sábado, 11 de julho de 2020

Leitura: Decamerão (1353) - Giovanni Boccaccio




Refeição Cultural

"Despedida

(...) Como sabem, amanhã estarão completados quinze dias que nós, para achar alguma forma de entretenimento, e ainda para defender nossa saúde e nossa vida, deixamos Florença; agindo deste modo, fizemos cessar, para nós, a melancolia, a dor e a angústia que perpassavam sem cessar pela nossa cidade, desde que teve início essa época de pestilência..." (p. 761)


Como sabem os leitores que nos acompanham, ontem completaram-se cem dias do início da leitura do Decamerão, ato empreendido como forma de encontrar alguma rotina de prazer e entretenimento, e ainda defender nossa saúde mental, durante a pandemia do vírus Covid-19. Durante a quarentena, não deixamos Osasco, mas lidamos com a melancolia, a dor e a angústia que ainda perpassam pelas nossas cidades, desde o início desta época de pestes e pandemias, a do vírus e a do bolsonarismo, principalmente.

Quando começamos a leitura diária de novelas do Decamerão, no dia 2 de abril (ler postagem aqui), a pandemia do novo coronavírus já havia infectado mais de um milhão de pessoas no mundo. O epicentro da doença era justamente a terra natal de Boccaccio, a Itália, que sensibilizava o mundo diariamente com a imensa quantidade de mortos pela Covid-19. Naquele momento, o mundo contabilizava mais de 60 mil mortos e a doença chegava às Américas. Trump e Bolsonaro faziam pouco caso da doença e diziam que era uma "gripezinha" super avaliada pela imprensa e pelos adversários políticos.

E então cheguei ao final do livro, lidas as cem novelas em dez jornadas e a conclusão do autor, que é muito interessante em termos literários, a pensar que a obra foi escrita em meio à pandemia da Peste Negra, que matou milhões de pessoas em diversos países da Europa no século XIV. 

E como estamos neste momento, cem dias após a leitura do Decamerão? Primeiro, estamos vivos aqui em casa, e pudemos atravessar os cem dias com a permissão da Fortuna, que tudo define, como a obra nos mostrou ao longo desse período.

A pandemia do novo coronavírus efetivamente não é uma "gripezinha". Não por acaso, os dois países com o maior número de vítimas, tanto de pessoas infectadas como de pessoas mortas, são justamente os países nos quais suas populações decidiram colocar na presidência homens maus, bárbaros, seres sociopatas, sem empatia com a vida de seres humanos. 

O mundo registra neste momento mais de 12 milhões de pessoas infectadas pelo vírus e EUA e Brasil, sozinhos, têm 5 milhões delas. Já morreram mais de 500 mil pessoas, sendo que mais de 200 mil são cidadãos norte-americanos e brasileiros. A terra de Boccaccio começa a retomar a vida. Já o Brasil tem uma das curvas de contágio mais ascendentes do mundo. As coisas ainda vão longe por aqui...

Apesar da curva ascendente de contágio e mortes, nesta terra diferente de tudo, coisa única do mundo, um país jabuticaba, quase não há quarentena, nem distanciamento social, porque os governos estimulam o contrário! Evitar aglomeração e contatos são medidas necessárias para enfrentar a pandemia do Covid-19 porque não há remédio nem vacina para ele. 

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Mas aqui... preto vota em racista, mulher vota em machista, funcionário público vota em privatista, crente vota em quem prega ódio, tortura e morte... um moralista vota em bolsonaros... um país jabuticaba.
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O sujeito e seus apoiadores empresários da casa grande venceram o debate e os pobres e pretos são as maiorias absolutas das vítimas da doença. Quanto mais rico e branco, menor a estatística da morte. Quanto mais pobre e preto, maior mortandade.

É isso! Mais um clássico da literatura mundial lido. Espero que a Sorte me permita empreender outras aventuras literárias como essa. 

Espero que um dia, uma hora qualquer, algum evento, alguma tomada de consciência, ou algo imponderável, altere a realidade; algo faça com que as pessoas retirem do poder esses bárbaros que tomaram as instituições do nosso país. O ideal é que esses bandidos tenham direito a julgamento justo. 

Mas vai saber... do jeito que estimularam o ódio em nosso meio, vai que as massas vitimadas e miseráveis, cansadas dos abusos, façam com os bárbaros daqui o que fizeram com o líder fascista da terra de Boccaccio...

William
Um leitor


Bibliografia:

BOCCACCIO, Giovanni. Decamerão. Imortais da Literatura Universal, Nova Cultural, São Paulo, 1996.

Informações sobre a pandemia do Covid-19 do site da Johns Hopkins University.

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