![]() |
Dom Quixote, do Centro Fidel Castro Ruz, Cuba. |
Refeição Cultural
“Y desta manera deshizo el agravio el valeroso don Quijote, el cual, contentísimo de lo sucedido, pareciéndole que había dado felicísimo y alto principio a sus caballerías, con gran satisfacción de sí mesmo iba caminando hacia su aldea, diciendo a media voz:
- Bien te puedes llamar dichosa sobre cuantas hoy viven en la tierra, ¡oh sobre las bellas bella Dulcinea del Toboso!...” (de “El ingenioso caballero don Quijote de la Mancha. Parte 1 [Spanish Edition]” por “Miguel de Cervantes”)
CAPÍTULO 4
"De lo que le sucedió a nuestro caballero cuando salió de la venta"
Seguindo na releitura de nosso cavaleiro andante Dom Quixote de La Mancha, em verdade o senhor Alonso Quijano, que depois de uma aventura futura será também conhecido como Cavaleiro da Triste Figura, neste capítulo vamos ver a primeira aventura do herói.
“No había andado mucho, cuando le pareció que a su diestra mano, de la espesura de un bosque que allí estaba, salían unas voces delicadas, como de persona que se quejaba; y apenas las hubo oído, cuando dijo:”Mal saiu da espelunca na qual foi sagrado cavaleiro pelo vendeiro, Dom Quixote e seu potente cavalo Rocinante (um pangaré, na verdade) vivenciam sua primeira chance de desfazer agravos e injustiças: encontram no caminho o jovem Andrés sendo açoitado por um vilão, sendo o vilão um lavrador de ovelhas que aplica um corretivo em seu empregado por ser displicente e perder uma ovelha por dia.
“-Gracias doy al cielo por la merced que me hace, pues tan presto me pone ocasiones delante, donde yo pueda cumplir con lo que debo a mi profesión, y donde pueda coger el fruto de mis buenos deseos. Estas voces, sin duda, son de algún menesteroso o menesterosa, que ha menester mi favor y ayuda.”Dom Quixote agradece aos céus pela oportunidade e intervém naquela cena. Manda o vilão parar com o açoite, pergunta por que o rapaz estava apanhando e após a explicação de cada um deles - o lavrador explica os danos que Andrés lhe causa com o rebanho e Andrés diz que o lavrador não lhe paga sequer o salário em dia -, o cavaleiro fica do lado do mais fraco.
“Y si queréis saber quién os manda esto, para quedar con más veras obligado a cumplirlo, sabed que yo soy el valeroso don Quijote de la Mancha, el desfacedor de agravios y sinrazones; y a Dios quedad, y no se os parta de las mientes lo prometido y jurado, so pena de la pena pronunciada.”Nosso herói escolhe a versão de Andrés, dá uma lição de moral no lavrador, que se chama Juan Haldudo, se apresenta como o famoso cavaleiro que é e manda que o lavrador pague o que deve ao rapaz.
Após o êxito de sua missão de desfazer agravos e injustiças, sobe em Rocinante e vai embora...
E aí? Sabem o que aconteceu depois com o pobre Andrés?
---
PELA HONRA DA BELA DULCINEA DEL TOBOSO
“Y habiendo andado como dos millas, descubrió don Quijote un gran tropel de gente, que, como después se supo, eran unos mercaderes toledanos que iban a comprar seda a Murcia. Eran seis, y venían con sus quitasoles, con otros cuatro criados a caballo y tres mozos de mulas a pie. Apenas los divisó don Quijote, cuando se imaginó ser cosa de nueva aventura; y por imitar, en todo cuanto a él le parecía posible, los pasos que había leído en sus libros, le pareció venir allí de molde uno que pensaba hacer; y así, con gentil continente y denuedo, se afirmó bien en los estribos, apretó la lanza, llegó la adarga al pecho, y, puesto en la mitad del camino, estuvo esperando que aquellos caballeros andantes llegasen (que ya él por tales los tenía y juzgaba);”
No capítulo, ainda tem a aventura seguinte, Dom Quixote encontra no caminho de volta a sua aldeia um grupo de mercadores de Toledo, exige que eles reconheçam a beleza sem igual de sua amada Dulcinea del Toboso e após um gozador do grupo perceber que o ancião é doido, tira um sarro da cara dele e enfurece o nosso herói.
Ao atacar os vilões, Rocinante escorrega e os dois rolam ladeira abaixo. Um dos empregados dos mercadores aproveita a condição do caído senhor Alonso Quijano e dá-lhe pauladas sem dó...
O moço quase o mata de pancada, mesmo com os mercadores dizendo que não fizesse aquilo por se tratar de um idoso sem juízo.
Essas foram as primeiras aventuras de Dom Quixote, conhecidas como a primeira saída de nosso cavaleiro andante.
---
COMENTÁRIO
Enquanto lia as desventuras do senhor Alonso Quijano, nosso eterno cavaleiro Dom Quixote de La Mancha, cavalgando pela Espanha em busca de oportunidades para desfazer agravos e situações injustas, ouvia as notícias políticas da semana no Brasil e no mundo.
A grande mídia divulgou nesta semana uma pesquisa que aponta queda expressiva na popularidade de nosso querido presidente Lula, uma das figuras mais importantes da história do Brasil e da classe trabalhadora brasileira.
Lula está em seu terceiro mandato presidencial, após ter sofrido um lawfare criminoso que o deixou preso numa masmorra por 580 dias sem crime algum. Lula é odiado pela casa-grande e seus ideólogos por querer melhorar a condição de vida do povo pobre e trabalhador do Brasil.
Fiquei pensando nas personagens Dom Quixote, o jovem Andrés e o patrão que açoitava o empregado displicente. E a forma como se deu a "solução" quixotesca daquela desventura. Pensei no governo Lula no contexto atual.
Dom Quixote teve uma atitude correta, na minha leitura. Ao ver um homem açoitando um rapaz sem camisa, mesmo após o patrão justificar que estava dando um corretivo porque seu empregado estava lhe dando prejuízo, mandou que as chicotadas fossem interrompidas imediatamente.
O cavaleiro estava de passagem, ouviu as duas partes, ficou do lado do mais fraco, mandou que o senhor pagasse o que devia ao empregado, e seguiu seu caminho em busca de mais injustiças a corrigir.
Dom Quixote confiou "no sistema", na palavra do dono do rebanho de ovelhas ("empresário"), que teria que cumprir com sua promessa. Era uma questão de honra cumprir o apalavrado. Assim mandavam os costumes da cavalaria andante. Eram as regras.
Acontece que assim que virou as costas, o patrão se viu novamente na condição anterior, secular, da lei dos mais fortes e dos donos do poder, ele e o rapaz achariam a solução entre os dois (a livre iniciativa), e Juan Haldudo deu uma sova tão grande no pobre Andrés que este quase morreu...
Me digam se essa não é a realidade em cada esquina do nosso imenso Brasil.
De que adianta hoje um governo simpático ao povo trabalhador, que tenta conciliar as relações entre capital e trabalho, um governante que me parece um cavaleiro andante solitário tentando desfazer agravos e injustiças num mundo dominado por um Congresso todo de representantes dos patrões, dos caras das bancadas da bala, do boi e da bíblia, e do agro, sem sensibilidade alguma para os milhões de Andrés? O povo tem conseguido perceber melhorias em sua vida? Como reduzir o preço dos alimentos?
E os milhões de Andrés, como bem explica o sociólogo Jessé Souza, em sua tese sobre o Coringa e a vingança dos humilhados, são os miseráveis ressentidos que só sabem que estão se f... e que querem se vingar das injustiças do sistema que os humilha e derruba... presas fáceis para os manipuladores que conseguem impor suas versões das causas da realidade miserável...
Andrés, o personagem, vai culpar o Quixote por seus infortúnios. Tá na cara isso!
Assim estamos no mundo, independente dos acertos e erros de nosso governo. Temos avanços importantes para o povo e mesmo os avanços não são percebidos porque tem muita sacanagem dos poderosos contra nós. A vida em cada esquina tá uma merda! Estamos sozinhos contra esses fdp da casa-grande e sua violência tanto física quanto psicológica.
Eu tenho escrito sobre minhas impressões de mundo atual pós advento das plataformas das big techs e sua capacidade de manipular sentimentos e comportamentos humanos. Fomos alterados por essas máquinas, não somos mais os mesmos. Pioramos como seres humanos. Pioraram a gente. Para o lucro dos donos das big techs.
Mesmo que Lula entregasse avanços e conquistas como política de governo, a população será levada a sentir-se como se no Haiti estivesse. As plataformas têm poder para isso. Ouçam o que estou dizendo faz tempo! É a pós-verdade!
É isso. É uma leitura minha de leitor e de político.
Faz anos defendo que os países e os governos progressistas criem suas próprias plataformas nacionais de comunicação e também defendo que Lula fale diretamente com o povo diariamente, como AMLO e Claudia Sheinbaun no México.
Nosso governo e a esquerda precisam fazer algo diferente do que faziam antes, os tempos e as condições são outras.
Por fim, precisamos de unidade na esquerda! Unidade! Os inimigos são poderosos! E não estão para brincadeira.
William
Post Scriptum: o texto anterior sobre Dom Quixote pode ser lido aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário