Refeição Cultural
Osasco, 14 de fevereiro de 2025. Sexta-feira.
Saí de manhã para caminhar no Parque Continental, ver o estrago da tempestade de ontem e comprar algumas coisas no mercado.
Algumas árvores caíram na região, inclusive na frente de nosso condomínio. Lá no Parque caiu uma árvore gigante, partindo ao meio um poste de luz.
Ao descer para casa, vindo da Vila Yara, pensei no quanto minha saúde e condição física regrediram. O peso das compras agora importa, antes eu nem sofria. Sou novo, não é uma questão de idade. Talvez seja a intensidade com que vivi a vida.
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Meus problemas no quadril parecem apontar um futuro breve tenebroso. Quis o destino assim. Posso chamar a situação como "destino", casualidade. Sou o resultado da intensidade de tudo na minha vida. São as veredas que entrei e percorri.
Sobre meu sistema locomotor, tenho quase certeza que a volta ao Kung Fu aos 50 anos foi a causa da aceleração da destruição do meu quadril. Todo movimento repetitivo foi muito intenso, isso fodeu geral meu sistema articular. Destino? Acaso?
Voltar a praticar arte marcial foi uma decisão racional. Vejam as cenas nos noticiários de jovens espancando e matando pessoas mais velhas sem nenhum remorso ou receio. É um mundo bárbaro. Entendo que temos que estar preparados para não deixarmos nos matarem assim, na mão, de forma torpe. Treinei uns dois anos. É meu dever não deixarem me matar na porrada.
Sou teimoso, persistente. Ninguém pode me acusar do contrário. Posso ter sido pusilânime em vários momentos da vida, mas minha natureza é aguerrida, insistente quando persigo um objetivo. Foi assim para ser aluno de arte marcial aos 50 anos. Mas acho que paguei o preço.
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Neste momento, estou na academia do condomínio, escrevendo enquanto treino. Tenho conhecimentos na área de saúde, sei que musculação é importante para as pessoas. Estudei Educação Física e fui gestor de saúde. Tudo por acaso, mas esse saber faz parte de meu percurso de vida.
Ainda sobre saúde, tem uma história esquisita a minha vida: até uns 45 anos, eu não cuidava da saúde de forma preventiva, fazia esporte, mas não tinha consciência de saúde. Comia sal na mão tomando cerveja, bebia pra caralho, comia muita porcaria.
Nunca gostei de ir ao médico ou consultas e hospitais. Minha família só se fodia quando precisava de um atendimento ou salvamento em algum caso agudo. Meu pai e minha mãe quase morreram algumas vezes por não ter atendimento adequado. Meus pais são crônicos desde seus quarenta anos. Uma vez, fomos até os jornais denunciar que meu pai não conseguia atendimento numa crise renal.
Quando passei a ter acesso a atendimento médico como funcionário de banco público, tinha um mal-estar terrível pelo privilégio: por que eu tinha plano de saúde e meus pais e minha irmã não? Fiquei praticamente dos 22 aos 45 anos sem fazer nada preventivo, só usei a Cassi em casos agudos. E fazia os exames médicos do banco.
Virei gestor de saúde, passei a dar exemplo como liderança dos trabalhadores nos exames preventivos, descobri que tinha pressão alta e me cuidei na última década. Talvez isso tenha me salvado a vida, evitado um infarto e ou AVC. Meu pai já teve tudo isso. Acaso? Destino?
Respondo a essas perguntas retóricas: acaso. Não acredito nessas narrativas das abstrações humanas.
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Escrevi essas lembranças do passado talvez porque esteja com uma impressão ruim do presente e do futuro.
Tenho pensado na forma como o tio Léo adoeceu e faleceu, um homem forte como um touro, perdeu a força nas pernas e ficou numa cadeira de rodas; no meu pai que reclamava de dores crônicas desde antes de ter um plano de saúde, as dores eram no quadril; nas pessoas queridas que estão com alguma doença ou dificuldade física e querem melhorar... meu quadril bichado tem me feito pensar muita merda.
Por falar em gente insistente e teimosa, meu pai é outro cara turrão pra caralho. Por isso que temos tantas discussões ruins. Acho que é de sangue isso... E minha mãe? Temos um trato que já dura uma vida inteira: eu me esforço pra viver e ela se esforça pra viver porque precisamos uns dos outros.
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Aí fico pensando no mundo no qual estamos enfiados, na falta de sinais de mudança de tendência do tempo escatológico no qual nos metemos: destruição da natureza pelos homens do capitalismo, a esquerda que não luta mais contra o capitalismo, eu que não caibo mais na esquerda que me politizou... tudo isso é foda!
Pra finalizar essas elucubrações do dia - depois que terminei minha série e me sentei sob o calor do sol de fim de tarde - fiquei pensando a vida... tem horas que penso naqueles objetivos que tinha traçado quando era outra pessoa, décadas atrás... quando se é jovem, os desejos e utopias são bem mais claros do que depois que ficamos velhos.
O que quero para esses dias? para fevereiro? para este ano? O que estou perseguindo agora? Vale querer o meu quadril de volta?
Queria e ainda quero um mundo mais justo para as pessoas. Saúde. Conhecimento e cultura. Amor. Ver as pessoas felizes (talvez até eu mesmo). Consideração. Me sentir parte de um projeto de mundo.
Caraca... pqp. Tenho a impressão que não vou alcançar meus objetivos...
(aquela cena do ciclista morrendo com um tiro por dois imbecis por causa de um celular... vai tomar no cu com esse mundo! Poderia ser eu ou você. Que merda de mundo é esse? Por causa de um celular?!)
Aí fico pensando se deixasse de existir de forma estúpida assim de um minuto para o outro... o que eu gostaria de fazer agora?
William
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