Refeição Cultural
Osasco, 18 de fevereiro de 2025. Terça-feira.
Defini algumas tarefas como prioridades a serem feitas no momento. Organizar ou sistematizar toda a produção textual que criei em meus blogs nas duas últimas décadas é uma delas. Fazer a revisão final dos textos do livro de memórias é outra das tarefas.
Quero revisar os textos do livro e devolver o material para a editora ainda neste mês de fevereiro. Já revisei 14 capítulos e um livrinho extra incluído no final. Faltam 25 capítulos. Vou cumprir o prazo que estipulei a mim mesmo.
A impressão de algumas unidades é para tentar salvar a história da qual fiz parte. Não sabemos até que dia minha história estará no mundo virtual, nas nuvens.
Um dos capítulos mais emotivos do livro é o capítulo 13, no qual relembro meus trinta anos de trabalhador da categoria bancária e meu processo de politização por ter dado ouvido ao pessoal do sindicato. O texto pode ser lido aqui.
A revisão e organização dos milhares de textos dos blogs é um trabalho de bastante fôlego. Escrevi bastante nesta vida. E escrevi sobre muitos temas nas últimas duas décadas. Farei uma impressão sistematizada da produção textual. Os cadernos farão parte do meu centro de documentação (cedoc) ou acervo histórico, político e cultural.
Começa a ficar mais claro para mim o que me resta fazer neste momento de minha existência. Entendo que o conteúdo textual que produzi nessas duas décadas deve ser preservado de alguma forma porque eu participei da história do Brasil, assim como muitas outras pessoas participaram. E a história está sendo apagada e recriada de forma cínica, mentirosa e como projeto de revisão narrativa de nosso mundo.
Durante as duas décadas nas quais tive mandatos eletivos e tarefas destacadas a cumprir no movimento de luta da classe trabalhadora, sempre me martirizava querendo fazer mais, estar em mais lugares ao mesmo tempo, me dividir mais para ser alguém da teoria e da prática. Meu corpo sentiu e agora veio a cobrança.
Ao mesmo tempo em que produzia textos, revistas, estudos profundos, queria estar nas atividades de rua, piquetes, manifestações etc. Passei a vida militante assim, sem dormir, para cumprir mais tarefas do que aguentava acumular. Basta ver o quanto fiz base sindical sendo dirigente de instâncias executivas e decisórias. Era o correto a fazer.
Após 2018, as mudanças em minha vida foram exponenciais. Saí da vida bancária sofrendo um processo de lawfare, sem despedidas, sofrendo em silêncio. E eu fiquei perdido como cachorro que cai do caminhão de mudança. Talvez até poderia me imaginar como um cachorro enganado pelo dono, largado pelo caminho de forma proposital, para não ser levado.
Enfim, nos últimos cinco anos, defini que seguiria participando de todas as lutas populares nas ruas, sem protagonismo, como mais um, fazendo volume, sem mandato e sem representar ninguém. Fiz as campanhas eleitorais e militei nos movimentos da região onde vivo até meses atrás, participando da campanha de vereança e prefeitos. Mesmo com algum sofrimento.
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Tenho a impressão que não perdi toda a experiência política que adquiri na vida militante. Ao retomar as ruas nos últimos três anos, o contato com o povo brasileiro, não senti dificuldade.
Ao voltar a escrever depois de um período de silêncio após o lawfare que montaram para me destruir, também consegui produzir textos com conteúdo relevante.
E, então, percebo neste momento os mesmos sinais que vi como dirigente nacional da classe trabalhadora uma década e pouco antes: estamos à beira de uma tragédia nacional e global, uma volta potente da violência nazifascista que vai nos aniquilar e inviabilizar o ambiente no qual vivemos.
E nós, como estamos?
Como sempre vi, como sempre soube estudando história, cá estamos nós todos divididos, cada esquerdista na sua bolha, no seu buraco, na sua arrogância, no seu pequeno feudo de micropoderes... vamos ser arrasados sem a menor resistência, com a desunião e-t-e-r-n-a da esquerda.
Ao ver as disputas internas e fratricidas nos grupos virtuais nos quais estava, fiquei tão cheio do repeteco daquilo que saí de quase todos os grupos nos quais estava. E nos poucos que ainda estou, é de dar dó o nível de desagregação nas questões mais comezinhas.
Brasil247 brigando com ICL, carta do advogado Kakay dividindo a esquerda que apoia Lula, o tal do Gonet liberou a tal acusação do desgraçado do Bolsonaro após um século...
Enquanto rola essa merda toda, a organização internacional da extrema-direita vai chegar arrebentando a gente e vamos estar menos preparados do que no golpe contra a Dilma e a prisão de Lula.
Que saco tudo isso.
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Vou tentar organizar uma fração ínfima de nossa história, daquela que participei e que será vaporizada com tudo que pode ser vaporizado a qualquer momento neste mundo instável, em desfazimento.
William
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