Refeição Cultural
Estava refletindo sobre os perfis das pessoas, reflexões provavelmente oriundas do esforço mental em tentar compreender as coisas, os porquês, a própria vida da gente e das pessoas ao nosso redor.
As características pessoais que temos poderiam ser explicadas de diversas maneiras, podem nascer conosco, podem ser adquiridas a partir de exemplos externos a nós - a cultura -, podem aparecer em nós por acasos e acidentes de percurso das veredas da existência. Somos hoje o acúmulo de nossas vidas desde o início do viver.
Qual seria o meu perfil, a minha natureza, em relação às atitudes cotidianas no que diz respeito às atividades sociais como, por exemplo, trabalhar, estudar, me relacionar com as pessoas, dentre outras ações pessoais perante o mundo em que vivemos?
Quando olho para trás e tento me lembrar do que pensava, o que queria, o que não queria, o que era indiferente para mim, me vem à memória a ideia de que eu não queria ser um acumulador de dinheiro, um capitalista, um cara poderoso ou coisa do tipo. Nunca almejei isso, de verdade.
Me parece que tenho uma natureza de servidor público, de alguém que poderia encontrar a satisfação pessoal em realizar trabalhos úteis para as pessoas, para os outros. Essas invenções ideológicas dos capitalistas para enganar os miseráveis que não pertencem ao seleto grupo da família deles, de que todo mundo deve ser empreendedor, empresário, bilionário etc nunca me encantaram em nada.
Foi assim que minha vida se encaminhou nas quase quatro décadas em que trabalhei para os outros, em que vendi minha força de trabalho. Alguns trabalhos foram muito desgraçados, é verdade, e me fizeram odiar ser explorado pelos outros, me fizeram sentir que o mundo é injusto organizado como está, hegemonizado pelo modo de produção capitalista, no qual alguns humanos exploram todo o restante dos humanos e acumulam toda a riqueza produzida, às custas da miséria de bilhões de pessoas.
Minha vida fluiu assim, trabalhando para servir as pessoas. Neste momento, por diversos motivos e mudanças na minha vida pessoal e na vida de nosso país, não faço mais isso e me peguei completamente perdido, buscando sentidos para o viver.
Minha busca não é desesperada porque sou uma pessoa agraciada pelo acaso, pela deusa Fortuna como diziam algumas sociedades arcaicas. Minha busca não é desesperada, mas não pode durar a vida toda, que pode ser longa ou curta. Tenho que encontrar sentidos e projetos que deem sentidos ao viver.
Depois das últimas décadas servindo aos projetos coletivos de sociedade e de mundo, não encontro conforto e paz interior para só viver minha vida e dane-se o mundo e as pessoas. Mas meu perfil não é de empreendedor, é de alguém colaborativo, que fez o que fez coletivamente porque estava inserido em projetos de mundo construídos a várias mãos, o movimento social.
Por isso sou tão grato ao trabalho de organização sindical de base, porque um dia pessoas engajadas em projetos coletivos me encontraram e me instigaram a entrar naquelas lutas e projetos coletivos. E eu aceitei e fui feliz e fiz algo que justificou minha existência.
Talvez eu escreva mais sobre isso, apesar do trabalho que dá escrever nos tempos em que as palavras e os textos e as ideias não têm mais espaço no tempo e no interesse das pessoas.
William
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