrofe ecológica.
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MORDOMO DO RENTISMO
Na seção de economia, a matéria sobre o bolsonarista Campos Neto, colocado no Banco Central para bloquear os avanços na economia do país sob gestão de eventual governo progressista (como o de Lula), me deixa pensando muito sobre o que é e o que não é crime... Qual o tamanho da consequência negativa das decisões desse sujeito em manter juros altíssimos (em favor dos bilionários rentistas) na vida de milhões de pessoas comuns em nosso país?
Como medir todo o mal que um sujeito pode fazer ao povo de uma comunidade humana? Um sujeito com o poder de bloquear o crescimento do emprego e renda de mais de uma centena de milhão de pessoas. Na minha opinião, opinião de quem estudou economia por muito tempo, o comando do Banco Central é desastroso, enviesado, e claramente focado no privilégio de alguns em prejuízo de milhões de pessoas.
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IDEOLOGIAS DE CANALHAS
Duas matérias desta edição dão bons exemplos sobre canalhices criadas a soldo, ideólogos que criam teses e ideias para justificar os interesses e os privilégios dos donos do poder em detrimento das massas humanas exploradas.
Na matéria "Traquinagens econométricas", assinada pelo professor Belluzzo e por Nathan Caixeta (p. 43), assino embaixo o que eles denunciam sobre um tal Instituto Fiscal Independente (IFI) e um de seus ideólogos que justificam a importância de um "superávit primário estrutural" e blá blá blá com um objetivo final de dizer que expansão fiscal é uma merda e que austeridade fiscal é a salvação da humanidade... (que nos diga a respeito o povo do Sul, o que pensam os desabrigados sobre isso?)
Na outra matéria "Falsificação histórica", de Will Hutton, à página 54 da seção "Nosso Mundo", vemos outra tentativa de ideólogos, no caso ideóloga (e negra), de negar o peso da escravidão para o sucesso da acumulação capitalista do império inglês ao longo de séculos, séculos de exploração e usurpação de um quarto do planeta Terra. Canalhice... os tempos são de negacionismo, de imposição de pós-verdades por parte dos donos do poder.
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CULTURA
Na última vez que consegui ler uma edição completa de CartaCapital (ver aqui), acabei sendo instado a ler "Ricardo III" de Shakespeare por causa de uma matéria da revista.
Agora, fiquei curiosíssimo com a matéria sobre Caetano Galindo, professor da Universidade Federal do Paraná, autor de dois livros abordados na matéria que chamam a atenção dos amantes da leitura.
Eu gostei muito da versão do Ulisses, de James Joyce, traduzida por Galindo (comentário aqui). Achei o texto diferente em relação à tradução do Houaiss, que já havia lido. Óbvio que o leitor era outro também, duas décadas depois.
A matéria de Luis Capagnoli, uma entrevista, me instigou tanto que talvez até vá à Feira do Livro em São Paulo neste ano, coisa que não costumo fazer. Galindo será uma das atrações.
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É isso!
A leitura de mais uma edição de CartaCapital me fez pensar e me trouxe de forma organizada um conjunto de informações sobre a atualidade. Valeu a pena a leitura.
Abraços e recomendo o jornalismo da equipe liderada por Mino Carta.
William Mendes
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