quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Revoluções ainda são possíveis?





Refeição Cultural

Se revoluções ainda são possíveis, eu não sei. Mas sei que elas são necessárias.

Eric Hobsbawm escreveu o clássico Era dos extremos - O breve século XX, 1914-1991 em 1994. A edição que tenho foi impressa pela Companhia das Letras em 2006. Os primeiros registros de minhas leituras no livro foram feitos em março de 2009. O historiador faleceu em 2012. Eu nunca li o livro até o fim. Sempre fiquei nas releituras da primeira parte "A era da catástrofe". Estamos em 2020 e o mundo está o caos.

Terminei a leitura do capítulo "Terceiro mundo e revolução", já na terceira parte do livro. A descrição dos fatos ocorridos no mundo da segunda metade do século XX por Hobsbawm é incrível. A parte que ele descreve dos anos 70 e 80 já aparece na minha memória de infância. E as palavras dele ao se referir ao final do século e o que poderia vir no seguinte são impressionantes. Não viria nada de bom para nós...

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"Revoluções continuarão ocorrendo? As quatro grandes ondas do século XX, de 1917-20, 1944-62, 1974-8 e 1989- , poderão ser seguidas de outras rodadas de colapso e derrubada? Ninguém que olhe em retrospecto um século em que não mais que um punhado de Estados hoje existentes passou a existir, ou sobreviveu, sem passar por revolução, contra-revolução armada, golpes militares ou conflito civil armado apostaria seu dinheiro no triunfo universal da mudança pacífica e constitucional, como previsto em 1989 por alguns eufóricos crentes na democracia liberal. O mundo que entra no terceiro milênio não é um mundo de Estados ou sociedades estáveis." (HOBSBAWM, 2006, p. 446)
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O historiador marxista não era vidente ou astrólogo, era simplesmente uma pessoa inteligente, preparada e acostumada a fazer leituras da história, era alguém que sabia de causas e consequências de atos e fatos políticos e sociais. 

Os 25 anos que separam a publicação da Era dos extremos e o momento atual estão vivos em minha memória de cidadão militante social. Vivi o boom de governos democráticos populares na América Latina do final do século passado em diante, vi governos que tiveram um olhar para as classes populares em quase toda a América do Sul e vi todos serem derrubados por golpes de Estado com o apoio dos Estados Unidos e suas agências. 

Os processos de desestabilização dos governos não alinhados ao império foram fundamentais para os golpes por lawfare ou revoltas populares manipuladas por meios de comunicação de massa. Sites e jornalistas hoje perseguidos implacavelmente denunciaram ao mundo os métodos de espionar, desestabilizar e derrubar governos não alinhados ao Norte.

Vi entrar em ação uma nova forma de derrubar governos populares, uma forma com menos sangue espirrando em paredes brancas. Lawfare e manipulação maciça de populações através de ferramentas de redes sociais são as novas balas de fuzis e canhões. Uns bostas engravatados com diplomas de direito e colocados nos locais adequados substituem os aviões bombardeiros que matam presidentes como no caso chileno do Palácio de La Moneda (11 de setembro de 1973).

Enfim, em tempos de governos bárbaros, de canalhas e bandidos no poder, termino com as palavras de Hobsbawm sobre o que poderia vir no início do século XXI. Até parece profecia, mas não é.

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"O mundo do terceiro milênio portanto quase certamente continuará a ser de política violenta e mudanças políticas violentas. A única coisa incerta nelas é aonde irão levar." (HOBSBAWM, 2006, p. 446)
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Os novos golpes de Estado através de lawfare podem até não estar espirrando sangue nas paredes, mas estão derramando muito sangue das classes populares, como sempre foi. Mas o derramamento de sangue popular através do assalto ao Estado e aos direitos dos cidadãos é invisibilizado pelos meios de comunicação dos golpistas, a classe dominante que detém todos os meios.

Como disse no início, as revoluções seguem mais necessárias que nunca!

William


Bibliografia:

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos - O breve século XX, 1914-1991. Companhia das Letras, São Paulo, 2006.

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