terça-feira, 25 de julho de 2023

Leitura: A verdade vencerá - Lula



Refeição Cultural

Osasco, 25 de julho de 2023. Terça-feira.


INTRODUÇÃO

A leitura da entrevista de Lula neste livro produzido nos primeiros meses de 2018 - a entrevista e os textos anexos preparados para a edição - foi uma leitura talvez de redundância, porque já conhecia parte das ideias e fatos enunciados por Lula; talvez de descobertas, porque sempre se descobre algo novo sobre essa figura ímpar; talvez de decepção, porque com o passar do tempo vamos ganhando experiência de vida e as coisas passam a ficar meio sem graça, previsíveis, a gente talvez vai ficando chato e desiludido com a política, com as pessoas e com o mundo. Contudo, a leitura foi necessária, é sempre importante ler e estudar e refletir sobre a política, as pessoas e o mundo, sobre a vida.

(dia desses, um amigo e companheiro de longa jornada me disse que eu estava muito chato... eu sempre fui chato... isso não quer dizer que eu não tenha algo a dizer ou contribuir sobre as coisas. Brincamos sobre a minha chatice, demos risada. Sou chato mesmo)

Ivana Jinkings foi a responsável pela ideia da entrevista e organizou a edição, junto com a equipe da Editora Boitempo. O livro foi de uma urgência histórica, pois Lula estava para ser preso injustamente no maior processo de lawfare que o mundo havia conhecido. Assim que o livro foi finalizado e começou a circular, creio eu, pois as datas que aparecem no livro são de janeiro a março de 2018, Lula foi preso, em 5 de abril. 

Lula passaria 580 dias nas masmorras da República de Curitiba. Sofremos juntos todo esse período trágico de nossa história. Eu pelo menos sofri como nunca, sindicalista, dirigente eleito da classe trabalhadora, militante de esquerda há décadas, sofri de um tanto que acho que meu corpo morreu um pouco. Vivo hoje com o resto dele. Não só eu, muitos de nós morreram um pouco. 

Quando olho o que veio após esse processo infame do golpe contra a Dilma, a Lava Jato e a prisão de Lula para não ser eleito presidente em 2018, a chegada à presidência daquele verme miliciano e genocida, a destruição do Brasil nos quatro anos seguintes, a tristeza e a desesperança que se abateu sobre uma parcela da população do campo progressista e democrático, quando penso na parcela que não aderiu ao regime fascista e de morte, penso que todos morremos um pouco, ou adoecemos e as cicatrizes estão em nós, ou as cronicidades que nunca mais serão curadas, só controladas se bem tratadas.

Participaram da entrevista Juca Kfouri, Gilberto Maringoni e Maria Inês Nassif, além da Ivana Jinkings. E contribuíram com artigos e análises Luis Fernando Verissimo, Luis Felipe Miguel, Eric Nepomuceno, Rafael Valim e Luiz Felipe de Alencastro. O livro contém fotos preciosíssimas! Tudo em Lula é superlativo! Tudo!

Por que li este livro agora? 

Peguei o livro em minha estante porque ia ler o livro de Fidel Castro - A história me absolverá (1953) - e pensei que seria perfeito ler A verdade vencerá (2018) também. A história mostrou as razões e as certezas de Fidel Castro e Lula. Que homens fantásticos! Que figuras humanas! 

A história mostrou por que aqueles jovens liderados por Fidel tiraram do poder aquele ditador de merda em Cuba através da Revolução Cubana e a libertação de Cuba do jugo imperialista a partir de 1º de janeiro de 1959 (comentários sobre o livro de Fidel aqui) e a verdade venceu ao menos para desmascarar toda a farsa montada pela Lava Jato, operação organizada com apoio da casa-grande e do império norte-americano para interromper os avanços que a classe trabalhadora vinha auferindo com seu maior líder no poder, Lula.

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ALGUNS COMENTÁRIOS

A MALDITDA LEI DA FICHA LIMPA

"O que permitiu chegar a tal situação foi uma espiral punitivista que começou já nos governos do PT e se aprofundou após o golpe. Dois momentos foram especialmente importantes. Em 2010, o Congresso aprovou quase por unanimidade - e o próprio Lula, então na Presidência, sancionou - a Lei da Ficha Limpa, nascida de um projeto de iniciativa popular, cujo efeito líquido é determinar a tutela do Judiciário sobre a soberania do povo. Em meio ao entusiasmo frenético da mídia e de muitas organizações da sociedade civil, pouquíssimas vozes ousaram se erguer contra a lei. Ela determina que os cidadãos que tenham sido condenados por decisões colegiadas do Poder Judiciário não podem concorrer às eleições..." (p. 15)

Eu fui uma das raras vozes a se levantar contra essa porcaria de Ficha Limpa. Era dirigente nacional da Contraf-CUT e publiquei artigo me opondo a essa lei que era claramente uma armadilha para criminalizar a política, principalmente as lideranças do campo popular. Ver uma postagem minha sobre o tema no blog A Categoria Bancária (aqui).

O articulista, Luis Felipe Miguel, analisa o quanto esta lei é equivocada e poderia prejudicar a todos por causa de alguns. "O combate à impunidade de alguns justificaria a retirada de garantias de todos." (p. 16)

Numa singela postagem desta não dá pra fazer um monte de citações. Registro que o prefácio "A democracia a beira do abismo", de Luis Felipe Miguel, é espetacular. Ele cita a tese de André Singer sobre o Lulismo, analisa os mandatos do PT distribuindo renda e dando acesso aos bens da cidadania por parte dos governos do partido, mas sem politizar as pessoas.

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A ENTREVISTA

Ler a entrevista de Lula de fevereiro de 2018 neste momento do país sob os primeiros meses do 3º governo do presidente Lula (julho/2023) é algo muito interessante. Eu recomendaria o livro para muita gente caso eu fosse um "influenciador", recomendaria principalmente a sindicalistas e militantes dos movimentos de esquerda, incluindo o próprio PT.

Quando li o livro de Denise Paraná - Lula, o filho do Brasil (2002) - pude compreender melhor quem eu era e o que eu representava sendo um sindicalista da CUT, da corrente política Articulação Sindical e militante do PT. No blog tem 13 postagens sobre o livro, ver aqui.

Mesmo tendo passado muitos anos estudando e buscando compreender quem éramos, nós do Novo Sindicalismo, foi através das entrevistas de Lula e de seus familiares que pude entender melhor o Partido e a Central. O Lula repete bastante as questões centrais. Veja um exemplo abaixo da entrevista em 2018:

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"Juca Kfouri - Presidente, eu lhe perguntei sobre prisão e exílio. Mas queria voltar a esse assunto, porque é um dos temas mais urgentes do momento, ao lado da sua candidatura. O senhor está cogitando ser preso?

Lula - Estou. O que não estou é preparado para a resistência armada, nem tenho idade. Como sou um democrata, nem aprender a atirar eu aprendi. Então, isso tá fora. O PT não nasceu para ser um partido revolucionário, nasceu para ser um partido democrático e levar a democracia até as últimas consequências..." (p. 124)

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Comentário meu - Engraçado ver essa explicação do Lula ao se submeter a ser preso sem ter cometido crime algum. Eu sempre disse para meus familiares e para os bancários que representava que eu me tornara muito mais radical que o Lula e o PT. Que se eles eram de centro ou contra "comunismo" eles tinham que ser apoiadores do Lula e do PT justamente por causa dessa coisa paz e amor, cristã, sem revolução... Por mim, era revolução e paredão para a casa-grande (risos). Memórias...

Enfim, ao ler a entrevista do Lula em fevereiro de 2018, próximo de ser preso por aquela operação de lawfare para tirá-lo das eleições e tentar criminalizar e destruir o PT, vi um filme de minha vida sindical e política. Foi inevitável rever duas décadas de participação política na história do Brasil e do movimento sindical.

Como disse na introdução acima, às vezes me parece que as coisas da política e da vida passam a ser previsíveis, chatas, repetitivas. Ver o PT e o movimento sindical hoje, ver o andamento do governo Lula, ver como nosso presidente desenvolve suas estratégias e táticas porque sabemos bem quais são seus objetivos centrais é algo muito interessante. A gente sofre e a gente se resigna com algumas coisas. A gente fica puto com outras. A gente compreende e endossa, apoia o que vem sendo possível fazer no contexto atual do mundo.

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A entrevista e os artigos do livro são merecedores de leitura e estudos por parte ao menos da militância e dos interessados em compreender um pouco mais o presidente Lula e até o Partido dos Trabalhadores e o movimento sindical do campo cutista.

Eu preciso parar um pouco de ler esses livros de política e encarar uns dois ou três romances... sofro demais com essas leituras e me torno cada dia mais ranzinza e chato.

Essa foi a 23ª obra que li neste ano.

William


Bibliografia:

JINKINGS, Ivana. A verdade vencerá - O povo sabe por que me condenam: Luiz Inácio Lula da Silva. Org. de Ivana Jinkings com a colaboração de Gilberto Maringoni, Juca Kfouri e Maria Inês Nassif. 1ª edição. São Paulo: Boitempo, 2018.


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