Refeição Cultural
Livro: Educação ambiental anticapitalista: produção destrutiva, trabalho associado e agroecologia, de Henrique Tahan Novaes
Leitura de excertos: Prefácio, Apresentação e Conclusões do livro
Objetivo: textos de apoio para o curso de extensão "Como impedir o fim do mundo: colapso ambiental e alternativas", ministrado pela Unesp e demais parcerias
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A postagem é uma espécie de resenha ou fichário do leitor do texto, o autor do blog. Qualquer equívoco na interpretação é de inteira responsabilidade do blog.
Algumas palavras-chave ou ideias que gostei durante a leitura do texto e que me fizeram refletir a respeito:
No "Prefácio" de John Bellamy Foster
- Pedagogia do capital x pedagogia do trabalho: interessante percepção de que há dois projetos educacionais opostos em nossa sociedade humana: uma pedagogia da deseducação x uma pedagogia da emancipação pelo trabalho social
- Travar a luta de classes do ponto de vista ecológico é uma perspectiva necessária para nós das classes oprimidas, sem recursos e periféricas
Na "Apresentação"
- O livro de Novaes socializa com os leitores as experiências bastante exitosas do MST no campo da agroecologia e cooperativismo
- Os resultados das experiências do MST são muito promissores em diversas áreas de interesse social como, por exemplo, soberania alimentar, igualdade de gênero e alimentação sustentável e saudável
- Os objetivos e resultados na forma de utilização do meio ambiente por experiências como a do MST se contrapõem ao modo capitalista do agronegócio destrutivo e com foco no acúmulo de riqueza por parte dos poucos donos das terras
- O domínio econômico e financeiro da questão agrária no Brasil faz com que se pareça impossível escapar da lógica do "sociometabolismo do capital", que apresenta uma suposta "Revolução Verde" como a única forma possível de produção no campo. É como se não houvesse saída ao modelo brasileiro exportador de commodities
- O autor nos apresenta a "Pedagogia da alternância" das escolas do MST, uma lógica alternativa de auto-organização por parte dos alunos, diferente das tradicionais pedagogias das escolas públicas do Estado e das escolas privadas, com suas ideologias ecocapitalistas de "desenvolvimento sustentável"
- Novaes faz um alerta: mesmo nos espaços do movimento agroecológico tem havido a influência das ideias economicistas e burocráticas do modelo hegemônico do capitalismo do agro. Há riscos constantes de cooptação pelos donos do poder do capital
- As condições atuais oriundas da crise climática e das contradições da atual fase do capitalismo podem facilitar a reflexão que contraponha o modelo através do ecossocialismo
- As experiências do MST são importantes para avaliarmos alternativas ao sistema hegemônico, os trabalhos associados e a economia comunal como modelos de produção são experiências exitosas para serem estudas e praticadas
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"O MST é um dos movimentos sociais mais importantes da atualidade porque consegue combinar inúmeras lutas: a luta pelo direito à terra com as lutas ambientais, as lutas pelo direito ao trabalho não explorado com as lutas pelo direito a vida, as lutas internacionais com as lutas nacionais, a luta imediata com a luta por outra sociedade, a luta de classe com a luta de gênero. Sua defesa da agroecologia se diferencia das propostas ecocapitalistas e das propostas que esbarram no desenvolvimento sustentável. Esperamos, então, poder mostrar aos leitores e leitoras algumas das dimensões dessa luta."
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- Desde os anos sessenta, os ditadores e a casa-grande brasileira se basearam em diversas formas de manipulação comunicacional para avançar na destruição capitalista dos biomas brasileiros: "nova fronteira agrícola" e "Integrar para não entregar" foram motes para destruir as áreas ambientas do Oeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país. A moda atual é a tal "Revolução Verde"...
- O período denominado "redemocratização" foi corretamente (na opinião do blog) chamado por Florestan Fernandes (1986) de "institucionalização da ditadura". Nos governos civis de Collor adiante, o que se vê é violência e morte no campo, incluindo os governos de Lula e Dilma
- Intelectuais como David Harvey (2013) e Jean Ziegler (2013) apontam o Brasil como o maior palco atual de "acumulação primitiva" do capital no cercamento e apropriação de novas terras virgens pelos capitalistas. Além da concentração fundiária, o desemprego no campo chegou a um milhão de pessoas
- A destruição do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) durante os governos Temer-Bolsonaro trouxe consequências drásticas na área da educação no campo
- A batalha ideológica do capital contra a classe trabalhadora ganhou novas ferramentas na atualidade. Além das mídias tradicionais, que já era toda dos capitalistas, agora temos as plataformas digitais - as big techs -, reforçando a manipulação das massas humanas exploradas
- Contrarrevolução no mundo do trabalho: além das tradicionais formas de exploração, temos a pejotização e plataformização do trabalho, do tipo uber, que aumentam assustadoramente a acumulação capitalista dos donos dos meios e criam uma multidão de miseráveis sem direito a nada. As pessoas são "empreendedoras" sem recursos para empreender...
Nas "Conclusões" (resumo do blog, nas minhas palavras)
- O MST é considerado um movimento bem completo do ponto de vista da Teoria dos movimentos sociais. Busca um outro modo de produção, uma espécie de ecossocialismo, uma alternativa de sociedade humana para além do capital
- A partir da luta pela terra, o MST proporciona outras formas de lutas como, por exemplo, pela igualdade de gênero, por uma educação autônoma e emancipadora, pela soberania nacional etc
- A política de assentamentos também tem suas contradições práticas, tendo como resultado, às vezes, processos de loteamento focados em indivíduos mais que em dinâmicas coletivas de produção, havendo parcerias mais na comercialização dos produtos
- A ideia de agroecologia evoluiu no MST a partir da parceria com a Via Campesina
- O Brasil é um dos países-chave na lógica da "Revolução Verde" desde a ditadura empresarial-militar dos anos sessenta adiante, incluindo o período de "redemocratização". Com as monoculturas de commodities, saem perdendo o meio ambiente e a população com aumento de agrotóxicos, fome do povo e acumulação de riqueza de poucos
- A concepção de agroecologia pode avançar ou pode ser cooptada, ela está em disputa com o grande capital e seus latifúndios
- As escolas de agroecologia são estratégicas para o MST para se contraporem à lógica do "desenvolvimento sustentável" e "Revolução Verde" do modo capitalista. Uma educação para além do capital
- Em relação à educação e escolas de agroecologia, por pressão dos movimentos, no final do governo FHC surgiu o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), que foi mantido pelos governos do PT, com recursos públicos. As escolas não receberam mais apoio governamental a partir de Temer e Bolsonaro. No governo Lula 3 as escolas vivem situação bastante difícil, devido à frente amplíssima (segundo o autor)
- A agroecologia é um fenômeno marginal e poderia ser ampliado. Porém "Como não poderia deixar de ser, num país de enorme concentração fundiária – que resulta em enorme poder dos proprietários de terras e das corporações transnacionais da 'revolução verde', a agroecologia como parte das lutas dos movimentos sociais não é bem-vinda."
- Existe forte contradição em relação à produção e consumo dos alimentos da agroecologia: as classes médias consomem os produtos, mas votam na extrema-direita e são contra o movimento MST. As massas populares não consomem os produtos por serem mais caros por falta de escala.
- Temos que acabar com o capitalismo antes que o capitalismo acabe conosco. É uma das conclusões importantes do livro.
Leitura feita por:
William Mendes
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