Refeição Cultural
No romance, estou numa parte na qual parece ser o fim para o senhor Barnstaple, ele está numa reentrância na rocha em um penhasco. Abaixo, o desfiladeiro, acima, rochas por onde escorregou até ali, fugindo de seus pares terráqueos. Ele avalia que as opções nessa situação são duas: esperar a morte por inanição ou se jogar para a morte.
Estou com as palavras do professor Domenico de Masi circulando pelas sinapses de meu cérebro criador de tudo. Vi uma aula dele sobre o tema "O ócio criativo" (no ICL). Ele explica sobre o trabalho, seu objeto de análise e estudos por décadas.
Nas minhas reflexões, me lembrei do sofrimento que o trabalho significou em minha vida. Vejo a trabalhadora limpando a piscina, trabalhando, e me lembro do meu primeiro dia como ajudante de encanador antes dos dezesseis anos... depois me lembro daquelas latas de palmito podres que tinha que abrir pra jogar fora... Temos que trabalhar para sobreviver.
De Masi nos conta que por milênios, o trabalho não tinha essa interpretação recente de "dignificar" o homem (mulher nem era considerada em relação aos direitos nos mundos dos homens). Trabalhar era castigo divino, era para escravizados. Dignificar os homens era através da filosofia, da arte, do belo, dos esportes e da gestão da Pólis.
Esse papo de trabalhar dignifica o homem veio dos últimos dois séculos, da era industrial. Locke, Smith e Marx mudaram o olhar sobre o trabalho. Segundo De Masi, desde sempre (milhares de anos de homo sapiens), nosso objetivo foi trabalhar pouco ou não trabalhar.
Isso me parece ter todo o sentido!
Agora temos máquinas e tecnologias para livrar a espécie humana da maior parte do trabalho ruim, insalubre, de risco e humilhante. E também de trabalhos mais considerados pelas sociedades. Poderíamos viver para o belo, para estudar e criar, para a cultura. Mas 99% estão no "corre" por um trabalho qualquer, até por um prato de comida, e 1% acumula tudo.
Pior: isso é normalizado!
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Confesso que estou tão cansado quanto meu corpo, que cansou de sobreviver dez anos a mil.
Por consciência, busco sentidos. Mas confesso que está difícil encontrar sentidos.
Me despeço amanhã do paraíso, da singela colônia de férias dos professores na Praia Grande.
Voltarei para o caos.
Will i am
15/07/25
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